11 março 2014

o pseudo-desentendimento


Se houvessem diferenças significativas entre o PS e o PSD/CDS seria fácil conseguir um entendimento pós-troika. Esse entendimento seria negociado e todos perceberíamos que cada parte tinha cedido um pouco para benefício de todos.
Ninguém perderia a face, nem a identidade, porque se trataria de uma negociação genuína, conduzida de forma aberta e transparente. Pelo contrário, todos os participantes veriam o seu estatuto melhorar junto da opinião pública.
O problema, na minha perspectiva, é que esse entendimento não é possível precisamente porque não há quaisquer diferenças entre os partidos do chamado arco da governação. São todos socialistas e todos mais ou menos democratas. As nuances que diferenciam o socialismo democrático da social-democracia e da democracia cristã são já de si ténues e na prática governativa condicionada, em que vivemos, não são nenhumas.
Daí que ninguém se queira chegar à frente, na resposta ao apelo de Cavaco. Um entendimento exporia a total ausência de diferenças e frustraria as respectivas bases eleitorais.
Como as coisas estão, o partido que governa sempre se pode ir queixando da herança que recebeu do anterior e a oposição sempre pode ir prometendo que fará melhor. O “pseudo-desentendimento” é mais conveniente para o atual sistema político-partidário do que qualquer entendimento.

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