01 outubro 2020

do lado da corrupção

A observação da Maria de Fátima Bonifácio, que tenho vindo a referir (cf. aqui), segundo a qual, no âmbito da civilização ocidental ou cristã, os países de cultura protestante são menos corruptos do que os países de cultura católica, é confirmada empiricamente.

A organização Transparency International publica anualmente um ranking de países segundo um índice de corrupção (cf. aqui). No topo da tabela, considerados os países menos corruptos do mundo, estão os países de cultura protestante do norte da Europa, como a Dinamarca e a Suíça. Neste ranking, os países católicos da Europa, como Portugal, Espanha ou Itália comparam desfavoravelmente face aos protestantes. 

A mesma situação ocorre nas Américas onde os países do norte - EUA e Canadá - tocados pela influência protestante comparam favoravelmente com os países católicos da América Central e do Sul, como o Brasil, a Argentina ou a Venezuela.

Não surpreende que assim seja. A revolta protestante iniciada por Lutero na Alemanha em 1519, e que rapidamente se propagou aos países do norte da Europa, foi uma revolta contra a corrupção que grassava na Igreja Católica (e também nas monarquias católicas).

A corrupção era de toda a ordem, moral, teológica e financeira, e ficou célebre como paradigma desta corrupção generalizada na Igreja Católica a questão das indulgências. A Igreja vendia a dinheiro a remissão dos pecados e a vida eterna. 

Tudo o que era necessário para um homem se livrar do inferno, ou mesmo do purgatório, e aceder ao paraíso, era ter dinheiro para pagar. Para quem, como a Igreja Católica, sempre depreciara o dinheiro, exaltando os pobrezinhos e o amor ao próximo, esta era uma reviravolta extraordinária.

Na altura, o mundo estava dividido entre Portugal e a Espanha, em resultado das suas respectivas conquistas coloniais e era a Igreja que adjudicava o direito internacional. Era do interesse de Portugal e Espanha ficarem do lado da Igreja.

Por isso, perante a ofensiva protestante dos países do norte da Europa - o movimento conhecido por Reforma Protestante -, Portugal e Espanha puseram-se do lado da Igreja - o movimento conhecido por Contra-Reforma Católica.

Em certo sentido, certamente no que à corrupção diz respeito, Portugal e Espanha ficaram do lado errado - ficaram do lado da corrupção. Ficaram a defender a Igreja Católica que era considerada corrupta pelos protestantes, e os protestantes tinham razão. 

Não surpreende que ainda hoje os países católicos como Portugal ou Espanha tenham índices mais elevados de corrupção do que os países protestantes, como a Dinamarca ou a Suíça. Na realidade, em matéria de corrupção ou de ausência dela, os países protestantes são o grande exemplo para o mundo.
 

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