26 agosto 2017

na cadeira

No dia em que eu fizer a lista das dez personalidades mais fascinantes que conheci na vida, e por quem tenho maior admiração, ele estará certamente lá. É certo que nunca vou chegar ao ponto a que chegou o cigano da história que ele próprio me contou no dia em que regressava de uma visita a uma delegação do F.C. Porto numa terra da Província.

-Senhor Pinto da Costa... tenho tanta admiração por si... que a semana passada nasceu-me um filho... e pus-lhe o seu nome... 

-Ah sim?... E que nome é que lhe pôs ... Jorge ... Nuno ... Jorge Nuno...?

-Nãooooo... Pus-lhe Jorge Nuno Pinto da Costa!...

Desde que, indo de Lisboa, fui estudar para o Porto em 1972 que comecei a observar com desgosto a ascendência do F.C. Porto ameaçando o Benfica, que tinha liderado o futebol nacional na última década e meia. Em criança eu tinha sido um benfiquista ferrenho, feito sócio do clube aos 5 anos de idade, tinha assistido à estreia do Eusébio e vibrado com todos os grandes êxitos do Benfica no país e no estrangeiro. 

Eu reconhecia grande qualidade a um treinador como o José Maria Pedroto e a muitos dos jogadores que iam passando pelo F. C. Porto  - e o peruano Cubillas foi para mim o melhor de todos, uma opinião que, muitos anos mais tarde, vi partilhada pelo antigo futebolista, e agora treinador, Jaime Pacheco. Mas nenhum era um Eusébio.

Quando a liderança do F.C. Porto se consolidou a partir do final da década, eu continuava a procurar no relvado o Eusébio do F.C. Porto e nunca o encontrava. Só muitos anos mais tarde me dei conta que procurava no sítio errado. O Eusébio do F. C. Porto estava sentado na cadeira da presidência.

Passados anos, no início da década de 90, rendido à evidência, fiz um comentário muito elogioso sobre ele aos microfones da TSF. No dia seguinte, recebi um telefonema a agradecer-me e a convidar-me para almoçar. Nunca um benfiquista deve ter tido tanta admiração por ele, a qual é retribuída com genuína amizade.

Enviei-lhe um e-mail em Janeiro, através da sua secretária, a pedir-lhe que me recebesse e a dizer-lhe ao que ia. Eu sabia que o F.C. Porto  era um mecenas muito desgastado pelo Joãozinho ao longo dos últimos anos.  O seu presidente,  e os seus jogadores, actuais e veteranos - o caso mais notável era o do Vítor Baía - eram constantemente solicitados para eventos sociais de fund rasing em favor do Joãozinho, ou para visitarem as crianças internadas na ala pediátrica do HSJ. 

O presidente Pinto da Costa recebeu-me nas instalações do Estádio do Dragão, em cujo restaurante almoçámos. Por razões pessoais, ele era um homem muito grato ao Hospital de S. João. Ouviu-me, contei-lhe os progressos que tinha realizado, convidei-o para a cerimónia do lançamento da primeira- pedra, e fiquei a aguardar a reacção.

-Vamos já organizar um grande jantar de gala para o Joãozinho!...

Uma semana depois, eu estava à direita dele, sentado numa grande sala de reuniões do Estádio do Dragão, rodeado de pessoal executivo do F.C. Porto, enquanto ele, à cabeceira, distribuía instruções sobre a organização do jantar.

O jantar viria a realizar-se no Pavilhão do Estádio do Dragão a 23 de Abril - o dia em que, curiosamente, ele completava 33 anos na presidência do F. C. Porto. Foi seguido de um espectáculo com o Rui Reininho e o Paulo Gonzo, ambos convidados pelo presidente, e transmitido em directo pelo Porto Canal.

Estiveram presentes trezentas pessoas e cada lugar custava mil euros. Descontando os custos do jantar, a Associação encaixou nessa noite 250 mil euros em favor da obra do Joãozinho.

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