12 novembro 2013

Economia, ciência ou nem por isso? (2)

Do texto do mises.org.br "Ciência é mais do que matemática", Christopher Westley

 "...Milton Friedman analisou o argumento de Fisher e o aprofundou no ensaio A Metodologia da Economia Positiva, enfatizando o papel da matemática e da estatística na economia e glorificando a acurácia preditiva acima de tudo — acima até mesmo da teoria correta. Os dados devem conduzir tudo que for testado empiricamente, e se os resultados explicarem corretamente o mundo real, então eles devem estar corretos do ponto de vista teórico. Para Friedman, as metodologias econômicas devem "ser julgadas pela precisão, pelo escopo e pela conformidade com a experiência das previsões que [elas] produzem. Em resumo, a economia positiva é, ou pode ser, uma ciência 'objetiva', exatamente no mesmo sentido que quaisquer outras das ciências físicas [exatas]".

Os economistas seguidores da Escola Austríaca já haviam enfrentado tudo isso anteriormente, começando por sua resposta ao historicismo alemão e a constatação de que esses historicistas não possuíam nenhuma base teórica para a economia como uma ciência. Na década de 1950, F.A Hayek notou em sua importante obra A Contra-Revolução da Ciência que, ao adotarem os modelos matemáticos das ciências naturais, os economistas podem facilmente tratar o objeto de seu estudo — a pessoa humana — da mesma maneira que os físicos examinam partículas de matéria. Em vez de seres vivos dotados de livre arbítrio, a pessoa humana é facilmente reduzida a elementos que podem ser investigados e manipulados de modo a alcançar um fim social preferido pelo estado.

É perfeitamente possível entender por que um grande progressista como Fisher exaltaria tal abordagem; mas é extremamente irônico constatar que um libertário como Friedman iria expandi-la. Embora a matemática seja uma ferramenta importante nas ciências sociais, a forma com que passou a ser usada pelos cientistas sociais restringiu o escopo das investigações e, até o momento, não contribuiu em nada para nosso conhecimento teórico. Por outro lado, como Rothbard observou, a ênfase na matemática é ótima para defender a expansão do estado, pois fornece uma "precisão científica" às políticas governamentais. "

Comentário:

A questão é mais profunda do que uma dificuldade técnica em medir e estabelecer modelos e efectuar experiências (uma impossibilidade). A teoria económica nunca providenciará mecanismos de previsão como nas ciências naturais - não existe mecanicismo de grandes económicas, até porque o próprio conceito de grandeza (como os agregados) não existem em substância como nas ciências naturais, as grandezas medidas como consumo ou investimento, são eles próprios apenas conceitos (por exemplo. as pessoas compram um computador, porque terá de ser considerado consumo e não investimento? depende apenas da forma como o próprio usa e ele próprio na sua subjectividade o entende), não existem delimitações "naturais" mas sim subjectivas.

Coube à Escola Austríaca mostrar que, não existindo uma ciência quantitativa-mecanicista, o estudo da economia produz proposições verdadeiras sobre as relações de causa-efeito implicadas na constatação que o homem age e não pode não-agir. Ou na medida em que pode não-agir com um propósito isso cairá fora do estudo da economia.

A outra observação é que o caminho do empirismo no lado liberal torna-se obviamente contraditório, porque qualquer hipótese de modelização de coisas como "maximização da utilidade social" e ainda que no âmbito da existência de liberdade económica e direito de propriedade, conduziria a políticas de alguma forma anuladoras da liberdade humana. Por exemplo, o estado poderá determinar a redistribuição de propriedade privada ou determinar critérios de justiça por critérios de eficiência. Isso é muito visível na Escola de Chicago, largamente responsável pelo mau nome de termo "neoliberal".

3 comentários:

marina disse...

a liberdade de escolha do consumidor na "modernidade" ... que mundo tão diversificado e variado e interessante :)

http://www.policymic.com/articles/71255/10-corporations-control-almost-everything-you-buy-this-chart-shows-how

Hernâni Matos disse...

Exº Senhores:

Solicito permuta de links entre o vosso blogue e o meu.
Informo que o link efectuado por mim, está patente na barra direita lateral sob a epígrafe BLOGUES RECOMENDADOS.
Os melhores cumprimentos.

Hernâni Matos
DO TEMPO DA OUTRA SENHORA
http://dotempodaoutrasenhora.blogspot.com

Harry Lime disse...

"acuracia"? Isso existe em portugues?

Ou não quereras dizer: "exactidão"?

este foi o portugues que eu aprendi na escola.

Rui Silva