27 dezembro 2013

a latitude, a cultura e a termodinâmica

A latitude é um dos maiores determinantes da cultura. Correlaciona-se, por exemplo, com o Índice de Distância ao Poder (PDI) e com o Índice de Individualismo (IND).
Hofstede definiu estas variáveis do seguinte modo:

PDI
Corresponde à aceitação da desigualdade na distribuição do poder pelas populações. É elevado no equador e diminui com o aumento da latitude.

IND
Expressa o grau de autonomia e lealdade dos indivíduos em relação à tribo (família, comunidade). É baixo no equador e aumenta com a latitude.

Deixei aqui e aqui dois exemplos destas variações culturais.

Assim sendo, podemos fazer algumas previsões teóricas baseadas neste factos empíricos e depois confrontá-las com a realidade.

Seria de esperar que nas regiões equatoriais prevalecesse uma mentalidade tribal, em que a lealdade à família e à comunidade prevalecesse sobre a Lei, com uma corrupção generalizada. Seria de esperar que o poder fosse exercido de forma autocrática, por senhores da guerra, ou por líderes que ascendessem ao poder alavancados pelas tribos mais numerosas.
A democracia seria inexistente, ou apenas de fachada. Os direitos cívicos (individuais) ignorados, ou espezinhados. A Lei abstrata substituída pela vontade do ditador.

É isso que acontece em África? Deixo a resposta aos leitores e comentadores.

Hofstede não explica porque é que o PDI e o IND são tão afectados pela latitude, apenas constata factos empíricos.

Eu avanço com uma hipótese, a de que, enquanto entidades termodinâmicas, os seres humanos que vivem próximo do equador, não têm condições objectivas (físicas) para investir no desenvolvimento da sociedade. O trabalho que seria necessário despender para tal efeito ultrapassa a energia disponível. Por esse motivo aceitam viver com elevada entropia (desordem, caos).

Trata-se de uma hipótese radicada em princípios da física. Certa ou errada, gostaria de sublinhar que  a minha hipótese não altera a realidade, apenas o entendimento das suas causas. Penso que alguns comentadores ainda não compreenderam este facto.

6 comentários:

Vivendi disse...

Joaquim,

A história contraria facilmente a sua tese.

Já se sabe que com um pouco de calor e tal o pessoal tende a descontrair.

Mas o que importa na hora da verdade é o contexto civilizacional.

E deixo-lhe uma previsão.

Se a zona euro (predominância de países do sul da Europa e cultura católica) correr com o socialismo a próxima década de 20 será a região mais próspera do mundo.

Quer entender o porquê?

Visite o Viriatos.

Anónimo disse...

Joaquim! A minha tese é que África tem sido palco de acontecimentos catastróficos para as suas populações... Ninguém de lá pediu para os brancos os fazerem escravos, para os dizimarem, para os arrancarem ao seu modo de vida de sempre, para saquearem os seus recursos naturais e para lhes levarem kalashnikovs...
Se o que o PA diz para Portugal é verdade, que estamos a léguas da nossa tradição por importação de "tradições" protestantes, imagine os povos de África!... notoriamente mais atrasados pelos nossos padrões, com leis, constituições, ideologias e religiões completamente contra as suas tradições... obrigados a civilizarem-se... a atravessar em 500 anos o que os europeus atravessaram em 10.000... -- JRF

Anónimo disse...

Caros Vivendi e JRF,

O que a experiência empírica demonstra é que há variáveis culturais correlacionadas com a latitude.
É este fenómeno que necessita de explicação.
Não são os chamados casos anedóticos.

Joaquim

zazie disse...

A energia gasta em quecas nao conta, 'e s'o trabalho, Birgolino

Anónimo disse...

Pronto... casos anedóticos... tá certo! Lá se foi a minha tese!... Não passou na review do peer Joaquim! -- JRF

Anónimo disse...

zazie,

As quecas, especialmente as domesticas, são trabalho.