13 janeiro 2014

a existência da ADSE faz sentido


Na Bananalândia, depois de uma revolução conhecida por um número, os coronéis decidiram criar um Serviço Nacional de Alimentação, geral, universal e tendencialmente gratuito. Em simultâneo mantiveram um resquício do pré-número chamado ASCE – Administração Dos Comensais do Estado – para os funcionários públicos. Um beneficiário do ASCE, que contribui com uma pequena percentagem do seu salário, pode ir a qualquer restaurante privado ou às cantinas do Estado, se for essa a sua vontade.
Na Bananalândia todos os restaurantes privados dependem, em grande medida (50%?) dos clientes que são beneficiários do ASCE. O resto da populaça, por norma, vai às cantinas do Estado.
Como é que um liberal resolveria este problema? Acabando com a ASCE e, por consequência, com toda a restauração privada? Ou, lentamente, atribuindo a todos os cidadãos os benefícios da liberdade de escolha de que usufruem os funcionários públicos?
Não vou responder a esta pergunta, porque julgo que a resposta é evidente. Pretendo apenas chamar a atenção para uma tendência prevalecente na sociedade portuguesa. A tendência para a perfeição, a busca do paraíso na Terra.
Nas sociedades católicas, os cidadãos buscam permanentemente a perfeição. O equilíbrio, a simetria, a justiça cega, a beleza, sem entenderem que a vida e as sociedades são “caóticas”. Ora esta obsessão com o paraíso na Terra ofusca a procura de soluções práticas e utilitárias que, em devido tempo, podem trazer mais liberdade.
Eu conheço bem esta doença porque já sofri dela, durante mais de 20 anos. Curei-me, num maravilhoso dia de Sol em Nova Iorque. Tinha saído com uma namorada norte-americana para uma volta pela cidade quando ela me perguntou:
-       J.C., how do you like the city?
-       Não sei... parece-me tão esquisita. Bairros fantásticos lado a lado com zonas que parecem saídas de um filme de guerra.
A minha amiga sorriu e disse-me com simpatia:
-       Sabes, é essa realidade que faz de Nova Iorque uma cidade deslumbrante!
Não fiquei logo curado, mas foi um momento que recordo como um marco. Comecei a aceitar a entropia como um estado natural.
Relativamente ao sistema de saúde, não me incomoda minimamente que existam assimetrias, desconformidades, fealdades, o que me interessa é que estejamos a caminhar no sentido certo. E acabar com a ADSE e com o sector privado da saúde, em Portugal, não é o caminho certo.

Com os meus cumprimentos cordiais ao RAF

5 comentários:

Luís Lavoura disse...

Bairros fantásticos lado a lado com zonas que parecem saídas de um filme de guerra.

É essa a imagem que eu tenho do Porto: prédios fantásticos lado a lado com casinhas que parecem saídas do século 19.

Anónimo disse...

Tem alguma convenção na clínica das varizes com a ADSE é?

Josand

Anónimo disse...

É a segunda lei da termodinâmica.

Anónimo disse...

As convicções são inimigas mais perigosas da verdade do que as mentiras.

Anónimo disse...

Olha se era em Portugal!