Eu gostaria agora de chamar a atenção dos economistas que frequentam este blogue para a configuração económica da obra do Joãozinho, que está resumida aqui.
Aquilo que os economistas aprendem e ensinam nas Faculdades de Economia é protestantismo económico, seja na variante calvinista (capitalismo), seja na variante luterana (socialismo). Trata-se, portanto, de conhecimentos que não se ajustam a Portugal porque a cultura portuguesa é católica.
Na realidade, não existe um pensamento económico católico, nem sequer um Prémio Nobel da Economia nos países católicos do sul da Europa ou da América Latina. É altura de desenvolver esse pensamento e o Joãozinho é um case-study do pensamento económico católico.
Existem três mecanismos de afectação dos recursos: a dádiva que se exprime sobretudo na família; o interesse-próprio, que se exprime no mercado; e o poder, que se exprime no Estado.
O capitalismo (calvinismo) ordena-os assim, por ordem decrescente de importância: interesse, dádiva, poder. O socialismo: poder, interesse, dádiva. E, finalmente, o catolicismo: dádiva, interesse, poder.
Ora, a obra do Joãozinho é tipicamente católica porque assenta em primeiro lugar na dádiva, assumida pelos mecenas.
A Igreja Católica nunca subscreveu por inteiro nem o capitalismo nem o socialismo porque entende que as relações humanas não podem ser governadas em primeiro lugar - muito menos exclusivamente - pelo interesse próprio ou pelo poder.
Mas a Igreja aprovaria certamente a presença da muito capitalista empresa Continente no Joãozinho porque o Continente não está ali somente a cuidar dos interesses dos seus accionistas, está também, ao mesmo tempo, a promover o bem-comum - um hospital pediátrico que é para todos.
Uma das características fundamentais da cultura católica é o seu carácter universal e, portanto, não-exclusivo. E, na realidade, no Joãozinho ninguém fica de fora, entra quem quer e que venha por bem - pessoas individuais, empresas nacionais e estrangeiras, Estado, fundações, misericórdias, o rico que pode contribuir com 10 mil euros e o pobre que pode contribuir com dez cêntimos ou em trabalho.
Os contributos são também da mais variada espécie, nada está excluído: há quem contribua com dinheiro, outros com materiais, o Estado com um terreno, o Continente com o know-how do seu negócio, etc. E todos os que contribuem convergem no mesmo objectivo de servir o bem-comum, formando uma verdadeira comunidade.
Criam-se empregos, promovem-se empresas, faz-se um hospital de crianças sem sobrecarregar ninguém porque, quando todos estendem uma mão, o produto final não custa nada a ninguém.
O Joãozinho não é capitalismo puro, embora este também lá esteja, e muito menos socialismo, embora o Estado esteja presente. É catolicismo puro, livre iniciativa orientada para o bem-comum, estando o bem privado também presente, mas de uma forma subordinada..
23 comentários:
Em suma, o Continente adquire um espaço para um novo supermercado e, em vez de pagar o terreno ao estado (ou hospital) duma só vez, paga-o às prestacoes, à razão de 300 m euros por ano. Contudo, em vez dessas prestacoes entrarem nos cofres públicos, são pagas a uma associação de beneficência.
.
Para perceber se o termo mecenas-continente é apropriado, faltaria saber o valor do terreno que o supermercado vai ocupar para, em função disso, perceber se há mecenato (dádiva) ou negócio (interesse próprio).
.
Não obstante, nem só do negócios ou dadiva do continente viverá o projecto. Ao que parece há outros mecenas. Assim, se realmente o projecto é vital para a cidade é norte, parece-me q o estado facilite e ceda e deixe andar.
1- Associação de benificiência constituída como IPSS que não promove qualquer assitência ou trabalho relacionado com a saúde. Apenas angaria fundos.
A associação receberia pagamento dos terrenos do Hospital tutelados pelo Estado(sem fazer parte do Hospital) nem ter autorização ministerial para nada disto.
Se assim é- tem de haver escritura entre hospital, ministério e Continente. O resto continua a ser ao lado.
Em 2007 vendeu marketing por 12 milhões. Quando passou a bola nem 1 existia.
Agora empurra-se com a barriga e já se quer construir supermercado no hospital à conta do marketing e sem haver proprietário privado à frente de nada.
Mas o Continente (Sonae) não é um fruto da dádiva. É um negócio. É preciso primeiro criar riqueza, ou não? Sem riqueza (dinheiro, bens) não há dádivas deste tipo. Ou seja, sem o Continente (ou outro, ou outros) não há Joãozinho. A menos que o estado (todos nós) pague tudo. Ou então temos um Joãozinho mais pobrezinho. Percebo a ideia da dádiva, só não percebo como pode estar antes do interesse próprio. Não devia ser em paralelo? Ou seja, vou criando riqueza e vou praticando a dádiva (sustentada).
Claro que é primeiro na dádiva. Andam há perto de uma década a pedir e ainda não fizeram nada.
Estão à espera que o milagra aconteça.
":OP
Acho um pouco forçado chamar o Continente de "Mecenas", pois trata-se dum negócio privado, mas o método de financiamento parece-me perfeitamente viável.
O problema é que as quantias envolvidas são demasiado altas para serem aceites como um arranjo local sem a autorização e tradicional beija mão de mais altas "otoridades".
É um problema muito católico, muito português, muito ibérico sim..."sô bispu" de Lisboa tem de por o nihil obstat no processo.
Não fale com Lisboa a ver se consegue alguma coisa.
CFe, não é nihil obstat de bispo nenhum. Se o hospital e o terreno são públicos tem que haver autorização da tutela, isto é, do ministério, como em qualquer pais do mundo. Se tudo fosse privado, era avançar. Em que pais não ibérico é que funciona de forma diferente? Você, nos Estados Unidos ou na Suécia pode juntar umas massas, ir ocupar um terreno publico ao pé do hospital da sua área e lá construir uma clínica privada para captar clientes? E um supermercado ao lado para ir financiando, não?
O amadorismo nisto tudo é impressionante. Nunca vi tal coisa. Todo este processo contado lá fora daria uma barrigada de riso.
"Não fale com Lisboa a ver se consegue alguma coisa." Mas ele disse que ia a Lisboa há 2 ou 3 posts atrás.
"O amadorismo nisto tudo é impressionante." O foco central de toda esta história é exactamente o amadorismo de quem quer fazer um hospital, já que o profissionalismo não o conseguiu fazer, e aparentemente não deixa que o amadorismo o faça.
É impressão minha ou estou a ver uma trapaça a ser involuntariamente revelada?
José Lopes, o profissionalismo deixa o amadorismo fazer o que a lei permite. Isto não é o da joana, ou seja, não é o do joãozinho. Se não for assim, quer ir comigo no fim de semana ocupar ali um terreno público ao lado do meu hospital para a gente montar um dispensador de pensos, para acelerar o atendimento nas urgências? Podemos chamar-lhe Projeto Zequinha.
Está pois mas é trapaça antiga e o autor o antigo director do Hospital que saiu de cena.
"CFe, não é nihil obstat de bispo nenhum. Se o hospital e o terreno são públicos tem que haver autorização da tutela, isto é, do ministério, como em qualquer pais do mundo. Se tudo fosse privado, era avançar."
Meu caro,
O que se percebe do que aqui se escreveu foi que tudo foi feito no Porto, e só depois o pedido de autorização seguiu, ou ia seguir, para Lisboa.
Acha mesmo que os valores envolvidos e o lugar em questão iriam ser engolidos pelos mais altos governantes do país ? E ainda mais organizados por uma pessoa independente como o Professor Arroja é ?
Pode ser tudo tecnicamente viável, desejável, respeitável e admirável mas não conseguirá avançar um centímetro sequer sem um beija mão ao "bispo de Lisboa", ou à "tutela" como prefere.
Parece mesmo que não sabe onde habita.
Eu até acredito que o projeto vá para a frente mas que vai dar uma dor de cabeça por não usar avental...vai.
Não segue nada para Lisboa. Parem de fazer essa triste figurinha de provincianos.
Quem manda é um Ministério. E o Ministério tem uma delegação responsável que se chama ARS- Norte.
E nada é feito sem aprovação desta entidade.
Por outro lado, uma coisa que foi inventada por um director que se demitiu em 2016 não tem de ser válida por uma nova direcção que não assinou nada.
Por último- a associação do Joãozinho é uma falsa IPSS que nunca devia ter sido legalmente aceite- porque não presta serviços de saúde. Não é nenhuma clínica, nem é hospital e nem pertence ao HSJ
Estão é à rasca porque ficaram com o legado da vigarice e agora ou devolvem a quem andou a pagar o conto do vigário ou arranjam conto maior para empurrar com a barriga
E repito- o conto do vigário não foi inventado pelo PA.
Foi pelo antigo director- o tal António Ferreira que desapareceu.
Não se entende a que título o PA insiste em se manter dentro desta palhaçada, apenas porque é o último a quem passaram os dinheiros para uma treta inviável, uma operação de marketing com apelo emovional, mas para vir a ser paga pelo Estado.
E isto foi dito pelo próprio médico António Ferreira e está online. Já coloquei o estorial todo online para quem queira saber ou para não chatearem com estas imbecilidades bairristas de morcões apalermados
Não há um "governo de Lisboa"- como o PA também disse para apelar aos hoolighans morcões. Há esta geringonça que não quer continuar a palhaçada da obra de 25 milhões a maior da Europa para um único hospital, quando as crianças até já têm onde ser tratadas e nenhum Estado anda a gastar fortunas só para alimentar egos de outros.
(AF) – Quando o Hospital de S. João foi transformado em empresa pública, foi dotado de um capital social. Os 82 milhões de euros estão destinados a investir na reabilitação de toda a estrutura, mas não vão chegar para tudo o que o hospital precisa. O que achamos é que a área pediátrica é a mais apelativa, de forma a conseguir envolver a sociedade na construção deste edifício
(...)
Portanto, depreendo que não se levante aqui a questão da sustentabilidade do novo hospital pediátrico.
(AF) – Não. Não vamos comprar equipamentos complementares de diagnóstico, não vamos aumen tar camas, vamos apenas concentrar todos os serviços de pediatria. (AOS) – O S. João é um hospital de referência na rede e, como tal, também o somos ao nível da pediatria. Neste contexto, temos de criar as melhores condições para receber os doentes, nomeadamente as crianças. Não existe qualquer conflitualidade entre o Centro Materno-Infantil do Norte e o nosso hospital pediátrico.
(...)
Não se pode achar que o Hospital de S. João, por ser um serviço público, deve, por exemplo, receber pior os doentes, quer ao nível de infra-estruturas, quer ao nível da qualidade dos recursos humanos. A reforma destas estruturas requer investimento, por um lado, e mudança da cultura, por outro. Para que os serviços públicos funcionem em condições de igualdade com o sector privado, é necessário que tenham as mesmas oportunidades, desde logo nos recursos humanos. Quem forma e investe nos recursos humanos é o Estado e, ainda por cima, a maioria deles recebem um salário durante o tempo de formação. O problema é que, principalmente em algumas áreas, quando acabam essa formação, optam pelo sector privado. (AOS) – Temos de defender a qualidade do atendimento, na hotelaria, na recepção, no acolhimento dos doentes. A ineficiência do serviço público é um mau serviço.
.
«Temos neste primeiro ano de projecto, que em termos de angariação de fundos dura globalmente quatro anos, uma garantia de atingir os quatro milhões de euros de patrocínios já recolhidos», revelou à Lusa António Ferreira, presidente do Conselho de Administração do Hospital de S. João».
A 2 de Novembro de 2015, dizia o engenheiro, e acrescentava o tal director que inventou tudo isto que v. diz agora que usou 3 milhões nas instalações estatais:
«O projecto deste novo espaço destinado ao internamento pediátrico do Centro Hospitalar, que funciona há anos em contentores, prevê a construção de três novos pisos sobre dois já existentes numa zona integrada do edifício principal do hospital, perto da urgência pediátrica.
Numa primeira fase será construída uma estrutura metálica sobre aquele edificado existente, que “funcionará como esqueleto da nova ala pediátrica”, explicou Carlos Moreira, engenheiro técnico da empreitada.
Carlos Moreira referiu ainda que o projecto prevê uma ligação física ao hospital, sendo a fachada da nova ala “em vidro, que marcará a diferença de idade” entre o corpo do S. João e a nova pediatria.O Centro Hospitalar “tem um investimento que tem rondado cerca de 20 milhões de euros/ano e é sempre possível definir investimentos prioritários”, destacou António Ferreira, acrescentando que, “neste momento, está a ser tratado um concurso para submissão ao Tribunal de Contas para iniciar-se a renovação dos pisos 8 e 9 da ala central do hospital, com financiamento público (cerca de nove milhões de euros), e em qualquer momento, no âmbito desta capacidade de investimento que o hospital vai tendo, pode-se iniciar outro processo”.»
10-11-2009:
«Mostrando um bom exemplo de empreendedorismo social, que não precisa do Estado para nada, o Hospital de S. João resolveu celebrar os seus 50 anos, lançando para o futuro um arrojado projecto, a construção de um hospital pediátrico de raiz, com dinheiro unicamente vindo da sociedade civil e empresas. Já existem os recursos financeiros à primeira fase da obra, que será iniciada em Fevereiro próximo. Existem ainda múltiplas acções em andamento, orientadas para auxiliar as crianças internadas a crescer humana e intelectualmente, dado que o período de internamento é cada vez mais prolongado, por doenças que até aqui eram mortais agora passarem a ser crónicas. Hoje, a idade pediátrica vai até aos 18 anos, pelo que este projecto terá uma escola de ensino básico e um espaço de ciência viva - para mais informação recomendo a leitura da entrevista do Prof. Caldas Afonso ao Grande Porto.»
6-8-2009:
O presidente do Conselho de Administração do S. João sustentou que “o recurso ao financiamento privado foi opção dos órgãos de gestão e será obtido através de várias fontes”.
Uma dessas fontes, salientou, é a campanha pública “Um Lugar Pró Joãozinho”, que tem como principal rosto o ex-futebolista Vítor Baía.
“Entendemos que faz sentido a área mais apelativa ser um desafio à sociedade civil e usarmos o capital de que o hospital dispõe e o financiamento público para as áreas em relação às quais seria mais difícil envolver a sociedade civil”, acrescentou.
O responsável explicou que o hospital desenvolveu um “plano director de obras” que tem como objectivo “renovar todo o internamento, construir o hospital de ambulatório, construir uma área destinada aos seus funcionários e outra destinada à logística”.
António Ferreira frisou que o “internamento está praticamente todo novo”, faltando apenas intervir em dois serviços.
“Todos os outros estão renovados com quartos individuais, enfermarias de duas e três camas totalmente modernas”, destacou.
A construção do hospital pediátrico, segundo disse, começará “no fim deste ano”, ao passo que “o hospital de ambulatório está em fase de projecto funcional e vai passar rapidamente para os arquitectos, para finalizar o projecto arquitectónico”, prevendo-se que o concurso seja lançado, “provavelmente, no início do próximo ano”.
“Todo o hospital logístico está em construção”, dele fazendo parte uma “central de cogeração, a gás, que vai produzir energia suficiente para as necessidades de todo hospital”, frisou.
Liga amigos do hospital
http://portal-chsj.min-saude.pt/uploads/document/file/31/Relatorio_e_Contas_de_2009.pdf
2015- internamento de Neurocirurgia do Hospital São João deixa os contentores em 2016
Tudo começou com uma simples e concisa ideia: construir o melhor Hospital Pediátrico do Mundo!
> Acho um pouco forçado chamar o Continente de "Mecenas"
Questão de circunstâncias. É que o Mecenas original, amigo do camarada Octaviano Augusto, vivia numa monarquia (disfarçada de república, hoje em dia é mais vice-versa).
Esse Mecenas gostava de teatro e não estava interessado em abrir "tabernae" no Circo Máximo. Mesmo os aristocratas republicanos eram mais de só grafitar os nomes na fachada dos templos ou banhos públicos que pagavam.
Agora nós que vivemos numa república de merceeiros, é claro que as prioridades são outras, e no "quid pro quo" lá virá uma lojinha ou um anúnciozito aos fiambres ...
Esses deram à sola quando tiveram que pagar os jogos para entretar a populaça. Foram para as villae e quem se seguiu foi o pé rapado da tropa.
A esses chicos-espertos é que agora chamam mecenas.
Está-se mesmo a ver o estacionamento do maralhal a ir ao super ao lado das ambulâncias e coisas assim, no meio da cidade.
E a tv e os profs estatais a darem lá aulas dentro, como consta do projecto.
Um joãozinho feito disneylândia
Cfe, és um cromo engraçado. Qual "avental"? Julgas que estás um romance do Zé Rodrigues dos Santos? No mundo real as coisas são mais chatas e desinteressantes do que pensas. Olha, para a construção de um hospital público é o estado o dono de obra, que orçamenta, aprova a despesa, lança a obra a concurso, contrata o empreiteiro e adjudica. A maior parte deste trabalho até é feito, normalmente, através dos serviços regionais do ministério, como diz a zazie. É assim em qualquer lado. O dono do supermercado, por sua vez, faz a loja no terreno dele se a câmara passar licença, o que depende dos usos permitidos em plano diretor municipal, de urbanização, etc, e de acordo com as servidões e outras restrições existentes para o local, hospitais, escolas, etc. O que se passou é um sarilho, mas estou muuuito curioso com o desenvolvimento disto.
E agora para um assunto completamente diferente:
https://www.publico.pt/local/noticia/os-avioes-vao-ocupar-uma-antiga-escola-do-sobreiro-em-matosinhos-1749189
Enviar um comentário