Gostaria de dar uma explicação acerca do meu
interesse recente pela termodinâmica e até pode ser que esta explicação motive
outras pessoas, que andam "à procura da Verdade", a seguir o mesmo caminho.
Durante cerca de 30 anos, a minha visão e
entendimento do Homem assentou sobre um modelo biológico. Um modelo que
nos coloca no pináculo da evolução da vida na Terra. Mesmo assim, apenas mamíferos
primatas, sujeitos a todos os constrangimentos de qualquer outra espécie.
O curso de medicina facilitou esta abordagem,
completada pela etologia, pela psicologia evolutiva e mais tarde pela
sociologia, pela economia e pela política.
Refletindo sobre o propósito da existência
humana, aceitei que este não poderia ser diferente do de qualquer outro ser
vivo: “crescer e multiplicar-se”. Toda a superestrutura cultural teria de estar
ao serviço desta finalidade porque só um propósito biológico pode servir um
ente biológico (Edward O. Wilson).
Foi então que comecei a falar do “sucesso da
espécie”, como um elemento sine qua non de qualquer paradigma social. O meu
libertarianismo, por exemplo, assenta no pressuposto de que é num regime de
Estado mínimo e de respeito pelos direitos cívicos que o Homo Sapiens tem a
maior probabilidade de sucesso.
Esta visão apresentava, porém, uma dificuldade. Como explicar a origem da vida? E como é que esta evoluiu para o
crescimento e a multiplicação?
Na procura de uma resposta fui dar à termodinâmica e a uma hipótese de explicação plausível (e até falsificável). A vida teria surgido como resultado de um gradiente de entropia entre o
Sol e a Terra e o seu propósito é colmatar este gradiente.
Bingo, subitamente todas as peças começaram a encaixar-se no meu puzzle. E sem perturbar, no mínimo, o paradigma
biológico. Porquê? Porque a melhor (e a única) maneira dos seres vivos
colmatarem o referido gradiente de entropia é, adivinhem lá... “crescerem e
multiplicarem-se”.
A física, através da termodinâmica,
permite-nos integrar os seres vivos na matéria inorgânica e aplicar-lhes (como
não poderia deixar de ser) todas as Leis da física.
Em termos físicos, um ser humano continua a
ocupar o topo da evolução Darwiniana, mas agora, pode também ser definido como
“um sistema termodinâmico dissipativo em situação de não-equilíbrio com o meio
ambiente que o rodeia”. Muito bem, e esta definição serve para quê?
Para muito. Desde logo alerta-nos para as
limitações próprias de qualquer sistema termodinâmico, para o problema da
dependência energética para manter a sua existência/organização. Depois, chama a
atenção para a integração com o meio ambiente.
Nesta nova visão, cada cultura fica mais
dependente da negentropia que pode extrair do seu habitat, em vez de pôr a
tónica na capacidade de adaptação dos seres humanos.
Atirei para o cesto do lixo das ideias
delirantes, por exemplo, pensar que a “Democracia Liberal e Capitalista” - DLC
- (do Fukuyama) poderia ter sucesso nos trópicos. Os seres humanos, no equador,
não conseguem extrair negentropia suficiente para manter a organização social
que a democracia exige. Aceitam, por isso, a desordem e o caos como uma
inevitabilidade.
Os sistemas políticos têm de estar adaptados
ao meio ambiente e a DLC assenta como uma luva é nos países do Norte. Portugal,
à latitude de 40º, está entre o inferno (entropia tropical) e o céu (baixa
entropia das sociedades nórdicas).
Cont.
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