Nesta figura está representada a relação entre a razão científica ou kantiana - o pequeno círculo, a verde, região B - e a verdadeira razão - o Logos de que fala o Papa Bento XVI -, representada pelo grande círculo que contém o anterior.
A questão prende-se com a região a vermelho (região A), que é considerada o domínio da fé. O trabalho teológico de Bento XVI dirigiu-se sobretudo à demonstração de que essa região da fé (região A, a vermelho) é complementar da razão científica (região B, a verde) para se chegar à verdadeira razão (Logos, o grande círculo).
Mas ele fez mais. Imaginou a razão científica desinserida da verdadeira razão (Logos), isto é o pequeno círculo vivendo autonomamente e desenquadrado do grande círculo. Neste caso - se eu interpreto bem as suas conclusões - a razão científica ou kantiana torna-se o diabo à solta.
Nós hoje sabemos um pouco mais - graças à ciência - do que a mãe dos sete filhos sabia na altura. Sabemos com maior precisão como se faz um ser humano, juntando um óvulo e um espermatozoide. A fórmula é:
um espermatozoide + um óvulo = um ser humano.
O que nós continuamos sem saber, e a ciência não explica, é quem inventou esta fórmula (1). Em relação a esta questão o progresso da ciência foi zero. E continuamos sem saber, como a mãe dos sete filhos não sabia, por que é que os diferentes órgãos se dispõem de forma harmoniosa na configuração que conhecemos do corpo humano, e não numa outra configuração, entre a infinidade de configurações diferentes que seriam possíveis.
Há quem diga que é o acaso - uma posição expressa de forma clássica por Jacques Monod no seu O Acaso e a Necessidade.
Segundo esta posição é um produto do acaso um ser humano ter o cérebro na cabeça e o ranho no nariz. Quem o diz só pode ter ranho na cabeça e o cérebro no nariz porque, à luz dessa disciplina científica chamada Teoria das Probabilidades, esta combinação é tão provável como a anterior - ou como os milhões de outras combinações onde seria possível colocar o cérebro, por um lado, e o ranho, por outro.
(1) Pelo contrário, sabemos perfeitamente, por exemplo, que na Ciência Matemática, e em relação a um triângulo rectângulo, a fórmula:
primeiro cateto ao quadrado + segundo cateto ao quadrado = quadrado da hipotenusa,
foi inventada (descoberta) pelo Pitágoras.
4 comentários:
Andámos anos até nos entendermos nesta questão
";O)
É isso mesmo.
A fé não é fruto da razão. Se fosse os cientistas e filósofos tinham-na de sobra.
.
Rb
Não têm de a não ter. O que pode acontecer é a fé estar deslocada. Nesses casos tornam-se cientóinos porque atribuem capacidades metafísicas à Ciência.
A Filosofia permite mostrar como a fé é uma questão de capacidade da razão humana. E foi a Filosofia que formulou teoricamente as questões às quais a religião monoteísta dá expressão por devoção.
Só os materialistas básicos não entendem isto mas esses são maus filósofos.
Ò Arroja, discutir Filosofia ou Kant a partir das opiniões desse tal Hayek (guru dos neoliberais) só pode conduzir à asneirada. Kant nunca disse que Deus e a imortalidade são questões fora do domínio da razão, pois é falso que para ele a razão se reduza ao pensamento científico. Tanto Deus como a imortalidade são dois postulados da razão prática, que como a expressão indica é também razão. E quem não percebe isto é natural que fique preso às concepções metafísicas medievais e que pense que Deus é uma questão que se resolve através de argumentos racionais(ontológicos, cosmológicos ou teleológicos) que provariam a sua existência. A Filosofia não acaba (nem começa) na Idade Média. Depois dessa época muita água correu por debaixo da ponte, deus morreu, e toda a ontoteologia foi desconstruída. E esse tal de Hayek não tem qualquer relevância no desenrolar da História da Filosofia...
Enviar um comentário