(Continuação daqui)
5. "O meu filho não fica aqui!"
Quando, em Abril de 2018, estava a obra da Associação Joãozinho bloqueada há dois anos, um cidadão de nome Jorge Pires, acompanhou o filho, sofrendo de um cancro grave, para ser internado na pediatria do Hospital de São João, ele não imaginava o que iria encontrar.
A ala pediátrica do segundo maior hospital do país, onde acorriam as crianças sofrendo das doenças mais graves na região norte, como era o caso do seu filho, funcionava há nove anos em contentores metálicos, na altura já em avançado estado de degradação.
Levaram Jorge Pires e ao filho para uma "sala" dentro dos contentores, uma espécie de "quarto semi-privado" onde estavam duas camas com duas crianças deitadas e as respectivas famílias à volta. Dois auxiliares do Hospital afastaram as camas uma da outra e também as respectivas famílias, depois colocaram outra cama no meio, preparando-se para aí deitar o filho de Jorge Pires.
Profundamente afectado pelo estado de saúde do filho, perplexo com o que estava a acontecer à sua volta, Jorge Pires ficou um momento em silêncio e depois disse em voz firme para quem o quis ouvir: "O meu filho não fica aqui!".
No dia seguinte, através da comunicação social, o país inteiro despertava para aquela que já foi chamada a maior mancha da democracia portuguesa dos últimos anos. No segundo maior hospital do país, onde está instalada uma das mais respeitadas Faculdades de Medicina, crianças sofrendo de cancro estavam há anos internadas em contentores metálicos onde, no inverno, chovia no interior e falhava o ar condicionado e no verão havia pragas de moscas.
Jorge Pires e a campanha mediática que desencadeou foram decisivos para que no passado dia 12 fosse finalmente inaugurada a nova ala pediátrica do Hospital de S. João. Não foi convidado para a cerimónia de inauguração. Nesse dia, inconformado e justificadamente ressentido, declarou ao JN: "Os corta-fitas de hoje foram os maiores entraves do passado".
(Continua)
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