23 dezembro 2013

um trajecto pessoal


Gostaria de dar uma explicação acerca do meu interesse recente pela termodinâmica e até pode ser que esta explicação motive outras pessoas, que andam "à procura da Verdade", a seguir o mesmo caminho.
Durante cerca de 30 anos, a minha visão e entendimento do Homem assentou sobre um modelo biológico. Um modelo que nos coloca no pináculo da evolução da vida na Terra. Mesmo assim, apenas mamíferos primatas, sujeitos a todos os constrangimentos de qualquer outra espécie.
O curso de medicina facilitou esta abordagem, completada pela etologia, pela psicologia evolutiva e mais tarde pela sociologia, pela economia e pela política.
Refletindo sobre o propósito da existência humana, aceitei que este não poderia ser diferente do de qualquer outro ser vivo: “crescer e multiplicar-se”. Toda a superestrutura cultural teria de estar ao serviço desta finalidade porque só um propósito biológico pode servir um ente biológico (Edward O. Wilson).
Foi então que comecei a falar do “sucesso da espécie”, como um elemento sine qua non de qualquer paradigma social. O meu libertarianismo, por exemplo, assenta no pressuposto de que é num regime de Estado mínimo e de respeito pelos direitos cívicos que o Homo Sapiens tem a maior probabilidade de sucesso.
Esta visão apresentava, porém, uma dificuldade. Como explicar a origem da vida? E como é que esta evoluiu para o crescimento e a multiplicação?
Na procura de uma resposta fui dar à termodinâmica e a uma hipótese de explicação plausível (e até falsificável). A vida teria surgido como resultado de um gradiente de entropia entre o Sol e a Terra e o seu propósito é colmatar este gradiente.
Bingo, subitamente todas as peças  começaram a encaixar-se no meu puzzle. E sem perturbar, no mínimo, o paradigma biológico. Porquê? Porque a melhor (e a única) maneira dos seres vivos colmatarem o referido gradiente de entropia é, adivinhem lá... “crescerem e multiplicarem-se”.
A física, através da termodinâmica, permite-nos integrar os seres vivos na matéria inorgânica e aplicar-lhes (como não poderia deixar de ser) todas as Leis da física.
Em termos físicos, um ser humano continua a ocupar o topo da evolução Darwiniana, mas agora, pode também ser definido como “um sistema termodinâmico dissipativo em situação de não-equilíbrio com o meio ambiente que o rodeia”. Muito bem, e esta definição serve para quê?
Para muito. Desde logo alerta-nos para as limitações próprias de qualquer sistema termodinâmico, para o problema da dependência energética para manter a sua existência/organização. Depois, chama a atenção para a integração com o meio ambiente.
Nesta nova visão, cada cultura fica mais dependente da negentropia que pode extrair do seu habitat, em vez de pôr a tónica na capacidade de adaptação dos seres humanos.
Atirei para o cesto do lixo das ideias delirantes, por exemplo, pensar que a “Democracia Liberal e Capitalista” - DLC - (do Fukuyama) poderia ter sucesso nos trópicos. Os seres humanos, no equador, não conseguem extrair negentropia suficiente para manter a organização social que a democracia exige. Aceitam, por isso, a desordem e o caos como uma inevitabilidade.
Os sistemas políticos têm de estar adaptados ao meio ambiente e a DLC assenta como uma luva é nos países do Norte. Portugal, à latitude de 40º, está entre o inferno (entropia tropical) e o céu (baixa entropia das sociedades nórdicas).
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