O BCE considera que o sistema de supervisão bancária de Angola não tem qualidade. Assim, ordenou ao BPI, que tem uma exposição substancial em Angola (através do Banco de Fomento de Angola, de que é o acionista maioritário) que reduzisse a sua exposição a este mercado.
Foi assim que tudo começou.
Antes de prosseguir, convém dizer que em Angola onde, segundo o BCE, o sistema de supervisão bancária não tem qualidade, não há bancos falidos. Pelo contrário, na UE, onde o sistema de supervisão bancária tem alegadamente muita qualidade - ele é presidido pelo BCE e executado pelos bancos centrais nacionais - há vários bancos falidos e outros em vias de falência. Só em Portugal existem quatro casos consumados.
Os dois accionistas principais do BPI (a Santoro Finance de Isabel dos Santos e o CaixaBank da Catalunha) foram chamados para resolver o problema.
Não chegaram a acordo.
Em consequência, o Governo fez uma lei à medida, que o PR prontamente promulgou, na prática entregando o BPI ao CaixaBank, que poderá sozinho resolver o problema (v.g., vendendo parte da posição do BPI no BFA), pelo caminho depreciando a posição da Santoro Finance de Isabel dos Santos.
No final do processo:
1) O BPI fica com menos negócio em Angola (numa altura de enorme fragilidade dos bancos portugueses).
2) O BPI fica nas mãos do CaixaBank (meses depois de o Banif ter ficado nas mãos do Santander).
3) Portugal arranja um conflito com Angola.
Não apareceu ninguém neste processo a defender o BPI e Portugal. Teria de ser um Ministro das Finanças, um Primeiro-Ministro ou um Presidente da República, de preferência todos juntos, com a virilidade suficiente para dizer ao BCE: Não!
PS. Imagine-se que tinha sido uma autoridade de supervisão nacional (Banco de Portugal ou CMVM) a impor aquela obrigatoriedade ao BPI. Metade do país opinativo ter-se-ia levantado contra, incluindo muitos governantes, e nada iria para a frente. Mas como a imposição veio de fora, ajoelharam todos.
11 comentários:
No século XIII, com a sua vitoria contra o rei, a aristocracia inglesa extraiu a ferros uma forma republicana de governo, codificada na Magna Carta (um charro que ainda hoje baba de gozo os drogados nas liberdades dos oligarcas). Nos séculos posteriores viria a abater mais dois ou três reis que tiveram veleidades de lhe resistir ao jugo férreo.
Como todas as repúblicas antes dela, em breve estava a intrigar internacionalmente. No século XIV, a perspectiva da unificação natural dos tronos da Peninsula Ibérica desagradava-lhe sobremaneira. Foi assim que "uns apoios" permitiram a Nuno Alvares Pereira derrotar o seu irmão mais velho Pedro, que combatia pelo herdeiro legítimo do trono e morreu na retirada de Aljubarrota. Portugal continuou um reino separado, e a "mais velha aliança" estava forjada. (Nos séculos seguintes, com os ingleses a pilharem-lhe navios e terras, os portugueses ficaram cientes do seu valor. Mas era livremente.)
Passaram uns séculos, e do outro lado do oceano estabeleceu-se uma versão ainda mais refinada da república aristocrática, começada 'ab novo' sobre o melhor que Atenas e Roma tinham produzido. Tinham um problema semelhante ao dos ingleses: estes tinham uma ilha na beira de um continente, aqueles tinham um continente menor a oceanos de distância da massa contigua de Africa e Eurásia.
No século XX, com uma incrível ousadia e inúmeros golpes de mestre, deixaram no pó todos os rivais. A Rússia imperial foi abatida com uma seta envenenada, a revolução bolchevique, devidamente acarinhada pelas mentes progressistas. Passou as sete décadas seguintes a imitar grotescamente a propaganda e o desenvolvimento industrial dos mentores (que lhe declaravam o ódio mais útil jamais visto, genial dois em um).
A Europa foi chacinada em duas guerras, que diga-se em abono da verdade, não parecem ter necessitado de grande impulso externo. Aparentemente. Talvez. Foi práticamente só aparecer no fim a baionetar os caídos.
E a África? Pois, ainda bem que perguntam. Era uma chatice se, como estava lançado desde o século XIX, se formasse um bloco Euro-Africano forte e rico. Foi preciso muita liberdade para evitar tal coisa, fornecida abundantemente quer de Oeste quer de Leste.
E é assim que estamos - outra vez - à pega.
Quando estávamos sob o jugo dos Filipes, entramos em guerras que não eram nossas, contra os nossos interesses, e por pouco não arruinamos a nossa centenária aliança com a Inglaterra. A História não se repete, mas rima.
E se a Família Santos nacionalizasse o BFA também por decreto?
E se fosse consigo?
Somos governados por uma escumalha da pior espécie e só nos resta um destino.
A bancarrota.
Falta aqui um pormenor, que é o facto de o banco angolano ser liderado por uma mulher.
Bom, o caso BESA é central nas relações UE/BCE com Angola.
.
Quando o governador do BP em leviana sintonia com o governo PPC decidiram considerar lixo a garantia presidencial prestada para auxílio ao BESA (no valor de 4 mil milhões), angola retaliou e retirou a garantia ora prestada. Se é lixo então não a quereis, pensou o Zedu. Nacionalizou o BESA que agora se chama banco económico.
.
Em retaliação o BCE, instruído pelo governo PPC que foi fazer queixinhas, decidiu avaliar negativamente os activos portugueses em angola, deteorando administrativamente os rácios da banca portuguesa exposta a angola. O governo PPC deu um tiro no próprio pé duas vezes, portanto. Perdeu a garantia de 4 mil milhões e ainda teve o topete de interferir nos negócios em angola usando o BCE. Sempre ao arrepio dos interesses nacionais.
.
É uma terra de imbecis. A imbecilidade na governança é assustadora.
.
Rb
a medida, que o PR prontamente promulgou, na prática entregando o BPI ao CaixaBank
Apenas entregou ao CaixaBank aquilo que é dele por direito.
O Caixabank tem 44% das ações do BPI e tem, por esse facto, direito a ter voz dominante nele. Mais nada.
"É uma terra de imbecis. A imbecilidade na governança é assustadora."
De acordo. A governança nunca foi tão imbecil como agora.
Miguel de Vasconcelos, lá no Inferno, deve estar a dar boas gargalhadas.
Pouco percebo disto mas:
a) os bancos espanhóis não deterão participações em bancos Venezuelanos e Argentinos? e sim, não haverá problemas de exposição ao risco similares aos do BPI? o BCE não faz nada?
b) Os bancos franceses não deterão participações em bancos do Mali e do Senegal?, Se sim, não haverá problemas de exposição ao risco similares aos do BPI? o BCE não faz nada?
c) ans so on...
O morgadinho da cubata também tinha muita fé na "garantia" do Zédu.Que era inconstitucional segundo a UNITA por "exceder" além de 1,3 mil milhões...
Os descolonizadores agora salvam os colonizados até colonizando-nos...sempre com base na segurança social claro...
http://observador.pt/2016/04/23/angola-responde-portugal-no-caso-bpi/
Enviar um comentário