Quem lê o Portugal Contemporâneo já se apercebeu, pelos postes do Prof. Pedro Arroja, da bagunça que paira no SNS. É uma (des)organização completamente politizada, sem estratégia e sem objetivos claros.
Aproveitando o distinto auditório que os referidos postes cativaram, vou deixar aqui algumas reflexões que demonstram o estado caótico a que chegou esta sétima maravilha do Estado Social.
A minha primeira atenção vai para o chamado “adicional”, como é conhecida a teta que o exíguo orçamento do Ministério da Saúde (MS) disponibiliza para os funcionários de todos os escalões profissionais e que, nalguns casos, duplica ou até triplica os respetivos salários base.
Passo a explicar aos incautos contribuintes em que consiste o adicional. A maior parte da produção cirúrgica nos hospitais do SNS é feita na chamada rotina, mas, para incentivar os funcionários, o MS criou um regime especial – o tal adicional, em que remunera à peça pelo trabalho efetuado para além do tempo normal de trabalho.
Neste momento, nalguns hospitais, a produção de rotina ronda os 70% do total e a adicional corresponde ao restante, cerca de 30%.
Como é que essa produção adicional se reflete nas remunerações? Vejamos o exemplo dos médicos: O salário médio líquido de um especialista sénior do quadro ronda os 2.500,00 €, com as urgências recebe mais uns 1.500,00 € e o adicional, quando existe, chega a duplicar ou triplicar o salário base.
Isto é, um especialista sénior, que faça urgências e adicional leva para casa entre 6.500,00 a 9.000,00 € líquidos. Todos os outros profissionais que aderem ao adicional veem também as suas remunerações chorudamente inflacionadas.
Justo? Injusto? Não me vou pronunciar sobre isso.
Chamo apena a atenção para o seguinte: que tipo de empresa privada é que duplica ou triplica os salários base por um aumento de 30% na produção? Julgo que estamos perante uma situação que necessita ser esclarecida pelo MS.
Quem trabalha no sector privado tem prémios de produção e bónus, mas estes raramente ultrapassam uma pequena percentagem do salário base.
Quantas horas é que os médicos dedicam, por semana, à rotina e ao adicional? À rotina as paroquiais 40 horas e ao adicional (sendo bastante variável) entre 8 a 20 horas. A remuneração adicional custa, portanto, cerca de 5 a 10 vezes mais, por hora, do que a remuneração base.
Em especialidades como oftalmologia e ortopedia, os salários tendem a triplicar e não é invulgar ultrapassarem os 10.000,00 € mensais líquidos.
Entretanto o SNS debate-se com graves problemas económicos e o problema das crianças internadas em contentores no Hospital de S. João é apenas a ponta do icebergue.
Haja saúde!
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