26 março 2018

exemplar

Tendo admitido que o Portugal Contemporâneo é o meu principal instrumento de defesa e, já agora, também de contra-ataque, porque é esse o modo em que presentemente me encontro, é altura de referir uma interpelação que me têm dirigido algumas pessoas.

A interpelação é a seguinte: Não será um risco estar a escrever no Portugal Contemporâneo enquanto o julgamento está a decorrer?

Claro que é um risco.

A minha resposta breve é uma analogia tirada da aviação. Quando um avião está no ar, quaisquer que sejam as emergências ou os riscos que então se lhe deparem pela frente, o pior que pode fazer é parar.

Eu comecei a escrever sobre o assunto logo que tomei conhecimento da queixa-crime (Setembro 2016), aumentei o ritmo assim que foi produzida acusação (Julho de 2017), e desde o início do julgamento (Fevereiro de 2018), não reduzi a intensidade - talvez até, pelo contrário.

A razão é que há certas pessoas, e certas circunstâncias na vida, perante as quais o pior que se lhes pode mostrar é medo - e é isso que se aplica aos meus acusadores.

O risco está obviamente relacionado com um dos intervenientes no julgamento que até aqui, de forma propositada e ostensiva, eu nunca mencionei - e que é mesmo o interveniente principal.

Aquilo que, neste momento, eu tenho para dizer acerca do juiz - e para que a minha palavra fique já hipotecada, independentemente de ele vir a decidir a meu favor ou contra mim -, é o seguinte:

Ele tem conduzido o julgamento com um profissionalismo exemplar.

Quanto às pessoas que me interpelam sobre os riscos, respondo assim, com mais detalhe:

i) Sou um homem livre e nunca cometi qualquer crime na minha vida;
ii) Estou a fazer uma obra-de-bem em relação à qual nenhum interesse pessoal me pode ser imputado;
iii) O julgamento é público, está a ser gravado, e qualquer pessoa pode reportar sobre ele;
iv) Sou réu neste julgamento, mas existe um antigo princípio de justiça segundo o qual o réu é presumido inocente até a sentença ser transitada em julgado;
v) Sou cidadão de um país democrático onde prevalece o direito à liberdade de expressão.

Não existe, portanto, qualquer razão para ficar calado. Isso era o que os meus acusadores queriam e esperavam.

E essa terá sido a maior surpresa que tiveram.

Sem comentários: