21 janeiro 2019

populismo na saúde

O SNS está submetido a critérios políticos que procuram branquear a imagem da instituição junto dos utentes; eu chamo a isto populismo.

Branquear a imagem, sobretudo navegando à vista e com remendos, para que a população nunca se aperceba das insuficiências do sistema. Temos vindo a constatar isso, por exemplo, com a ala pediátrica do S. João que quase todos os meses é alvo de anúncios bombásticos de financiamento e arranque das obras sem que nada se veja de concreto. Ao mesmo tempo que as propostas da Associação Joãozinho parecem ignoradas.

Neste poste eu gostaria de salientar uma área em que o populismo se manifesta de maneira perversa e com grave prejuízo para a globalidade dos utentes. Refiro-me às famigeradas listas de espera.

Para atacar as listas de espera, o Ministério da Saúde (MS) criou um programa de produção adicional, pago à peça aos profissionais que adiram a esta forma de trabalho extraordinário. Ver também este poste.

Ao fazê-lo, o MS gerou também um incentivo a engrossar as tais listas de espera, que se tornaram, nalguns casos, a principal fonte de rendimento dos médicos.

Por outro lado, desviou recursos escassos para as especialidades cirúrgicas, em detrimento das especialidades médicas. Como quem estica um cobertor e destapa os pés para tapar a cabeça.

Reparem no número de operações às cataratas realizadas, em Portugal, à custa do adicional – ver quadro. E perguntem-se se não nos teremos tornado nos “campeões da cataratas” à custa, por exemplo, da oncologia pediátrica.



Os recursos, na saúde, são sempre escassos, mas quando são canalizados para mascarar as insuficiências do SNS, estamos a falar de populismo puro e duro, por vezes de consequências fatais.

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