07 setembro 2015

Sócrates

Não é aceitável que um político, usando o poder dos cargos que desempenha ou a influência de que dispõe no meio judicial, tente interferir no processo de Sócrates. Mas desde quando é que discutir as dimensões políticas de um caso é interferir na justiça? A justiça é, por acaso, uma forma de censura?

Veremos se a acusação consegue ou não provar em tribunal que Sócrates cometeu os crimes de que é suspeito. Mas há um facto que já foi admitido por Sócrates e pelos seus coarguidos: durante anos, José Sócrates recebeu secretamente dinheiro de Carlos Santos Silva. A defesa de Sócrates trata isto como um assunto privado, uma relação entre amigos. Mas Sócrates foi secretário-geral do Partido Socialista e primeiro-ministro de Portugal, e Carlos Santos Silva foi administrador do Grupo Lena. Ou seja, Portugal teve um primeiro-ministro e o PS um secretário-geral cujas despesas eram pagas ocultamente pelo administrador de uma empresa com negócios com o Estado. Isto pode ser uma questão judicial, se esse dinheiro tiver tido origem em actos de corrupção, mas deveria ser sempre, e em qualquer caso, uma questão política, para ser discutida politicamente. Noutros países, não seria normal nem aceitável. E aqui? Que diz o PS? Que dizem os outros partidos? Acham isto aceitável? Mais: acham isto normal? E se todos acham isto aceitável e normal, que devemos nós, os cidadãos, pensar de tudo isto – e deles?

Rui Ramos

5 comentários:

Anónimo disse...

Para poupar tempo, é melhor dizer assim: o que é que não há de errado em Sócrates? Para a sanidade mental dos portugueses, limpando esta porcaria que marcou a época tenebrosa do "socratismo" a Justiça prestará um enorme serviço ao país. Há tanta gente condecorada por dá cá aquela palha, mas as pessoas que estão com este caso têm feito um trabalho notável e muito corajoso. Esses sim devem ser devidamente condecorados depois do término bem sucedido deste caso, que acredito é o que sucederá, porque Portugal precisa disso.

Estou-me a borrifar para o António Costa e para o PS, porque merecem o que está acontecer. São cúmplices do Sócrates (com excepção de alguns poucos militantes socialistas), portanto que não se queixem de que este atrapalha a campanha socialista. Antes de ele ser preso não se queixavam. E mais. A magra vitória dos socialistas nas eleições europeias foi imputada a António José Seguro e serviu de pretexto para correrem com ele, mas para mim nem foi dele a responsabilidade, mas sim por Sócrates ter voltado à política e andar a fazer campanha pelo PS.

A taxa de rejeição de Sócrates é altíssima e a coligação aproveitou isso para focar aí a sua campanha na última semana, e tal resultou para encurtar a distância para os socialistas no resultado eleitoral. Mas os me(r)dia - quase todos comprados - foram unânimes na condenação do Seguro, porque se sabia que mais cedo ou mais tarde ele teria de ser posto na rua, pois nunca seria ele o verdadeiro candidato a Primeiro-ministro mas sim António Costa. Só estavam à espera do "timing" ideal para mudar a liderança do partido, consoante a (im)popularidade do Governo e a proximidade das eleições legislativas. A vitória de Pirro do PS na Europeias foi apenas o pretexto para fazer o que estava planeado desde a derrota eleitoral de 2011, o que evidencia bem o carácter nebuloso e intriguista do PS. Há sempre um trouxa (Ferro Rodrigues, António José Seguro) para ficar a fazer oposição durante quase toda a legislatura, e depois vem o outro, fresquinho, em cima das eleições.

Só que desta vez está Cavaco Silva em Belém e as eleições não foram convocadas quando dava jeito ao PS, o que faz toda a diferença. Por isso é que, nem que seja por mais nada, não se pode menosprezar as eleições presidenciais. Um presidente hostil e com boa imprensa (que são todos os de esquerda) faz a vida negra a um Governo de centro-direita.

Ricciardi disse...

Nas transcrições q a Sábado reproduziu há uma pergunta do juiz a Sócrates q me fez 'especie'. Perguntou o juiz se Sócrates admitia q o amigo Carlos pudesse usar o seu nome (Sócrates) e a amizade q tinha para colher benefícios junto de empreiteiros e promotores imobiliários?
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Está pergunta é relevante e pode indicar q muitas das comissões ganhas pelo Carlos podiam ser um típico caso de usar a amizade com o pm para colher benefícios pessoais.
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Sócrates respondeu q tinha o amigo Carlos em boa conta e q não admitia q fizesse tal coisa.
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Portanto, ou se prova q Sócrates conseguia influenciar concursos públicos (parece coisa difícil sem q os concorrentes contestassem), ou provar q o Protal foi feito à medida ao empreendimento Vale do Lobo.
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No primeiro caso teríamos corrupção acto ilícito. No segundo acto lícito.
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Faz toda a diferença.
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Em todo caso estou morto por saber q fortíssimos indícios haveria qdo prenderam Sócrates. Para perceber os fundamentos com q se prende uma pessoa.
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Contínuo a achar q o prenderam para investigar. Qualquer coisa ha-de vir no arresto.
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Em todo caso, 10 meses dá para fazer amor, engravidar e parir um bebé. Na justiça parece q não dá para nada.
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E depois uma acção crime de ministro tem de ter um prejuizo qualquer para o erario publico portugues. Chávez arranja aí umas casas para um empreiteiro português fazer. Ganhas umas coroas. Não te esqueças dos Magalhães.
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Por pressupuesto José.
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Eu pergunto, se eventualmente Sócrates ganhou neste negócio ou fez o amigo ganhar uma comissão qual é o prejuízo para Portugal?
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Nenhum.
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Rb

Ricciardi disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Anónimo disse...

Este Ricciardi é um prato.

Harry Lime disse...

O Rb parece-me uma tipo sensato que escreves umas coisas com sentido.

Acho que o Socrates deveria ter declarado o que recebeu do amigo (se o recebeu enquanto tinha cargos eleitos). Este é o unico aspecto relamente importante.

Quer dizer, se no contexto da lei, é legal não fazer essa declaração, então não há nada do ponto de vista estritamente legal a apontar ao Socrates nesse acto de receber dinheiro.

Já do ponto de vista politico, é uma falha muito grave do Socrates, que a ser exposta no tempo em que era PM teria de conduzir inevitavelmente à demissão.

Rui Silva