Na Bananalândia, depois de uma revolução
conhecida por um número, os coronéis decidiram criar um Serviço Nacional de
Alimentação, geral, universal e tendencialmente gratuito. Em simultâneo
mantiveram um resquício do pré-número chamado ASCE – Administração Dos
Comensais do Estado – para os funcionários públicos. Um beneficiário do ASCE,
que contribui com uma pequena percentagem do seu salário, pode ir a qualquer
restaurante privado ou às cantinas do Estado, se for essa a sua vontade.
Na Bananalândia todos os restaurantes privados
dependem, em grande medida (50%?) dos clientes que são beneficiários do ASCE. O
resto da populaça, por norma, vai às cantinas do Estado.
Como é que um liberal resolveria este
problema? Acabando com a ASCE e, por consequência, com toda a restauração privada? Ou, lentamente, atribuindo a todos os cidadãos os benefícios da
liberdade de escolha de que usufruem os funcionários públicos?
Não vou responder a esta pergunta, porque julgo
que a resposta é evidente. Pretendo apenas chamar a atenção para uma tendência
prevalecente na sociedade portuguesa. A tendência para a perfeição, a busca do
paraíso na Terra.
Nas sociedades católicas, os cidadãos buscam
permanentemente a perfeição. O equilíbrio, a simetria, a justiça cega, a
beleza, sem entenderem que a vida e as sociedades são “caóticas”. Ora esta
obsessão com o paraíso na Terra ofusca a procura de soluções práticas e
utilitárias que, em devido tempo, podem trazer mais liberdade.
Eu conheço bem esta doença porque já sofri
dela, durante mais de 20 anos. Curei-me, num maravilhoso dia de Sol em Nova
Iorque. Tinha saído com uma namorada norte-americana para uma volta pela cidade
quando ela me perguntou:
-
J.C., how do you like the city?
-
Não sei... parece-me tão
esquisita. Bairros fantásticos lado a lado com zonas que parecem saídas de um
filme de guerra.
A minha amiga sorriu e disse-me com simpatia:
-
Sabes, é essa realidade que faz de
Nova Iorque uma cidade deslumbrante!
Não fiquei logo curado, mas foi um momento que
recordo como um marco. Comecei a aceitar a entropia como um estado natural.
Relativamente ao sistema de saúde, não me incomoda
minimamente que existam assimetrias, desconformidades, fealdades, o que me
interessa é que estejamos a caminhar no sentido certo. E acabar com a ADSE e
com o sector privado da saúde, em Portugal, não é o caminho certo.Com os meus cumprimentos cordiais ao RAF
5 comentários:
Bairros fantásticos lado a lado com zonas que parecem saídas de um filme de guerra.
É essa a imagem que eu tenho do Porto: prédios fantásticos lado a lado com casinhas que parecem saídas do século 19.
Tem alguma convenção na clínica das varizes com a ADSE é?
Josand
É a segunda lei da termodinâmica.
As convicções são inimigas mais perigosas da verdade do que as mentiras.
Olha se era em Portugal!
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