08 janeiro 2023

48 anos (1)



1. Corrupção

O regime democrático em Portugal tem agora a mesma idade, 48 anos, que tinha o regime do Estado Novo quando caiu em 1974.

Existem muitas diferenças entre os dois regimes políticos, que são notórias para quem viveu os dois.

Uma das diferenças respeita à corrupção.

No regime do Estado Novo não havia corrupção. Apesar dos esforços dos políticos do regime democrático post-25 de Abril para devassarem a vida dos governantes do Estado Novo, nunca encontraram um único caso de corrupção. Por isso, todos aqueles que tinha sido exilados puderam mais tarde regressar tranquilamente sem serem incomodados pela justiça.

Muitos morreram amargurados, como foi o caso notório de Marcello Caetano, mas nenhum com o labéu de corrupto.   Eram pessoas, frequentemente de origens humildes, que tinham subido na vida a pulso e por mérito nas suas profissões (um grande número eram universitários de carreira) e que no final da vida decidiam servir a causa pública (e não servir-se dela).

No regime do Estado Novo não havia corrupção, os governantes eram pessoas impolutas e passavam esse exemplo a toda a população. E no regime democrático?

Quanto a isso, é melhor nem falar, nos tempos que correm.

E não seria possível juntar o melhor dos dois regimes, a liberdade do regime democrático com a integridade dos governantes do regime do Estado Novo?

Não. Num país de cultura católica como Portugal, que é uma cultura socialmente hierarquizada (à semelhança da hierarquia da Igreja Católica), sob o regime de liberdade democrática são os piores que chegam ao topo.

Num jogo - como é o jogo democrático -, entre pessoas íntegras e pessoas batoteiras e em que o árbitro - que é o sistema de justiça - é leniente com os batoteiros, e é ele próprio batoteiro, ganham os batoteiros. Qual é a dúvida? As pessoas íntegras jogam sujeitas a regras de decência, ao passo que para os batoteiros, não há regras, vale tudo. A vantagem dos batoteiros é incomensurável.

Como agora, ao fim de 48 anos, se está a ver, se é que não se viu antes.

É altura de começar a fazer algumas homenagens merecidas aos governantes do Estado Novo e dizer a alguns dos seus críticos que vão dar uma volta, de preferência não levando consigo muito dinheiro dos contribuintes.

(Continua acolá)

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