03 novembro 2013

místico

"O Pedro Arroja tornou-se um místico". O livro ainda não está cá fora e eu já recebi, embora por via indirecta, a primeira crítica desvalorizadora. Não me surpreende e espero muitas mais, sobretudo deste género, que desvalorizam o autor muito antes dos argumentos.

Um místico é uma pessoa tomada por uma intensa devoção religiosa. Infelizmente, eu não a tenho. Um místico é também uma pessoa dotada de ideias ou convicções que não consegue explicar - e é neste sentido que eu tomo a crítica a sério.

E que ideias podem ser essas?

A primeira e a mais importante só pode ser Deus.

Na última semana, um leitor anónimo, que passei a  chamar A., chegou aqui ao blogue e disse que  tinha chegado a Deus por via racional, e até me creditou por o ter ajudado no caminho. Provavelmente, alguns leitores mais distraídos ou menos interessados, terão ficado a pensar que eu e o A. passámos por algum processo místico, um processo que nos levou a Deus, mas que não sabemos explicar.

É precisamente este processo que eu pretendo explicar - como chegar racionalmente  a Deus. Eu não excluo que existam outras vias para chegar racionalmente a Deus. Vou explicar aquela que me levou lá, salientando que essa via contém elementos objectivos - que estão à vista de todos - e outros que são subjectivos. O meu ênfase vai, obviamente, incidir na parte objectiva deste processo, deixando a cada leitor que invoque os elementos subjectivos que encontrou no seu próprio caminho.

Comece por se perguntar, como eu o fiz: A pessoa que eu sou hoje foi feita por mim ou pela comunidade?

Só existe uma resposta racional - pela comunidade em esmagadora maioria, cabendo-lhe a si uma parte pequeníssima no caminho que você percorreu desde o momento da sua concepção - feita por uma comunidade de um homem e de uma mulher - até àquilo que você é hoje.

Se duvida da resposta, ponha  a questão a contrario: o que seria eu hoje se não existissem pessoas à minha volta, isto é uma comunidade?

Eu dou-lhe a resposta racional: você não teria vivido mais que umas horas ou uns dias, quanto mais ser aquilo que é hoje.

A comunidade é portanto predominantemente bondosa, existe mais bem do que mal na comunidade, caso contrário você não estaria cá.

E como é que a comunidade  me traçou o destino desde o momento da minha concepção até àquilo que eu sou hoje? Pondo-me sinais no caminho - pessoas, coisas, circunstâncias diversas. Estes sãos os elementos subjectivos que variam de pessoa para pessoa e que tornam o caminho de cada um diferente do de todos os outros. O elemento comum é que foi a comunidade que nos traçou o destino, e o destino também é comum.

Existe um Bem na comunidade, um Bem que torna a comunidade bondosa, caso contrário não estaríamos cá. É a esse Bem que se chama Deus.

Acha que existe algum misticismo nisto? Não, é tudo racional. Tudo tão racional e tão frio que é por isso que eu não sinto nenhum fervor religioso.

Místico, no sentido de ter metidas na cabeça ideias que não consegue explicar, só pode ser quem me acusa. Acha que se fez sozinho.

Ahahah ... Que engraçado ... um homem fazer-se sozinho. Nem houve truca-truca?

2 comentários:

BLUESMILE disse...

Racional, pois claro.

Anónimo disse...

Racionais são as abéculas que sabendo as contas de Salazar, o que deixou e o que tinha dele, conseguem comentar como tu; sabendo igualmente as contas da corja de hoje, o que tinham, o que têm e o que vão deixar aos filhos e netos dos portugueses. Isso sim, é racional... -- JRF