11 fevereiro 2014

E em Portugal

"The gold standard did not collapse. Governments abolished it in order to pave the way for inflation. The whole grim apparatus of oppression and coercion, policemen, customs guards, penal courts, prisons, in some countries even executioners, had to be put into action in order to destroy the gold standard." Mises

"Em finais de 1890, o meio circulante nacional era essencialmente constituído por moedas de ouro inglesas (74%), moedas de prata e de cruponíquel portuguesas (12%) e moedas de ouro de cunho nacional (6%). O peso na massa monetária das notas do Banco de Portugal era inda muito reduzido (8%), vigorando a total convertibilidade destas em moeda metálica. Decorrente da grave crise económica e financeira que assolou o país no início de 1891, o valor comercial do ouro passou a ser cotado com um ágio sobre o valor legal das moedas, o que as fez desaparecer de circulação e obrigou à suspensão da convertibilidade das notas." Em A Circulação Monetária na Época do Escudo Português

Várias notas:
- a imprecisão no uso de termos e ideias leva a que quase tudo de importante parecer escapar ao autor e depois aos leitores.
-  as notas e depósitos foram "convertíveis" em ouro por séculos, porque são suposto corresponderem a "depósitos" de ouro e prata física. Se assim não fosse, porque iria alguém depositar ouro e prata à ordem, para receber algo que apenas promete entregar de volta se por acaso tiver reservas suficientes para isso?
- "Convertíveis" é um termo já de si, a meio caminho do criminoso. As notas correspondiam a certificados de depósito de coisa física. O uso do termo "convertível" em si mesmo pretende disfarçar o aspecto contratual.
- A "grave crise económica e financeira de 1891" dá-se depois de um período de expansão (vulgo bolha) cuja origem deve ser recentrada na própria expansão artificial do crédito e títulos supostamente "convertíveis" em ouro.
- A afirmação que "o valor comercial do ouro passou a ser cotado com um ágio sobre o valor legal das moedas" diz-nos que logicamente notas e depósitos com risco de default (como qualquer banco que tem realmente menos moeda que a moeda que diz ter aos depositantes - uma fraude em substância) valem menos que a coisa propriamente dita  - o ouro e prata física.
- "desaparecer de circulação" acontece porque a lei pretende forçar que notas e depósitos em risco de default e assim desvalorizadas têm legalmente que valer o mesmo que a coisa física. Como tal, as pessoas passam a pagar com a má moeda (notas e depósitos), guardando para si toda a boa moeda (ouro e prata física).
- "obrigou à suspensão da convertibilidade das notas", é uma forma de exprimir a expropriação e proibição do uso do ouro e prata físico como moeda. Tal como Roosevelt fez em 1933.
Tudo isto para proteger quem induz e beneficia das bolhas económicas de serem punidos nas inevitáveis crises. Espero que os tradicionalistas percebam a origem da sua grande e justificada desconfiança, ainda que não totalmente inteligível, pelo negócio bancário, hoje suportado numa instituição centralizada, como os Bancos Centrais, que perpetua e amplia, todos os males, que antes, apesar de tudo, eram mais localizados e menos amplos.

2 comentários:

Vivendi disse...

Com esse estudo económico que nos deixou o CN já acredita que Salazar governou dentro dos padrões defendidos pela economia austríaca?

E Salazar ao contrário de muitos que por aí andam não teve medo da deflação...

Anónimo disse...

Mil por cento d'acordo com as palavras de Vivendi, no comentário acima. Nada mais a acrescentar.
Maria