O FRACASSO DA TERCEIRA VIA - I
A terceira via (3ª via) é um movimento que se iniciou no começo dos anos
90, nos EUA, como resposta às políticas de Ronald Reagan. Os seus principais
protagonistas políticos foram o presidente Bill Clinton (1993 a 2001), nos EUA,
e o primeiro-ministro Tony Blair (1997 a 2007), no RU.
Em 1998, o sociólogo Anthony Giddens (AG), publicou o best-seller “The
Third Way” que se tornou a referência doutrinária por excelência, deste
movimento, e a que recorro como principal ferramenta de análise.
O que é, em síntese, a 3ª via?
É a resposta política da social-democracia à globalização, reconhecendo
esta enorme oportunidade de criação de riqueza, mas sublinhando a necessidade
da intervenção do Estado para garantir um conjunto de valores fundamentais para
o centro-esquerda.
Valores que AG destacou como sendo a
Comunidade, a Oportunidade, a Responsabilização, e o Rigor (Accountability).
CORA, em inglês.
AG sublinha, porém, que a intervenção do Estado não deve ficar submetida a
ditames ideológicos. Nomeadamente no fornecimento de serviços que podem ser
disponibilizados pelo sector privado.
Para AG, a sobrevivência da social-democracia dependia também da própria
reforma do Estado que necessitava de se libertar de interesses particulares, de
se desburocratizar e de descentralizar.
Quase 20 anos após a publicação do “The Tird Way”, é possível fazer um
balanço?
As democracias Ocidentais beneficiaram com a globalização, preservando os
seus valores e a soberania das suas populações?
Limitando-me a um certo consenso posso responder afirmativamente ao
primeiro quesito – sim, beneficiaram com a globalização. Mas à custa da
subversão dos valores que procuravam preservar e de uma importante perda de
soberania popular que se manifesta agora por uma rejeição da própria globalização.
Rejeição que se evidenciou, da forma mais contundente possível, com o Brexit.
Neste sentido, a 3ª via fracassou brutalmente.
As comunidades perderam coesão
social. Há menos oportunidades, especialmente para os jovens. E não há
responsabilização, nem rigor, nas instituições que suportam o tecido social.
Este fracasso abriu as portas à demagogia e ao populismo que, neste
momento, ameaçam as democracias liberais e capitalistas que se supunha serem o
“Fim da História”.
Por este motivo, é essencial tentar compreender as razões deste fracasso;
como foi essencial, no passado, perceber as causas do fracasso do comunismo.
Os defensores da globalização, entre os quais me conto, têm obrigação de
proceder a esta análise, sob pena de regressarmos a nacionalismos serôdios e a
políticas mercantilistas que julgávamos extintas.
No próximo post irei expor o que, no meu entender, são as causas do
fracasso da 3ª via.
2 comentários:
Não dá para passar esse texto por um notepad antes de colar no editor do blogger?
> "Os defensores da globalização, entre os quais me conto"
Injectam para a veia a caninha rachada do Lennon a ganir "Imagine ... Nothing to kill or die for And no religion too" e ficam cheios de orgulho no progresso, e nem percebem o pesadelo que compraram.
Quando reduzirem tudo a uma massa amorfa de "elementos" intercambiáveis, cuja cultura é a última série de TV que viram, depois vêm aqui gemer que não era bem isso que queriam.
Mas vai ser tarde demais. O problema não são os meios, são os objectivos. Larguem o charro do progresso, gaita.
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