15 março 2009

julgamento


A falta de julgamento é o pior defeito dos portugueses, tenho escrito repetidamente. Quando a democracia põe o povo a governar as instituições, esse defeito acabará por destruir as instituições e, em primeiro lugar, aquela onde a capacidade de julgamento faz mais falta, na realidade, é essencial - a justiça.

O meu propósito neste post é o de começar a tratar com maior detalhe esse grande defeito dos portugueses e, mais geralmente, dos povos de cultura católica. É preciso não esquecer que, nesta cultura, aquilo que distingue o homem de elite do povo é precisamente a sua capacidade de julgamento. Em breve - na minha opinião, dentro dos próximos dois anos - a sociedade portuguesa vai ter de chamar os seus homens de elite. Eles existem por aí, não estão é na cena pública - nem devem estar neste momento da vida portuguesa.

Eu dirijo-me aos homens de elite e àqueles que pretendem ser elite. Na nossa sociedade, aquilo que distingue o homem de elite é a sua capacidade de julgamento. Portanto, aquilo que ele mais precisa de educar é esta capacidade. Como a falta de julgamento possui uma origem cultural, ela revela-se de forma espontânea, e sem que o próprio se aperceba. Educar o julgamento do homem português é, por isso, uma tarefa muito difícil, porque a sua falta de julgamento espontânea o atraiçoa a cada esquina. É uma tarefa para a vida, que exige uma atenção minuciosa, um treino intensivo e uma disciplina de ferro.

O meu propósito neste post é o de dar a primeira contribuição àqueles que pretendem treinar o seu julgamento porque só assim podem ambicionar tornar-se homens de elite, subtraindo-se ao risco de amanhã, se forem chamados a recompôr a sociedade portuguesa e as suas instituições, cometerem os mesmo erros que os outros cometeram no passado, destruindo-as ainda mais. O meu primeiro objectivo é muito modesto, mas muito importante. Trata-se de indicar como se exprime a falta de julgamento dos portugueses, contra a qual é preciso exercer a máxima guarda, e como ela se detecta.

A falta de julgamento do homem português exprime-se tipicamente quando ele dá uma opinião ("Eu acho que ..."), um parecer ("Parece-me que ..."), ou pronuncia um julgamento ("O melhor é fazer isto ou aquilo ..."; "Isso que você diz é mentira (ou verdade) ...") sobre as coisas da vida ou sobre as pessoas. É, por isso, quando o homem português se confronta perante uma situação, caracterizada por um certo conjunto de factos, em que é chamado a dar, ou decide dar espontâneamente, uma opinião, um parecer ou um julgamento sobre ela, que vai sair asneira, sob a forma de mau julgamento.

No próximo post, explicarei as causas principais (são duas) porque vai sair asneira. Neste post pretendo apenas vincar as circunstâncias (descritas acima) em que a asneira pode ocorrer, sob a forma de mau julgamento. E indicar como a asneira (mau julgamento) pode ser detectada. O mau julgamento detecta-se pela falta de equidade, ou pela iniquidade, cometida em relação às pessoas ou às coisas que são o objecto da opinião, do parecer ou do julgamento. Por isso, para detectar um mau julgamento, a pergunta a fazer é a seguinte: "Será que alguma pessoa ou alguma coisa é tratada injustamente (iniquamente) em resultado deste julgamento?"

As seguintes afirmações são exemplos de injustiças cometidas sobre alguém ou sobre alguma coisa e revelam falta de julgamento: "A lei da procura dos economistas é falsa, porque o meu primo Jeremias comprou dois carros depois de os preços terem aumentado"; "Essa sua teoria do liberalismo das mulheres na educação dos filhos-rapazes é mentira porque a minha cunhada Matilde educa os filhos como se estivessem na tropa"; "Devíamos imitar o sistema de educação da Finlândia"; "Para restaurar o vigor da economia portuguesa devemos lançar imediatamente as obras do novo aeroporto de Lisboa e do TGV"; "O melhor clube português é o Sporting"; "O Benfica perdeu por causa do árbitro"; "Portugal devia adoptar o modelo social da Suécia".

Um excelente laboratório para um jovem começar a educar e a treinar o seu julgamento são as caixas de comentários dos blogues abertos, os debates públicos na rádio e na TV, bem como os artigos de opinião nos jornais. Nos blogues, noventa por cento dos comentários contidos nas suas caixas revelam falta de julgamento, nalguns casos extremo. a mesma percentagem é válida para as opiniões, pareceres e julgamentos expressos nos outros meios de comunicação social. Não é de mais insistir - um mau julgamento revela-se por uma injustiça (inquidade). Procure as injustiças - a falta de justiça ou de quidade em relação aos factos da realidade ou às pessoas - e identificará os maus julgamentos.

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