"O meu único crime naquele comentário foi o de ter dito a verdade".
E repeti:
"O meu único crime foi dizer a verdade".
A verdade...se há enigma intelectual que, ao longo da minha vida, mais anos me custou a resolver, dizia respeito à verdade. E não era um enigma abstracto. Era bem concreto. Referia-se àquele momento em que Pilatos se dirige a Jesus, e pergunta
"Que é a verdade?",
e ele não responde.
Inicialmente, não conseguia compreender por que é que Cristo não respondeu, se eu próprio conseguia imaginar facilmente várias respostas possíveis, e todas elas convergentes:
-A verdade é Deus;
-A verdade sou eu;
-A verdade está à tua frente.
Mais tarde, apercebendo-me que os silêncios de Cristo são, às vezes, mais importantes que as suas próprias palavras, enveredei por esta via. Mas iriam passar anos até chegar à resposta. Que, afinal, estava mesmo ali debaixo dos olhos.
O versículo completo é o seguinte:
"Disse-lhe Pilatos: Que é a verdade? E, dizendo isto, tornou a ir ter com os judeus, e disse-lhes: Não acho nele crime algum." (Jo:18:38)
Jesus não respondeu porque Pilatos não queria saber da resposta, tanto assim que fez a pergunta e desandou imediatamente.
Ele queria lá saber da verdade ... ele acreditava lá na verdade...a verdade não existe...
O Estado Romano era um Estado pagão mas Pilatos antecipou a atitude do moderno Estado laico. O Estado não tem religião, nem se rege por valores religiosos, e os agentes do Estado agem como se Deus não existisse (Etsi Deus non daretur). A Verdade não interessa para nada.
Falei de olhos postos na juíza que sempre me escutou respeitosamente. Não posso avaliar a reacção às minhas palavras por parte das outras pessoas presentes quando disse, e repeti, que o meu único crime tinha sido o de dizer a verdade.
Mas hoje creio que nesse momento alguém estaria a sorrir na sala.
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