(Continuação daqui)
6. Negócios de alcova
O eurodeputado Paulo Rangel resolveu admitir publicamente a sua homossexualidade. E para justificar aquilo que considera ser a irrelevância pública de tal revelação, acrescentou que "Deus não está assim tão preocupado com o que se passa no quarto de cada um". (cf. aqui)
Pois, Deus pode não estar, mas os cidadãos de uma democracia podem estar quando se trata dos seus políticos, como o eurodeputado Paulo Rangel, ou dos seus gestores públicos. E a razão são os chamados negócios de alcova.
Admitamos, por um momento, que o senhor A é um gestor público afecto ao PSD, por exemplo, o presidente de um grande hospital público. E que a sua mulher é directora de uma sociedade de advogados também afecta ao PSD, por exemplo, a Cuatrecasas.
Admitamos, em seguida, que, na qualidade de gestor público, o senhor A adjudica contratos de assessoria jurídica à sociedade de advogados de que a sua mulher é directora.
Trata-se do típico negócio de alcova.
Toda a gente gritará e com razão, "Corrupção!", porque é de presumir que uma parte do dinheiro público envolvido no contrato vai parar à mulher do senhor A (e, indirectamente, também ao senhor A) e outra parte ao Partido que pôs o senhor A a presidente do hospital e a sua mulher a directora da Cuatrecasas.
Admitamos agora que um gestor público ligado ao PSD, que é homossexual e namorado do eurodeputado Paulo Rangel, adjudica contratos de assessoria jurídica envolvendo centenas de milhar ou milhões de euros do erário público a uma sociedade de advogados dirigida pelo eurodeputado Paulo Rangel, por exemplo, a Cuatrecasas.
A corrupção é idêntica porque é de presumir que uma parte do dinheiro público vai parar ao bolso do eurodeputado Paulo Rangel (e também, indirectamente, ao do seu namorado) e a outra parte vai parar ao PSD
Porém, enquanto o eurodeputado Paulo Rangel e o seu namorado não assumirem publicamente a sua relação homossexual - no mesmo plano em que o senhor A e a sua mulher, sendo casados, assumem a sua relação heterossexual -, este acto de corrupção permanece secreto ou, pelo menos, discreto, e ninguém dá conta dele.
É assim que o lobby gay funciona e se financia, pelo secretismo e pela discrição das relações entre os seus membros, exactamente como a maçonaria. Foi por esta razão que Chesterton deixou de acreditar na democracia (cf. aqui).
Por isso, talvez Deus não se importe de saber o que se passa na generalidade dos quartos portugueses, mas para os contribuintes, aquilo que lá se passa envolvendo políticos e gestores públicos e os seus negócios de alcova pode ser relevante a respeito da integridade ou da corrupção com que são utlizados os dinheiros públicos.
Segue-se que, agora que o eurodeputado Paulo Rangel admitiu publicamente a sua homossexualidade, a questão importante passa a ser a seguinte:
-Será que, enquanto foi director da sociedade de advogados Cuatrecasas, o eurodeputado Paulo Rangel do PSD alguma vez teve como namorado algum gestor público, também ligado ao PSD que, no secretismo da alcova, lhe adjudicasse contratos envolvendo dinheiros públicos em benefício da Cuatrecasas e do Partido?
Trata-se de uma questão de manifesto interesse público que o eurodeputado Paulo Rangel talvez queira agora esclarecer.
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