O FRACASSO DA TERCEIRA VIA – II
A proposta era aliciante, colher os frutos da globalização ao mesmo tempo
que se preservavam os valores da social-democracia (a Comunidade, a
Oportunidade, a Responsabilidade e o Rigor – CORA em inglês), na perspetiva do
Anthony Giddens (AG).
O que fracassou, porém, nestes últimos 20 anos? Por que razão o sonho não se cumpriu?
Se me permitem uma metáfora, foi porque se “injetaram esteroides nas empresas globais e se manietou a iniciativa
individual a nível nacional”, desequilibrando a balança a favor das
entidades supranacionais em detrimento das locais.
Os acordos económicos, a livre circulação de capitais e pessoas, são o
terreno ideal para as multinacionais e basta ver como estas cresceram, em 20 anos,
para apreciar o resultado – foram os tais “esteroides”.
As economias de escala que geram, contudo, penalizam as empresas locais e
dificultam a tarefa dos empreendedores. Muitos passaram de patrões a empregados
dessas mesmas multinacionais.
Por outro lado, as multinacionais
escapam facilmente ao fisco, através das suas complexas teias, selecionando
as jurisdições fiscais que mais lhes convêm. Os locais, sem esta possibilidade, arcam com taxas que não os deixam
ser competitivos.
Por fim, e com o propósito de preservar os tais valores do centro-esquerda,
o Estado “3ª via” opera um transvase
enorme de recursos, dos produtores (nacionais, claro) para os consumidores
que, por sua vez, vão engrossar as receitas das multinacionais – chegaria a ser
irónico se não fosse trágico.
Os recursos redistribuídos pelo Estado não contribuem, porém, para a coesão
da comunidade, nem para mais e melhores oportunidades, nem para maior
responsabilização. Porque perpetuam dependências e vidas sem propósito e sem
possibilidade de singrar no seu próprio país. O elevado desemprego juvenil, em
quase todo o mundo Ocidental, é a prova deste facto.
As migrações, a precaridade laborar e a insegurança, são outros fatores, a
somar aos já enunciados, que contribuem para uma insatisfação profunda que está
a alimentar a demagogia e os populismos.
Os mentores do Brexit, o Sr. Trump e a Srª Le Pen, não são liberais nem
neoliberais, nem sequer amigos da liberdade. São pessoas que veem oportunidades
onde “o sonho de alguns se está a tornar no pesadelo da maioria”.
Para ultrapassar esta onda de demagogia e populismo é preciso denunciar o
falhanço da 3ª via e propor alternativas.
No próximo post é o que farei.
2 comentários:
> nem sequer amigos da liberdade.
Ah, era bom, era.
Isso da liberdade foi a corda que os aristocratas puseram no gado, e tão cedo ninguém a tira.
Caíam o Carmo, a Trindade e os monumentos todos até às pirâmides. Nunca, em tempo algum.
Trump e os mentores do Brexit são contra a elite globalista ocidental, o que faz deles heróis da liberdade, não é à toa que chamam ao dia do Brexit o novo dia da independência. Economicamente sim, são liberais clássicos e não neoliberais estilo Bill Clinton que vocês tanto amam, talvez por ter arrastado tantos posto de trabalho dos EUA para o México(através da NAFTA) e outros países, já que odeiam o próprio conceito de Estado Soberano(até porque não vivemos num).
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