Governar uma comunidade, como é Portugal é, em primeiro
lugar, unir a comunidade, para que ela depois
possa ser governada. Ora, aquilo que se tem andado a fazer através com
os partidos políticos e o sistema partidário é, em primeiro lugar, desunir a
comunidade, pôr os portugueses uns contra os outros, separá-los, torná-los
adversários ou inimigos, para depois realizar o exercício – que se torna um exercício
necessariamente impossível – de os governar.
Governar é, em segundo lugar, servir a comunidade. É assim
que se governa uma família e é assim que se governa qualquer outra comunidade
humana, servindo-a e não servindo-se dela. Ora, aquilo que tem acontecido em Portugal é que os
governantes – políticos no Governo, na Assembleia da República e nos altos
postos da Administração Pública e das Empresas Pública – em lugar de servirem a
comunidade, servem-se da comunidade. Existem excepções, obviamente, mas são
poucas.
Governar é, em terceiro lugar, proteger a comunidade.
Governar não é consentir que se ande a comprar lá fora aquilo que os portugueses podem produzir cá
dentro, lançando-os no desemprego e, nalguns casos, na miséria, enquanto ao
mesmo tempo se anda a dar empregos e rendimentos aos estrangeiros, em nome das
ideias abstractas da liberdade e do Mercado Único. Proteger significa aqui, em primeiro lugar,
proteger os portugueses, já que para proteger os suecos ou os finlandeses estão
lá os suecos e os finlandeses. É inconcebível que num país que está falido e
que pode produzir todos os bens
alimentares, mais de metade dos bens alimentares que consome sejam importados.
O mesmo vale para uma vasta gama de outros bens.
Finalmente, e em quarto lugar, Governar é transmitir, é
transmitir bens aos outros que vêm a seguir, transmitir aos mais novos um património ainda maior do que aquele que se recebeu. Ora, aquilo que existe neste momento
no país de mais certo para transmitir aos jovens são dívidas e desemprego - males, não bens. Não surpreende que um
inquérito recente revele que mais de metade dos jovens portugueses desejam
emigrar. Mas quem é que quer receber dívidas como herança?
Nada disto é governar, nada disto que se tem andado a
fazer no país nas últimas décadas é governar. Na realidade, aquilo que se tem
andado a fazer nas últimas décadas – desunir a comunidade que é Portugal, servirem-se dela em lugar de a servirem,
desprotegê-la em lugar de a proteger, e delapidar o seu património – é o oposto
de Governar. É Desgovernar.
(Extractos do meu artigo desta semana no jornal Vida Económica)
3 comentários:
Unir, servir, proteger, transmitir.
Valores familiares, portanto. É com eles que se governa a grande família portuguesa.
"Any woman who understands the problems of running a home will be nearer to understanding the problems of running a country."
Margaret Thatcher
Muito bem. Finalmente o PA "desceu" à terra, e começa a fazer sentido o que escreve.
"É inconcebível que num país que está falido e que pode produzir todos os bens alimentares, mais de metade dos bens alimentares que consome sejam importados. O mesmo vale para uma vasta gama de outros bens."
Pois! Neste preciso momento, decorre num dos canais privados um programa de caça-talentos, num formato comprado a outro país, que segundo consta "fez muito sucesso no estrangeiro". Próximo do final da gala de hoje, não houve um único candiadato com uma canção portuguesa, só cacofonia anglo-saxónica.
Sintomático, não é!
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