Proponho-me neste post, e no seguimento do anterior, desvendar as duas fontes principais da característica incapacidade dos portugueses para julgar e do seu notório mau julgamento. Parto de uma afirmação já várias vezes reiterada, a de que a ideia central da tradição católica é a verdade e que, nesta tradição, a justiça deriva da verdade. "A justiça está na verdade" é o lema da justiça nesta tradição. (Na tradição protestante é diferente: "A justiça está na equidade").
Portanto, para chegar à justiça - isto é, para pronunciar julgamento sobre uma dada situação - os portugueses procuram primeiro a verdade. Chegados à verdade, a justiça está nela. E como é que na sua tradição católica os portugueses chegam à verdade? A resposta está aqui e envolve dois passos: os factos e a razão.
Estão aqui - nos factos e na razão - as duas fontes primordiais da falta de julgamento dos portugueses. Começo pelos factos. A verdade está, em primeiro lugar, nos factos, e o recurso à razão para chegar à verdade só é necessário quando o julgador não pode observar os factos. Daí a importância capital dos factos.
Para chegar à verdade de uma situação é necessário, em primeiro lugar, apurar os factos, mas só os factos que interessam à situação (não quaisquer factos que lhe sejam estranhos) e, dentre estes, acima de todos os factos essenciais. Ora, a primeira e a maior fonte do mau julgamento dos portugueses reside na sua incapacidade para seleccionar os factos essenciais. Esta incapacidade de selecção, que representa em si uma incapacidade de julgamento, é a falta-de-julgamento capital dos portugueses. Eles não sabem distinguir dentre os factos que respeitam a uma situação, aqueles que são essenciais e sem os quais a situação nem sequer existiria, daqueles que são acessórios, e sem os quais a situação continuaria a existir.
Admitamos que eu observo fulano pegar numa arma e disparar um tiro contra beltrano, que cai morto no chão. Para pronunciar julgamento sobre quem é o criminoso basta-me conhecer um só facto - o disparo de fulano contra beltrano. Não me interessa nada saber o que fulano comeu ao almoço, o que fez na véspera, o nome do pai e da mãe, em que escola andou em pequeno, o seu número de telemóvel e a temperatura do ar nessa altura. Um só facto permite-me chegar à verdade - é o facto essencial.
Convencidos que à verdade se chega, em primeiro lugar, através dos factos - o que é correcto, mas não de quaisquer factos (apenas os relevantes e, dentre estes, bastando os essenciais, que raramente excedem dois ou três) -, os portugueses, acerca de cada situação, tendem a acumular factos e mais factos e ainda mais factos e, quando chegam ao fim - se é que o processo tem fim - estão perante duzentos ou trezentos factos respeitantes à situação. É neste momento que já perderam o sentido - na realidade, perderam-no muito antes, ao acumular simplesmente vinte ou trinta factos - de quais são os factos relevantes e quais são os factos irrelevantes e, dentro da classe dos primeiros, quais são os factos essenciais e quais são os factos acessórios. A selecção torna-se impossível. Privados da capacidade para seleccionar os factos essenciais, ou sequer os relevantes, eles ficam incapacitados de chegar à verdade, e daí à justiça.
A principal fonte dos erros de julgamento dos portugueses encontra-se aqui. Eles pronunciam julgamento sem conhecer os factos, ou com base em factos que não são essenciais ou sequer relevantes ou ainda, quando o julgamento se refere a uma regra geral e abstracta, com base em factos que são excepcionais. O português típico e detrminado que se propõe julgar uma situação possui a cabeça cheia de factos ao mesmo tempo que o julgamento que profere é uma grossíssima asneira.
A segunda fonte dos erros de julgamento que caracterizam os portugueses encontra-se na má utilização da razão. Trata-se aqui de puros erros de lógica. Admitamos, no episódio anterior, que eu não estava no local do crime, mas que se apurou que fulano estava lá, munido de uma arma com um certo calibre, beltrano também estava no mesmo local à mesma hora, e a bala que lhe foi encontrada no corpo pertencia àquela arma. Seria um erro de lógica eu pronunciar julgamento declarando cicrano o criminoso, um homem que à mesma hora se apurou estava a dormir em sua casa, a 400 km de distância.
Os portugueses distorcem facilmente a lógica da razão, e daí a segunda fonte do seu mau julgamento, e isso deve-se à natureza feminina da sua cultura. As mulheres, em comparação com os homens, possuem uma grande ligação, e uma ligação íntima, aos seres humanos e às coisas e, por isso, uma grande dificuldade de distanciamento (detachment) e em serem imparciais. Elas têm grande dificuldade em pensar para além do facto e do concreto. Falta-lhes, numa palavra, a capacidade para o pensamento abstracto que, como tenho referido, é um grande lacuna da cultura portuguesa.
Portanto, para chegar à justiça - isto é, para pronunciar julgamento sobre uma dada situação - os portugueses procuram primeiro a verdade. Chegados à verdade, a justiça está nela. E como é que na sua tradição católica os portugueses chegam à verdade? A resposta está aqui e envolve dois passos: os factos e a razão.
Estão aqui - nos factos e na razão - as duas fontes primordiais da falta de julgamento dos portugueses. Começo pelos factos. A verdade está, em primeiro lugar, nos factos, e o recurso à razão para chegar à verdade só é necessário quando o julgador não pode observar os factos. Daí a importância capital dos factos.
Para chegar à verdade de uma situação é necessário, em primeiro lugar, apurar os factos, mas só os factos que interessam à situação (não quaisquer factos que lhe sejam estranhos) e, dentre estes, acima de todos os factos essenciais. Ora, a primeira e a maior fonte do mau julgamento dos portugueses reside na sua incapacidade para seleccionar os factos essenciais. Esta incapacidade de selecção, que representa em si uma incapacidade de julgamento, é a falta-de-julgamento capital dos portugueses. Eles não sabem distinguir dentre os factos que respeitam a uma situação, aqueles que são essenciais e sem os quais a situação nem sequer existiria, daqueles que são acessórios, e sem os quais a situação continuaria a existir.
Admitamos que eu observo fulano pegar numa arma e disparar um tiro contra beltrano, que cai morto no chão. Para pronunciar julgamento sobre quem é o criminoso basta-me conhecer um só facto - o disparo de fulano contra beltrano. Não me interessa nada saber o que fulano comeu ao almoço, o que fez na véspera, o nome do pai e da mãe, em que escola andou em pequeno, o seu número de telemóvel e a temperatura do ar nessa altura. Um só facto permite-me chegar à verdade - é o facto essencial.
Convencidos que à verdade se chega, em primeiro lugar, através dos factos - o que é correcto, mas não de quaisquer factos (apenas os relevantes e, dentre estes, bastando os essenciais, que raramente excedem dois ou três) -, os portugueses, acerca de cada situação, tendem a acumular factos e mais factos e ainda mais factos e, quando chegam ao fim - se é que o processo tem fim - estão perante duzentos ou trezentos factos respeitantes à situação. É neste momento que já perderam o sentido - na realidade, perderam-no muito antes, ao acumular simplesmente vinte ou trinta factos - de quais são os factos relevantes e quais são os factos irrelevantes e, dentro da classe dos primeiros, quais são os factos essenciais e quais são os factos acessórios. A selecção torna-se impossível. Privados da capacidade para seleccionar os factos essenciais, ou sequer os relevantes, eles ficam incapacitados de chegar à verdade, e daí à justiça.
A principal fonte dos erros de julgamento dos portugueses encontra-se aqui. Eles pronunciam julgamento sem conhecer os factos, ou com base em factos que não são essenciais ou sequer relevantes ou ainda, quando o julgamento se refere a uma regra geral e abstracta, com base em factos que são excepcionais. O português típico e detrminado que se propõe julgar uma situação possui a cabeça cheia de factos ao mesmo tempo que o julgamento que profere é uma grossíssima asneira.
A segunda fonte dos erros de julgamento que caracterizam os portugueses encontra-se na má utilização da razão. Trata-se aqui de puros erros de lógica. Admitamos, no episódio anterior, que eu não estava no local do crime, mas que se apurou que fulano estava lá, munido de uma arma com um certo calibre, beltrano também estava no mesmo local à mesma hora, e a bala que lhe foi encontrada no corpo pertencia àquela arma. Seria um erro de lógica eu pronunciar julgamento declarando cicrano o criminoso, um homem que à mesma hora se apurou estava a dormir em sua casa, a 400 km de distância.
Os portugueses distorcem facilmente a lógica da razão, e daí a segunda fonte do seu mau julgamento, e isso deve-se à natureza feminina da sua cultura. As mulheres, em comparação com os homens, possuem uma grande ligação, e uma ligação íntima, aos seres humanos e às coisas e, por isso, uma grande dificuldade de distanciamento (detachment) e em serem imparciais. Elas têm grande dificuldade em pensar para além do facto e do concreto. Falta-lhes, numa palavra, a capacidade para o pensamento abstracto que, como tenho referido, é um grande lacuna da cultura portuguesa.
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É o pensamento abstracto que permite a um homem, a partir de um pequeno número de factos essenciais, reproduzir, por argumento racional fundado, a verdade de uma situação, sem necessidade de a presenciar. Sem esta capacidade de abstracção só é possível a um homem chegar às verdades que ele próprio presencia, nunca àquelas que ocorrem fora do seu círculo presencial ou para além dele.
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Pode dizer-se, sem perda de exactidão, que a incapacidade dos portugueses para seleccionar ou separar os factos essenciais de uma situação, que tratei em primeiro lugar, deriva também desta sua incapacidade para o pensamento abstracto. Eles não são capazes, dentre a multiplicidade de factos que respeitam a uma situação, de abstrair aqueles que são factos essenciais dos outros que são meramente acessorios, senão mesmo irrelevantes (abstrair, do lat. abstrudere, significa "separar").
A conclusão é, então, a de que a falta de julgamento dos portugueses deriva da sua incapacidade para a abstracção e que esta se manifesta de duas maneiras. Primeira, na sua incapacidade para abstrair ou seleccionar os factos essenciais da situação. Segunda, na sua incapacidade para o pensamento racional abstracto.
A conclusão é, então, a de que a falta de julgamento dos portugueses deriva da sua incapacidade para a abstracção e que esta se manifesta de duas maneiras. Primeira, na sua incapacidade para abstrair ou seleccionar os factos essenciais da situação. Segunda, na sua incapacidade para o pensamento racional abstracto.
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