16 abril 2017

a crise dos refugiados

Para além do seu significado teológico, o franciscanismo teve um significado sociológico importante revelando a Igreja Católica no seu papel de instituição moderadora, ao ponto de fazer conviver todo o tipo de pessoas numa mesma comunidade,  sem excluir ninguém.

Este carácter inclusivo do catolicismo, e, principalmente,  o carácter exclusivo do seu oposto - o protestantismo -, está aí hoje à vista na crise dos refugiados.

Aquilo que o  franciscanismo veio mostrar é que a felicidade não se encontra necessariamente na riqueza, e que um homem pode ser feliz na mais extrema pobreza. E fê-lo, não por argumento intelectual, mas através de exemplos concretos porque esses não enganam ninguém.

Pois se até pessoas ricas - como Francisco e Clara de Assis - podiam encontrar a felicidade na pobreza, como é que o  homem vulgar, que nasceu pobre, e nunca conheceu outra condição senão a pobreza, não a poderia encontrar também? O exemplo do franciscanismo, bem como das  outras ordens mendicantes, placou o ressentimento dos pobres em relação aos ricos, e permitiu que eles convivessem lado a lado na mesma comunidade.

A Igreja Católica exibia aqui, no seu melhor, uma das suas principais características sociológicas, que é o seu papel de moderadora de conflitos sociais. E fazia-o através de um meio que não ocorreria a ninguém, que era o da institucionalização da pobreza - e de uma pobreza ainda por cima voluntária - representada pelas ordens mendicantes.

Assim que o movimento do protestantismo foi desencadeado na Prússia, a primeira coisa que os protestantes fizeram foi expulsar as ordens mendicantes julgando que, ao fazê-lo, erradicavam os pobres do seu meio. Para os países tocados pela influência protestante ser pobre passou a ser  um estigma pessoal e social.

Daqui resultaram, pelo menos, duas consequências não previstas.

A primeira é que, sem o papel moderador da Igreja, se reavivou aquele que deve ser o mais antigo ressentimento da vida em sociedade - o ressentimento dos pobres contra os ricos. E não passaram muitos séculos para que na mesma Prússia - onde haveria de ser? - Marx desse voz a esse ressentimento com  o seu conceito de luta de classes que, na sua essência, é a oposição dos pobres contra os ricos, pela violência, se fôr necessário.  As consequências são bem conhecidas.

Em segundo lugar, os países católicos, com a pobreza institucionalizada, ganharam a reputação de serem países pobres - e até Salazar, que era um homem inteligente, não se cansava de repetir este cliché em relação a Portugal (porque é de um cliché que se trata). Pelo contrário, os países protestantes, sem pobreza institucionalizada, passaram a gozar da reputação de serem "países ricos".

Precisamente por isso, são hoje os países de influência protestante que atraem os pobres de todo o mundo. Julgaram que os tinham erradicado, mas enganaram-se. Eles entram-lhes agora pelas portas dentro sem controlo.

Os refugiados entram na Europa frequentemente por países católicos - como a Itália, Espanha, Portugal - ou pela ortodoxa Grécia. Mas não é aí que eles querem ficar. Eles querem ir para a Alemanha ou até, a partir daí, dar o salto para os EUA. E sem a moderação activa do catolicismo, os pobres são aí um potencial enorme de violência.

Como se tem visto.

4 comentários:

Patch Cipriano disse...

Boa tarde...
Em primeiro ponto, apenas queria informar que estou aqui, tentando expor o meu ponto de vista perante o tema abordado.

No início do texto é escrito que a igreja católica possui um papel capaz de promover a convivência de todo o género de pessoas, sem exclusão de parte. No entanto, na minha opinião, este é um facto considerado falso pois, desde a existência do cristianismo que esta tende a excluir todos aquele que não se dedicam ao seguimento das mesmas pegadas. Assim sendo, pode-se afirmar que a igreja católica não exclui as pessoas de todo o Mundo que regem sua vida através das regras cristãs pois, os restantes não fazem parte desta lista de inclusão.

Quanto a referência da pobreza voluntária.
O estilo de vida de pobreza voluntária é o género de vida em que o Ser Humano deverá permanecer dependente da sua própria mãos de obra e plantações, tal como uma pessoa ruralizada, ou seja, mais precisamente uma pessoa Pagã. No entanto, quando o cristianismo apareceu, uma das suas primeira tarefas fora levar a todas as pessoas à conversão cristã, mesmo que para esse resultado fosse necessária a força autoritária e bruta (facto que todo o jovem prende na escola e, com isto, eliminar o Paganismo, os seus fiéis seguidores e o seu estilo vida, levando as pessoas, mais precisamente da burguesia e das suas superiores a um estilo de vida de grandes poderes e riquezas, mantendo os restantes na escravidão. Aliás, muitos documentos afirmam que o vaticano é um dos locais de maior riqueza no Mundo, ou seja, um local onde a pobreza não possui formas de existência.

Resumindo e concluindo...
O Paganismo, como exemplo, ainda hoje possuí seguidores que vivem com baixos custos por opção pessoal e os superiores dos diversos aglomerados existentes pelo Mundo são, igualmente, viventes do mesmo estilo de vida. Por outro lado, o cristianismo, indiretamente, impõem à pobreza enquanto que os seus superiores, mais concretamente igrejas e, principalmente, o vaticano, por sua vez levam uma vida de grande poder e riqueza (escusado será dizer que até o vaticano terá mais poder que os reis/presidentes).

Rui Alves disse...

Caro Maximiliano
Logo no seu primeiro parágrafo, esquece pessoas como Madre Teresa de Calcutá, que ajudava os pobres e rejeitados independentemente do credo e cultura. Aliás, por isso mesmo, ao tentar ajudar hindus, sofreu resistências e choques de grupos que não aceitavam ver freiras católicas se intrometerem no seu meio social.

Rui Alves disse...

No entanto, quando o cristianismo apareceu, uma das suas primeira tarefas fora levar a todas as pessoas à conversão cristã, mesmo que para esse resultado fosse necessária a força autoritária e bruta

Tem a certeza?

name disse...

A Igreja Católica não é formada por anjos. É formada por pessoas. Tal como Budismo, Islamismo, Confucionismo, Socialismo (russo, alemão, italiano, cubano, etc.)

São as pessoas que formam uma formação, um grupo. Felizmente... há muitos tolos que nem o sonham. As consequências das acções de um grupo derivam das pessoas que o formam.

A Igreja Católica é a entidade mais antiga e mais poderosa do planeta. Há tolos que não o compreendem. Somente por sempre ter escolhido, para ela, as melhores mentes.