22 janeiro 2017

Logos

A mãe dos sete filhos contempla-os e cada um deles é, para ela, um bem. Reconhece que não foi ela que os fez - não saberia fazê-los, apenas serviu de intermediária nesse processo.

Alguém os há-de ter feito, e alguém dotado de razão, porque todos os seus órgãos se conjugam harmoniosamente nos seus corpos e concorrem para o mesmo fim - permitir-lhes viver.

Ela provavelmente contempla outros elementos da natureza, como o sol ou o ar. Os filhos precisam de calor para viver e o sol fornece-lhos na medida adequada. Imagine-se o que seria se o sol aquecesse a terra com temperaturas entre 500 e 700 graus centígrados...

Os filhos também precisam de oxigénio para viver. Então e não é que o ar também lhes fornece oxigénio na medida adequada? Imagine-se o que seria se o ar não tivesse oxigénio ou fosse 100% composto por oxigénio.

Quem criou os filhos dela também criou os outros elementos da natureza, como o sol, o ar, os mares, as florestas, os outros animais, de modo a harmonizá-los com eles num todo racional e concorrendo para o mesmo fim - permitir-lhes viver.

Este Criador não é apenas racional para com os seus filhos e para com ela. É também bondoso, tem-lhes amor, labora para o seu bem.

É esta Razão criadora, guiada pelo Amor e orientada para o Bem, que se exprime através da Palavra (Verbo) - uma Palavra falada (mais do que escrita) e em diá...logo - que constitui o Logos, a verdadeira Razão, que é também a Razão de Deus.

O Logos é, ao mesmo tempo, Palavra, Razão e Amor, como muito bem interpretou um comentador da obra de Joseph Ratzinger. Mas eu acrescentar-lhe-ia um outro elemento - Autoridade (pessoal) - porque essa Palavra (Diálogo) não se desenvolve entre dois iguais. É de cima para baixo.

No princípio existia o Verbo [Logos, no original grego];
o Verbo [Logos] estava em Deus;
e o Verbo [Logos] era Deus.
(Jo 1:1)

A Razão e o Amor do Logos estão certamente no episódio da mãe dos sete filhos tratado em cima. Mas a Palavra - a Palavra de Deus para completar o Logos - onde é que ela está?

A Palavra de Deus é a mãe que a exprime. Está nas palavras da mãe. É uma Palavra que provém da Autoridade (Deus) e que se exprime através de uma autoridade - a mãe.
 


2 comentários:

Ricciardi disse...

O Deus descrito é o Deus das lacunas. Atribui-se a esse Deus tudo aquilo que tem défice de explicação racional. O conceito de Deus foi evoluindo na medida em que foi evoluindo a ciência. Deus já foi o Sol, a lua, o vento. Já houve deuses para todos os gostos.
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Se se viesse a descobrir que, afinal, a humanidade e a bicheza na terra são produto de intervenções alienígenas, uma espécie de experiência cientifica, poderíamos concluir que estivemos a rezar e a adorar aliens criadores.
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Intuo,porém, que deve haver uma Força criadora. Uma ou várias. Não sei se é um ser moral, que tem amor pelas coisas criadas, se ouve preces etc, mas sei que é um ser inteligente. Um ser que terá criado aliens que nos terão criado. :)
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E essa é a única certeza que tenho.
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Eu tenho fé na existência dessa Força. É só consigo explicar esta minha fé porque desconheço outras hipóteses para justificar o início dos tempos.
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Rb

Anónimo disse...

Pedro Arroja: segundo Ratzinger (o complicadinho) Logos, em Grego Antigo, tinha duas 'tonalidades' — Palavra e Razão.
Acho que a Razão é mais frutuosa para um Criador.
Pode palavrear mas, antes, Pensou.