21 fevereiro 2016

o padreca

O celibato dos padres é uma tradição dentro da Igreja Católica.

Houve tempos, há muitos séculos, em que os padres se podiam casar, mas aparentemente, as coisas não funcionaram bem, e a Igreja, para o bem de todos, acabou por adoptar a instituição do celibato.

Modernamente, não falta quem, mesmo dentro da Igreja Católica, reclame a possibilidade de os padres se casarem.

Uma questão que se pode pôr imediatamente é a seguinte: para quê voltar a discutir esta questão se ela já foi discutida há muitos séculos tendo-se chegado à conclusão de que não era bom os padres casarem?

O que é que eu penso acerca disto?

Vou dar em primeiro lugar uma resposta em termos pessoais e da minha experiência, uma resposta, porém, que eu penso ser perfeitamente generalizável. A resposta é a seguinte:

Só quem nunca esteve casado com a  minha mulher pode imaginar que, estando eu casado com ela, poderia ao mesmo tempo ser padre.

Desde há dois anos que tenho um espaço semanal de opinião numa TV regional onde falo frequentemente de religião, que é a minha contribuição para tirar Deus do armário e colocá-lo no espaço público. Quando chego a casa e nos dias que se seguem, oiço de tudo: "Lá está tu sempre a falar de religião...". "Se te conhecesse hoje não casava contigo...Casei-me com um homem racional e agora estou casada com um místico...". E um dos meus filhos costuma telefonar nesses dias à mãe a perguntar-lhe: "É hoje que o padreca fala na televisão?".

Eu estou a imaginar-me um dia como padre a ir assistir  uma família carenciada e, condoído com a situação, tirar dinheiro do meu bolso e dá-lo aos pais para comprarem comida e roupa para aquelas crianças, e a chegar a casa, orgulhoso, e contar o episódio à minha mulher.

Mas também estou a imaginar a minha mulher, oito dias depois, a dizer-me: "Olha, é preciso dinheiro para comprar roupa para os teus filhos...", e eu a responder: "Não tenho...":

-Pois, para os filhos dos outros tu tens dinheiro, para os teus é que não tens...

A prazo, a minha vida tornar-se-ia impossível. Se eu insistisse em ser padre, o casamento não iria durar. Pelo contrário, se eu optasse pelo casamento teria de renunciar a ser padre. As duas coisas ao mesmo tempo é que não são possíveis. Cristo, que era Deus, sabia isso.

Ele advertiu que não se pode servir a dois senhores ao mesmo tempo. Mas existe uma verdade ainda maior e que Cristo também conhecia, e por isso, durante o  seu período público de apostolado, ele nunca se casou nem se envolveu intimamente com nenhuma mulher. Essa verdade maior é esta: "A duas senhoras é que não se pode servir de certeza ao mesmo tempo", não esquecendo que a Igreja (comunidade) é uma figura de mulher (Maria).

Apenas uma observação final. A minha mulher é uma excelente pessoa, mas não é uma mulher de outro mundo, é uma mulher como as outras, uma mulher que partilha a natureza feminina de todas as outras.

 

11 comentários:

zazie disse...

ehehe
Concordo.

É uma questão para a qual não tenho resposta porque também acho que no caso dos monges e freiras pode mas é derivar em homossexualidade ou pedofilia (e tende a acontecer demasiado isso).

Mas depois penso mais ou menos como o PA pelos mesmos motivos.
E ainda por outro- porque me encanita, que alguém que não se privou de nada na vida, venha para cá fazer-se de sntinho e pedir batatinhas.
Daí não ter pachorra para os medidores-de-fé sem "hábito".

Ricciardi disse...

'O casamento não ia durar...'
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Bom, mas nas outras religioes, onde os padres podem casar, os casamentos duram normalmente.
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Poder-se-à argumentar que, não estando casados, podem servir melhor à Igreja ou a Deus. Livres de compromissos familiares, portanto. O mesmo pode aplicar-se a missionários leigos.
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Eu aceito este argumento como regra aconselhavel. Mas não o compreendo como 'lei', aplicável a todos, sem excepção.
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A um dos apostolos de jesus foi-lhe perguntado acerca deste assunto. E ele respondeu mais ou menos assim: é preferível que os sacerdotes sejam solteiros, porém, se lhes for difícil pela natureza própria viver sem mulher, então o sacerdote deve casar e ser um exemplo de marido para a comunidade.
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É com isto que concordo. Porque se assim não for, se a natureza ou propensão do padre para procurar mulher for igual à maioria dos homens, torna a vida deles um autêntico inferno, cometendo o 'pecado' às escondidas. Filhos de padres é o que não faltam
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Este 'pecado' tem uma raiz que, na minha opinião, é um logro. O sexo como pecado. Acho que fizeram confusão e misturaram tudo. Provavelmente tornaram pecado uma 'actividade' por um qualquer transtorno por falta de sexo. ;).
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Depois, as condições pelas quais passaram a proibir o casamento nos padres, são distintas das que hoje podemos observar. Na altura foi uma mera opção de gestão das hierarquias da igreja com vista à formação dum 'exército' de pregadores e evangelizadores. O exército está formado, já não faz sentido impor a regra. Mais valia fazer como o apóstolo disse. Naquela base: vê-de lá isso, se virdes que não vos aguentas, casai-vos e levai uma vida digna.
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Rb

Rui Alves disse...

Na Igreja Católica Ortodoxa há sacerdotes casados. Como fazem eles para conciliar as duas responsabilidades?

zazie disse...

1º- Não casam com mulheres ateias
2º Nos ortodoxos não me parece que o problema do efeito teatral da retórica passe a ser o necessário para a missa porque eles fazem-na atrás da cortina

":OP

Nos protestantes a coisa tende a tornar-se show e negócio porque as pessoas precisam de acreditar que vão ter tanto triunfo e riqueza na vida quanto o pastor e a pastora.

E depois, dá sempre a sensação que o pastor chega à missa ainda a suar de ter estado com a pastora.

Verdade seja dita que o resto da cerimónia também não impede nada, uma vez que presente está o pastor, não está a Eucaristia. E aquilo tem de convencer mesmo fisicamente.

Com os anglicanos parece-me ser mais recatado o culto, pelo que já presenciei. Mas até prefiro o ortodoxo, à falta do católico apostólico romano.

Rui Alves disse...

Zazie, obrigado por tentar esclarecer-me, mas em relação aos Ortodoxos ainda não entendi bem. Já a sua observação aos Protestantes eu percebi. :-)

zazie disse...

ehehe Também não sei muito dos ortodoxos. Apenas vou às vezes à missa em Londres e aquilo passa-se tudo atrás da cortina, portanto não se aplica a retórica prot.

A missa anglicana é mais normal é já fui várias vezes.

Pedro Sá disse...

Sempre os mesmos complexos de inferioridade de género...essa ideia de que o homem deve servir a mulher e nunca o contrário...e uma relação de igual para igual, não? :O

zazie disse...

Pois é, pázinho

Os complexos foram para o lixo e agora, pazinho, o que temos é meninas de 13 anos a oferecerem-se que nem amázias na cama e meninos adolescentes a darem-lhes porrada como se fossem velhos maridos fartos de as sustentarem.

E, para exemplo, ainda ontem me contaram um caso de uma miúda de 16 anos, filha de profs (imbecis com a cabeça feita pela igualdade de género) que tiveram de ir para tribunal para impedir o namorado- um puto que não é machista e não protege mas lhe vai às trombas porque é mais fácil descarregar numa "igual mais fraca".

E o tribunal teve de decretar isolamento da "menina oferecida" e proibir o menino não machista que trata mulheres de igual para igual, de se aproximar dela.

zazie disse...

Ah, o pai da "menina emancipada que leva nas trombas do menino igualitário" agora diz que é capaz de o matar e também está mais ou menos sequestrado pela emancipada da prof igualitária.

E foi uma colega desta cambada de imbecis que me contou e que também me estava a contar o caso vendido como machismo masculino e falta de valores transmitidos aos rapazes.

Quando lhe perguntei a que título uma miúda adolescente que vive em casa dos pais deixa que um garoto lhe vá ao focinho, calou-se.

Anónimo disse...

Esta do padreca está engraçada.

Gosto de ler e ouvir o Pedro Arroja. Tenho fé - e a Fé é uma coisa grande-, que ainda o hei-de ver no Porto Canal, de batina preta e cabeção.

gaudio

P.S. para gaudio da comunidade!

Camisa disse...

Espero que a sua esposa não leia isto porque quando ela ler que o PA a acha uma mulher como as outras, vai haver trovoada; isto é daquelas verdades que tem de ser devidamente romanceada a bem do ego da mulher e da paz de espírito do homem! :D