18 janeiro 2012

I.

Pior do que a bajulação por todas as coisas estrangeiras, é a bajulação pelas ideias estrangeiras - dizia eu recentemente ao Joaquim, enquanto a mulher dele também me escutava.

Eu gosto de pensar, Joaquim, como é que o Kant seria considerado, se tivesse escrito tudo aquilo que escreveu, tivesse vivido exactamente como viveu, mas só com uma diferença - se, em lugar de ter nascido em Koningsberg, tivesse nascido em Amarante. Como é que ele seria considerado lá na terra? Eu sei. Seria considerado o tolinho da terra. Pois bem, não faltam por aí portugueses, pessoas frequentemente inteligentes, a fazer doutoramentos sobre o Kant e a dissertar sobre as ideias do Kant. Até as leis que hoje se fazem em Portugal são, em última instância, baseadas nas ideias do Kant.

E voltando-me para a I., continuei. Eu gostava de saber a sua reacção se um dia o Joaquim escrevesse um texto semelhante a qualquer dos textos que o Kant escreveu e lho desse para ler. Estou a imaginar o que diria: "Oh Joaquim, mas tu enlouqueceste? É assim que tu ocupas o tempo, em lugar de me ajudares a trazer as compras do supermercado? Se nem eu te consigo perceber ... tu deita-me já isso para o lixo antes que alguém veja... ainda vão dizer que estás maluco...". E com razão, acrescentaria eu.

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