11 janeiro 2014

a complexidade sai cara


As sociedades complexas necessitam de quantidades enormes de energia para se desenvolver e sustentar. Alguns autores (como Joseph Tainter) sublinham até que a curva de desenvolvimento civilizacional acompanha a curva do consumo de energia/ capita. Este último índice, mesmo isolado, é por conseguinte um indicador fiável do desenvolvimento.
Quando o ecossistema não permite a extração e utilização significativa de energia a cultura não se desenvolve. É por isso que nalgumas regiões de África se continua a viver como nas chamadas “latitudes afortunadas” do bloco euro-asiático há 6.000 anos.
Os seres humanos que vivem nessas regiões não conseguem desenvolver o trabalho necessário (energia) para investir no desenvolvimento social (cultura/ civilização). Por isso têm um atraso gigantesco em relação à civilização Ocidental. Não conseguem eliminar a entropia social.
O contrário ocorre nas regiões do Norte. O ecossistema permite desenvolver muito mais trabalho e explorar os recursos naturais que o clima facilita. É por isso que as sociedades complexas emergiram no Norte. A famigerada ética protestante não é mais do que um retorno elevado do investimento na complexidade - ROI.
À nossa latitude vivemos numa situação intermédia. O investimento na complexidade compensa mais do que em África, mas menos do que na Alemanha ou no Reino Unido. A complexidade social portuguesa é portanto menor do que no Norte. Convivemos com mais entropia.
Não afirmo isto para denegrir o continente africano e elogiar a UE ou os EUA. Estou a falar de uma realidade física concreta de que as populações locais não podem ser responsabilizadas.
A complexidade das democracias liberais e capitalistas do Ocidente não tem sustentabilidade termodinâmica em países com ecossistemas desfavoráveis. E agora termino com a pergunta que mais nos interessa: terá sustentabilidade em Portugal? Penso que a resposta ainda está no ar.

4 comentários:

marina disse...

mais cara sai em termos de liberdade. nas sociedades complexas , as tais da super divisão social do trabalho , todos dependemos de todos , falha um elo ou dois e lá vamos todos pelo cano e morrer na mitra. já deve ter reparado :)

Anónimo disse...

Isto nem sequer é verdade... as sociedades que não se desenvolveram apenas segundo os padrões ocidentais... há coisas estranhas como na China, com uma civilização (civilizações) milenar, que copia o Ocidente como uma espécie de segunda parte da revolução cultural... a terraplanagem tornou-se mais fácil numa sociedade globalizada e aparentemente não os incomoda que seja o modelo ocidental, cada vez mais próximo da possibilidade do controlo total, uma "fearture" que agrada muito aos comunistas chineses, são pragmáticos. -- JRF

Anónimo disse...

Mesmo o desenvolvimento, tal como o Ocidente o entende, poderia ser muito diferente se os alemães tivessem ganho... Independentemente de se gostar, viveríamos numa organização totalmente diferente designadamente em termos de progresso científico... e a quantidade de energia gasta até podia ser igual ou maior...
Os povos que não extraíram a energia do meio ambiente, não é porque não a tivessem, aliás o Ocidente especializou-se a delapidar os recursos alheios, mas sim porque o desenvolvimento caminhou numa direcção e a uma velocidade diferente...
Aliás, muitas vezes o atraso deve-se à mesquinhez de um só líder e o avanço à grandeza de outro... a energia está muito longe. -- JRF

Anónimo disse...

Dito isto, há gente mais inteligente e gente menos inteligente... Não é só o clima... Aliás a minha tese é que a humanidade está a bifurcar-se em várias subespécies, algumas das quais, a continuar assim terão o destino do Neanderthal, se calhar e ironicamente, devido ao Neanderthal em nós... -- JRF