Agora, só pararei de escrever para o Portugal Contemporâneo quando as audiências deste blogue superarem as do Público (já estou a caminho, nos últimos dias elas subiram exponencialmente, como pode ver clickando em View My Stats).
E será que sou capaz?
Claro que sou. Já o fiz uma vez, vou fazê-lo segunda.
No início dos anos 90, o Público tinha aparecido cheio de fulgor e o Diário de Notícias, que era o seu principal concorrente, foi para baixo.
Um dia recebi um telefonema do director do DN, o falecido Mário Bettencourt Resendes, pedindo para falar comigo. E eu lá fui ao emblemático edifício da Avenida da Liberdade. Na altura, eu escrevia para o JN, pertencente ao mesmo grupo.
Queria-me pedir para escrever para o DN, uma página inteira, à Segunda-feira, no Suplemento de Economia, não deixando de me mencionar as dificuldades por que o DN estava a passar por virtude da concorrência do Público.
Acertámos as condições, suponho que pedi 50 contos por artigo, mas juntei mais uma condição: "Sim senhor, mas no dia em que o DN ultrapassar o Público, acaba a minha colaboração".
Passados meses, para além da página de Segunda-feira no Suplemento de Economia, pediu-me também para escrever um página inteira ao Domingo no caderno principal. E eu assim fiz.
O tempo foi passando, não sem algumas curiosidades. Eu enervava claramente o Público, que frequentemente publicava coisas malévolas sobre mim (neste aspecto, a tradição continua a ser o que era) - e enervava, em especial, o seu director, Vicente Jorge Silva.
A tal ponto que um dia, o Vicente Jorge Silva escreveu um artigo sobre mim e, em lugar de o publicar no Público, como deveria ser óbvio, mandou-o ao Bettencourt Resendes para publicação no DN. O Bettencourt Resendes mostrou-me o artigo e eu respondi: "Cá por mim, publique-o...".
O artigo de página inteira lá saiu no DN e, passados dias, eu e o Bettencourt Resendes rimo-nos a bandeiras despregadas. Na realidade, eu tinha conseguido um feito inédito, que era o de ter posto o director do Público a escrever para o principal jornal da concorrência.
O tempo foi passando (no total, três a quatro anos) até ao dia em que as estatísticas das tiragens deram pela primeira vez o DN à frente do Público. Nesse dia, telefonei ao Bettencourt Resendes e disse-lhe: "Como combinado, termina hoje a minha colaboração".
Anos mais tarde, já depois de ter saído de director, ele escreveu um artigo no DN onde me prestou uma pequena homenagem. Para um homem como eu, pouco habituado a receber homenagens (bem pelo contrário), esta, por ser rara, devia ser verdadeira. Telefonei-lhe e agradeci-lhe do coração. Foi a última vez que falei com ele.
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