Longe de mim contestar a natureza extraordinária, como lhe chama o PA, da experiência que o nosso leitor teve a
amabilidade de partilhar connosco e que começo por agradecer, o que se calhar
devia ter feito neste post. Não o fiz apenas para manter o tom coloquial.
Obrigado.
A finalidade do meu post era realçar a
natureza simbólica da experiência descrita, a sua carga psicológica. “Fazer as
pazes com Deus” é, no fundo aceitarmo-nos como somos. Penso que nem o PA, nem o
nosso amigo leitor, contestaram esta minha interpretação.
Sinais convincentes e convergentes, “ligar os
pontos”, são processos característicos da maneira de pensar de qualquer ser
humano. Passa-se o mesmo quando estudamos qualquer disciplina. Eu passei anos a
estudar anatomia, fisiologia, patologia, etc., e nada parecia fazer sentido,
até que um dia consegui “ligar os pontos” e me tornei médico. Um velho mestre
tinha-me dito: ‹‹um dia, tudo isto que lhe estamos a ensinar vai fazer
sentido››. Nada de extraordinário nesta aprendizagem – é a vida.
Na nossa experiência pessoal passamos pelo
mesmo. Vamos aprendendo a ler sinais e a juntar os pontos até que um dia somos
“Homens ou Mulheres”. Apreendemos e desenvolvemos uma narrativa do mundo que
faz sentido e na qual acreditamos. Cada um vive esse processo “ordinário” de
forma “extraordinária” e eu respeito essa perspectiva pessoal.
Claro que quem vive em Portugal desenvolve uma
visão diferente do mundo do que quem vive, por exemplo, no Japão. O nosso amigo comentador
parou o carro e entrou numa Igreja Católica, um japonês poderia ter parado o
seu Toyota e entrado num templo Budista. Ambos poderiam falar das suas
experiências da mesma forma apaixonada, mas para o antropólogo pouca diferença
faria.
Um pequeno exemplo ajuda sempre, numa cultura
que valoriza o pensamento analógico (PA). A mais velha história do mundo: rapaz
conhece rapariga e apaixonam-se. É evidente que se trata de uma história
banalíssima, mas que, a todos os títulos é extraordinária para os
intervenientes. A primeira paixão, meu Deus – claro que é um fenómeno
extraordinário, não deixando de ser ordinário. É isto que eu penso.
Relativamente à questão de Deus ser um assunto
público ou privado, não vou discutir com o mestre, porque não sei o suficiente
sobre o assunto. O meu comentário resultou da minha experiência de vida nos EUA
e em Portugal. Nos EUA fala-se muito mais de Deus, claro está. Os evangelistas
marcam presença na arena política, os crentes fazem votos públicos e até os
líderes terminam os seus discursos com o proverbial “God bless America”. Em Portugal
não é assim e seria até considerado ridículo que um presidente ou
primeiro-ministro falasse de Deus. Não devia ser assim? Não tenho resposta para
esta pergunta porque a realidade é o que é.
Sob um ponto de vista pessoal, como disse no
meu post, raramente me sinto à vontade para falar de experiências íntimas.
Sendo que não o faço por pudor ou vergonha, não o faço porque receio quebrar um
certo encanto que advém de considerar extraordinárias experiências que outros
considerariam vulgares.
Voltemos ao exemplo do enamoramento, aos olhos
de terceiros o que parece uma paixão? Um devaneio, um momento de delírio, receio
até que para alguns seja apenas luxúria.
Espero não ter quebrado nenhum encantamento,
não era essa a minha intenção.
13 comentários:
Completamente.
Tem toda a razão. Em Portugal, desde o 25 de Abril que se tornou tabu falar publicamente em Deus.
Na América até o presidente pede a benção a Deus e jura em seu nome.
Os prot não tiraram Deus da esfera públic.
Até o tornaram lema da Verdade do saber.
É um problema de Portugal abrilista e jacobino, isso sim.
E não era ridículo um presidente ou Primeiro Ministro mensionar Deus nos discursos.
V. é mais velho que eu e devia lembrar-se que Salazar sempre citou Deus nos seus discursos.
Não se lembra porque andava charrado
":OP
Tão charrado que, no 25 de Abril, foi à procura da Revolução na Av. de Roma.
(isto pelo PA ter dito que foi à cata dela na Boavista e não deu por nada).
Caro Joaquim, não quebrou qualquer encantamento porque não há nada para quebrar.
Aliás, subscrevo na integra o seu post. Concordo em absoluto.
Nada de extraordinário aconteceu. Apenas o percurso natural da vida.
Quem se deixou impressionar (e não consigo entender porquê!) foi o Joaquim. Nunca foi minha intenção impressionar ninguém.
Se eu quisesse impressionar relatava a minha "experiência" e postava no YouTube. Mas até prefiro permanecer anónimo, veja lá. E só relatei o sucedido aqui num comentário num post que nem sequer estava nos primeiros lugares...
Se há algo que eu não pretendo é impressionar ninguém. Mas impressionei o Joaquim, vá-se lá saber porquê...
Resumidamente, a única diferença entre nós é que:
- O Joaquim não partilha com ninguém;
- O PA tem andado a partilhar com todos nós;
- Eu limitei-me a partilhar com o PA da forma possível;
Caro anónimo,
Obrigado pelos seus comentários.
ABÇ
Joaquim
Deixe-se de patetices, partilhou com todos os leitores das caixinhas de comentários do PC.
E fez bem, porque essa ideia de leveza é mesmo assim.
V. partilhou com crentes. Todos já tiveram essa sensação, imagino eu.
O Joaquim, a mim, já me chamou irracional por isso.
Já disse com todas as letras que a fé uma coisa irracional, diminuta, quem é racional e científico não precisa disso.
Zazie,
Espero que se trate de um equívoco. Seria irracional chamar-lhe irracional porque só um ser racional compreenderia a sua irracionalidade e portanto não teria racionalidade chamar-lhe irracional.
Se eu o tivesse feito, do que não me recordo, seria uma prova racional da minha irracionaliodade.
:-)
Joaquim
":OP
Pergunte ao seu colega John Locke que ele recorda-se.
Chamou pois. E não foi nada de pessoal. Foi precisamente acerca da crença em Deus, pro ser sobrenatural e isso, como v. explicou era algo que a racionalidade dispensa.
Mas é assunto de que eu nem falo, em termos pessoais.
<Vai ao Cocanha e não encontra um único post em que eu fale na primeira pessoa como crente.
Falo de religião de outro modo. Pela arte.
E nem teria grande coisa a dizer acerca de mim porque nunca tive revelação na Estrada de Damasco.
Sempre foi uma coisa natural, sem sequer derivar de catequese que nem fiz ou incutida familiarmente.
Nunca fui ateia. Mas também não passo de uma "católica badalhoca". Nem comunhão fiz e ainda não resolvi essa cena da "comunidade".
Para não estragar. Acho que é mesmo por isso. Por ter medo de me passar com "comunidade de crentinhos". Não fui feita para grupos e dsatino facilmente.
Também não sou supersticiosa, por exemplo.
Nem muito dada a "espiritualismos".
Recomendo "Entre Deuses e Césares", de Fernando Catroga. Ficam todos a saber umas coisas sobre o conceito de religião civil e a sua existência nos Estados Unidos.
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