Tudo visto, a resposta que mais me satisfaz a esta questão é a seguinte: "Não querem ser julgados".
Os partidos políticos são uma tradição protestante. Nesta tradição, Cristo veio ao mundo, em primeiro lugar, para fazer Justiça. A tradição católica mantém que Cristo veio ao mundo, em primeiro lugar, para dizer a Verdade (e, de resto - questiona -, como é possível fazer Justiça sem antes conhecer Verdade?).
De qualquer forma, o julgamento dos comportamentos humanos põe-se nas duas tradições, a católica e a protestante. Na religião cristã, como em praticamente todas as religiões, Deus é visto como um Pai. O juiz é, portanto, a figura do Pai, cujo atributo principal como juiz, para além da independência, é o de que é um juiz benevolente, como é todo o pai.
A religião cristã, ao contrário do que dela mais tarde fez o protestantismo, não é dada a abstracções. Deus não é uma realidade abstracta que está nos céus. No cristianismo Deus é uma pessoa concreta - Cristo ("Eu e o Pai somos um só").
Portanto, o Juiz do Cristianismo é Cristo. E é a figura deste Juiz que os militantes partidários não gostam de ter por perto. Compreende-se porquê sem necessidade de elaborar.
A tradição católica, a partir de Cristo e dos seus apóstolos, criou e desenvolveu a figura do padre, que é também a figura do pai. Na tradição católica, o juiz dos nossos comportamentos e acções é o padre e o sacramento da Confissão católico é o acto do julgamento.
Porém, a tradição protestante, que rejeitou a figura do padre (e o sacramento da confissão), levantou uma questão: quem julga os meus comportamentos e acções?
Penso que foram dadas várias respostas a esta questão, mas a principal é: "a minha consciência". Portanto, eu ajo correctamente se agir de acordo com "a minha consciência". Ora, "a minha consciência" não é um juiz credível. É um juiz parcial porque, na realidade, eu estou a julgar-me a mim próprio.
Ao afastarem da vida política Cristo (e os padres, que são imitações de Cristo), os partidos políticos e os seus militantes não querem é ser julgados. O critério usado por Cristo é sempre o mesmo - o do bem-comum.
Será porque as decisões dos partidos nunca servem o bem comum?
Penso que sim. Um partido, como a própria palavra diz, é um grupo sectário e, e sendo assim serve é os interesses da seita, jamais aqueles que são comuns a todos.
Um militante partidário, que seja verdadeiramente um militante partidário, não presta contas a ninguém senão a si próprio ou "à sua consciência". Ele é um pequeno deus porque só Deus não presta contas a ninguém, senão a si próprio.
20 comentários:
O que se pretende, repito, não é tirar Cristo, nem Deus, das decisoes politicas. É, isso sim, tirar as religiões e os seus dogmas da decisão sobre o bem comum. Como não pode deixar de ser.
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De resto Cristo agradecerá se não o usarem para disputas políticas. A Deus o que é de Deus, a Cesar o que é de César.
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As religiões podem querer muito impor dogmas à comunidade, e fazem-no em várias sociedades mais atrasadas. Umas religioes proíbem o preservativo, outras a carne de porco, outras a de vaca, umas exigem burka, outras consideram o divórcio inadmissivel... o sexo para umas não tem apenas função reprodutora, para outras é pecado se não for para reprodução.
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Nao dá. As crenças devem ficar fora. Bem fora e simultaneamente no coração de cada um.
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Rb
Ricciardi
Tiremos a religião das discussões em sociedade, e ficam as ideologias. Que não têm menos dogmas. Só os dogmas das ideologias é que são válidos para discussão?
De qualquer forma, o julgamento dos comportamentos humanos põe-se nas duas tradições, a católica e a protestante. Na religião cristã, como em praticamente todas as religiões, Deus é visto como um Pai
Tenho seriissimas dúvidas acerca disto...
Quer dizer, o Budismo não funciona assim. Mas pronto, é uma religião que só é praticada por cerca de metade da humanidade... coisa pouca aos olhos do PA.
Rui Silva
De resto Cristo agradecerá se não o usarem para disputas políticas. A Deus o que é de Deus, a Cesar o que é de César.
Não posso concordar mais com o Rb.
A grande inovação do cristianismo foi precisamente admitir que a politica devia estar fora dos tramites da religião. Ou que a religião deveria estar fora da politica, se quiserem.
Mesmo nas sociedades relativamente laicas de Roma e da Grecia antiga, a cidade era identificadas com o seu Deus. Socrates foi condenado entre outras com o crime de "não reconhecer os Deuses que a Cidade reconhecia" (fonte: https://en.wikipedia.org/wiki/Trial_of_Socrates#Ancient_interpretations )
Da mesma forma, na Roma Antiga, os imperadores eram considerados seres de natureza divina (apesar de estarem sujeitos aos todos os vicios demasiado humanos). Julio Cesar considerava ter direito a fazer sexo com qualquer mulher que desejasse porque, defendia, tinha necessidade de propagar a sua semente o mais possivel. (este Julio Cesar sabia fazer as cenas :-) :-)
Ora, Jesus Cristo (também ele condenado por "não reconhecer os Deuses que a Cidade reconhecia" ) rompeu com a pratica corrente que transformava em teocracia qualquer regime politico (em que "governante" é igual Deus, regulado por leis divinas)
No campo poltico, ele defende que a poltica é humana e deve ser praticada tendo em conta o caracter humano dos seus interveneientes e das sua sinstituições. Como tal não pode regular as relações com o divino. Mas tambem defende o contrário: o divino não consegue regular o "negócio das cidades" ("politica").
Curiosamente, esta forma de fazer as coisas não tornam as sociedades menos cristãs mas pelo contrário tornaou-as mais cristãs: porque mais humanas e mais compassivas... a marca definitiva da verdadeira cristandade.
Ora que eu vejo nos escritos "católicos" do PA, tal como nos dos talibans ou no dos evangelicos americanos, é precisamente a negação desta mensegem profundamente cristã.
(mais uma vez e curiosamente estas posições têm origem em "intelectuais", que tentam racionalizar e normalizar o divino á medida do home... precisamente o contrário do que Cristo defendia, é giro, não é?)
Rui Silva
PS. Eu não sou cristão mas a minha Mãe é. E não é "intelectual", Graças a Deus!
Concordo com o Arroja: os homens enquanto pequenos deuses passaram a prestar contas só a si próprios. Não concordo é com a ideia de que isso seja uma consequência do afastamento de Jesus da vida em geral, pois um simples silogismo lógico mostra-nos que se "os homens foram criados à imagem e semelhança de Deus" e "Deus só presta contas a si mesmo" então "os homens são os criados que só prestam contas a si mesmos". Ou seja, os homens só prestarem contas a si próprios é afinal a realização e o cumprimento da doutrina cristã, até porque consiste em seguir o exemplo daquele que ficou conhecido como encarnação de Deus, e que rejeitou muitos dos preceitos morais que os "padres" judeus consideravam invioláveis e sagrados. Ao fim ao cabo, Jesus foi condenado à morte porque decidiu que não tinha de prestar contas aos sacerdotes e por se manter fiel à sua própria consciência.
Depois, convém também lembrar que foi Jesus quem disse, em oposição aos tais sacerdotes, "não julgueis e não sereis julgados", sendo assim quem começou por rejeitar os julgamentos em nome de Deus e da religião e feitos pelas supostas autoridades religiosas. Desta forma, pode-se dizer que os protestantes estão mais próximos que os católicos da "verdadeira" doutrina cristã, pois o protestantismo nasceu como rejeição do poder papal e de todos os intermediários entre os crentes e Deus. Mais: ao contrário do que diz o Arroja, é também no protestantismo que Deus é uma realidade intimamente ligada à vida concreta (e por isso mesmo Max Weber estabeleceu uma relação entre o surgimento do capitalismo e do protestantismo), e não no catolicismo que concebeu a sua teologia servindo-se da filosofia platónica, primeiro, e da aristotélica, depois, do que resultou um Deus dos filósofos (ou abstracto) cristianizado, rejeitado por Lutero (para quem a Razão era uma prostituta) e mais tarde pelo filósofo protestante Kierkegaard. Para além disto, no catolicismo mais popular é que Deus é um ser que vive nos céus e sem qualquer ligação com a vida terrena, pois o seu papel é apenas o de nos julgar depois da morte. O julgamento cá em baixo era feito pelos padres, que a troco de poder e pagamentos perdoavam a vida imoral. Uma espécie de vendilhões do templo.
Ao Anonimo das 7:33
Va pro caralho :P e leva o cao!
Estou à espera da tola da Zazie.
Populaça
> Os partidos políticos são uma tradição protestante.
Camarada PA, isto de ter uma perspectiva tem limites. Não abandalhe demasiado a história, que depois quem tiver lido um ou dois livros começa a ter dificuldade em acreditar no resto que diz, que até é relevante.
Quer dizer, os aristocratas com dinheiro (optimates) e os aristocratas sem dinheiro (populares) de Roma andaram à pancada porquê? Tinham lido as teses do Lutero?
(Sem falar dos tiranos e democratas gregos, bla-bla wiskas saketas, mai-los babilónios e persas e egipcios e os outros todos perdidos nas brumas.)
Um medievalista ao menos não começa a história por Roma; começa pelo Génesis
":OP
> Nao dá. As crenças devem ficar fora
Camarada, pare. Camarada, tenha dó. Não diga bojardas destas.
As crenças são a primeira coisa, são a expectiva comum que marca qualquer sociedade. A sua "sociedade avançada" onde vale tudo é uma mera maralha onde todos se agridem porque as expectativas são individuais e diferem entre cada dois individuos que interajem.
Olhe, só para lhe dar um exemplo do que citou: o divórcio. Haver divórcio é a diferença entre uma mulher ser uma matrona segura da sua posição como governante do clã, e ser uma vaca alugada para parir.
Tenha dó e ligue os miolos, em vez de papaguear "progressismo".
> começa pelo Génesis
Bem, a instrução de alguns de nós, falando em geral, claro, é limitada ;-)
Mas esteja à vontade, embora eu seja resistente ao conhecimento, não sou impermeável ....
(a propósito de ontem aqui, obrigado pelas boas palavras, e se quiser ver de onde vem o pop viral, olhe para um caso incomummente pouco discreto: https://www.google.com/search?q=ONGs+funded+by+Soros )
ehehe
Isso é impressionante. É mesmo impressionante e nem começou com ele. Começou logo no pós-guerra com todas essas ONGs dos Direitos Humanos.
Eu sei que a coisa tem de ser brutalmente financiada e haver um gigantesco poder para conseguir até legislar na ONU e UE muito do que querem. E dominam media.
Agora o que digo é que se espalha dessa forma viral que nem sabe propriamente o que está a fazer. E isso acontece tanto mais facilmente quanto mais socializante está a sociedade e mais megafones têm os tais que a tv promove.
Depois, é claro que depende da abertura de esquerda que calha no poder. Porque não é tudo igual. Daí andarem com os mesmos pacotes a tentarem tudo de 4 em 4 anos.
E isso é cá e no resto da Europa.
Mas que isto é a revolução em que tudo o que era sólido se dissolve no ar, não haja dúvida. E a globalização dos media concretiza-a. São todos autores. É tudo o "agora" e vai de roldão porque o que importa é transformar o mundo; não é entendê-lo, como dizia o mesmo.
CRÓNICA: Concordo com o Raposo: odeiem-me também!
http://www.sabado.pt/portugal/detalhe/cronica_concordo_com_o_raposo_odeiem_me_tambem.html
Soros & patrocinam forte e feio as organizações do politicamente correcto.
E existem mais dois pequenos nadas que fazem tudo.
A semântica e o humanismo.
Repare como tudo seria diferente se se falasse como se falava há uns 40 ou 50 anos atrás (ou até muito menos).
Dizia-se assim para o mesmo-«"queremos uma sociedade de gente útil que trabalhe e não dê grande despesa e os inúteis doentes e velhos devem ser despachados. Por iniciativa própria depois de deixados sem alternativa».
Isto não passava- era o nazismo.
Agora dizem com outra semântica e embrulhado em humanismo- «"são direitos", cada um é livre de "optar" e é para evitar todo o sofrimento atroz em que se insiste preservar por dogma religioso da vida não pertencer a cada um».
A coisa está feita- de nazi passa a humanismo progressista que só um reaccionário beato impede.
Zazie,
Muito bem dito.
Cumprimentos
CFe
Há uma confusão de conceitos que anda para aí que ninguém repara.
Uma coisa é a separação entre Igreja e Estado, advogada por Cristo.
Outra bem diferente é confundir sociedade com estado, ora bolas. Estado ( e só escrevo com maiúsculas por ser no início da frase) é uma estrutura administrativa, não a entidade concorrente de Deus cá na terra.
Reclamam (com fundamento ou não) da proibição do galheteiro, do sal em certos alimentos e não sei mais do que, suportados pelo que lhes dá na veneta e depois alijam parte das pessoas que utilizam outros argumentos , que no maior da vezes tem suporte histórico, cultural, moral, ético e científico (até)?
A palavra dada pelo Prof. Arroja é certeira: batota.
Er...pata na poça quanto ao protestantismo...aí quem julga os comportamentos e acções é Deus directamente, não por interposição de terceiros-padres...
Ó Josephvs, qual é o caminho mais curto para ir para o caralho? É o teu cu ou a tua boca?
Pedro Arroja, já lho escrevi: voltou em força e com a segurança que só quem sabe haver Deus poderá ter.
Deus o abençoe e à sua Família.
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