14 outubro 2013

médicos & economistas


De todos os profissionais, os economistas são os que mais se aferroam com os médicos. Sentem-se picados pelo comportamento dos meus colegas. Porque não são cumpridores, e porque sim e porque não. Enfim, os médicos causam-lhes prurido.
Num país em que o sistema de saúde está sovietizado, o meu amigo Ricardo, por exemplo, mostrou-se surpreendido quando, a propósito de mencionar que os médicos do SNS se ausentam do seu local de trabalho para irem para a privada, eu lhe disse, há tempos, que tal como na antiga USSR ‹‹o Estado finge que lhes paga e eles fingem que trabalham››. É a vida, não podemos lutar contra moinhos de vento.
Mas esta minha convicção, que já é velhinha, não resultou de qualquer “parti pris” da minha parte. Pude observar, vezes sem conta, uma espécie de complexo emotivo-agressivo-reativo que se apodera dos herdeiros de Adam Smith quando têm na vizinhança um herdeiro de Hipócrates. Em abono da verdade, nunca tal ocorreu nem com o PA nem com o Ricardo. Talvez daí a minha grande admiração pela família Arroja.
Na prática é como se os economistas receassem o “conhecimento milenar” que os médicos têm dos seres humanos e da sua natureza. Devemos saber qualquer coisa que lhes mete medo, muito medo.
Um dia, estava eu a jantar com um grupo de empresários e um economista de renome da nossa praça, quando a conversa descambou para as proezas sexuais dos convivas. O economista, muito afoito, começou por explicar que se dedicava a esta atividade com uma regularidade militar porque, na sua opinião, ‹‹a função faz o órgão››.
-       Não é? – perguntaram-me.
-       Não sei se se aplica a este caso... olhe os joelhos dos jogadores de futebol, às vezes mais vale poupar porque se costuma dizer que ‹‹quem já andou não tem para andar››.
Foi então que o famoso economista me inquiriu diretamente:
-       Ó Joaquim, mas a piça não é um músculo? Não beneficia do exercício?
-       Não, a piça não é um músculo.
Balde de água fria. A partir daí comecei a prestar mais atenção aos economistas e a tentar perceber a razão de tanto ressabiamento. É insegurança, digo eu.
Senhoras e senhores economistas, têm dúvidas sobre a anatomia, a fisiologia e a psicologia humanas? Não fiquem tristes, perguntem, nós estamos aqui para vos esclarecer. Desde que nos paguem, claro.

20 comentários:

muja disse...

Quanto custa encomendar um postal em português?

Já vi que em brasileiro é à borla...

Anónimo disse...

"...o estado finge que lhes paga..."?

A 35€/hora!!!? Finge que lhes paga!

Tenha juízo stor Joaquim.

Anónimo disse...

Joaquim,
Há, de facto, um conflito de natureza cultural - economista é profissão protestante, médico é uma profissional tradicional e, por isso, retintamente católica.
Escreverei sobre isso qualquer dia.
Abraço.
PA

Anónimo disse...

ABÇ

Joaquim

zazie disse...

AHAHAHAHAHAHHAHAHA

Que força é essa amigo

":O)))))))

zazie disse...

Se há grupo chulão e impune é mesmo o dos médicos.

zazie disse...

No SNS até contabilizam como consulta assinarem receitas sem sequer se darem ao trabalho de verem o doente.

Vai-se lá, deixa-se um papelinho com o nome da coisa, paga-se os 3 euros e já está como uma consulta.

Depois assinam por baixo e botam nas horas de trabalho e no número de atendimentos.

Anónimo disse...

Caro Joaquim, a admiração é mútua. E vou dizer-lhe porquê: o meu caro amigo é dos poucos médicos (talvez mesmo o único que eu conheça...) que se dedica em exclusivo ao sector privado. E isso, só por si, para além da empatia que deriva da amizade pessoal que nos une faz de mim um grande admirador seu, num País em que a generalidade dos seus colegas só se dedica ao privado com o encosto do lugar seguro no público (e não raras vezes abusando desse mesmo encosto).

Isto dito, e procurando não misturar a árvore com a floresta, há de facto uma pessoa, a única em Portugal, cuja mera aparição nos media me causa espécie, ao ponto de mudar o canal ou de virar a página de imediato: o actual bastonário da Ordem dos Médicos!

grande abraço,
ra

Anónimo disse...

É Joaquim? O Estado que finja que lhes paga em exclusividade... fingir por fingir, segundo a sua teoria os bons todos vão sair do Estado... a correr a fundar clínicas e consultórios...
A única coisa que eu sei é que nem um larga o Estado... é tudo péssimo, mas não desamparam... -- JRF

Anónimo disse...

Caro PA, os economistas também deixe que lhe diga... responsabilidades na economia nunca tiveram... sacode que se faz tarde!... -- JRF

Anónimo disse...

É um corpo cavernoso Joaquim?... -- JRF

Anónimo disse...

É ou não é adorável quando se junta um bando de machos?... não interessa a classe social... a adorabilidade está sempre lá toda... sempre detestei essas conversas de macho... da piça e do caralho e mais as proezas... só besuntas que às tantas nem o conseguem meter em pé... -- JRF

marina disse...

o estado finge que lhes paga e os médicos fingem que trabalham ? bem , só não se percebe pq mantêm esse casamento a fingir e não se dedicam de corpo e alma à amante privada .. quer dizer , assim às escapadelas , à socapa ? e numa época em que o divórcio é corriqueiro.. o kant ia achar imoral , gaita.

Ricciardi disse...

Hummm, a minha sobrinha que é médica no hospital diz que tem de colocar os dedos num aparelho de impressões digitais para entrar e sair do hospital.
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Sendo assim, parece-me que os médicos JÁ não podem ausentar-se como suíra.
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Mais a mais, a cassete de que eles não trabalham parece-me gasta. Um cartucho dos antigos vá. O que eu vejo é que ela chega exausta a casa depois de uma barbaridade de horas nas urgencias.
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Rb

Anónimo disse...

Caro Rb,

1) Como eu disse, não confundir a árvores com a floresta!

2) A palavra chave nesta temática é "produtividade"...

Ricciardi disse...

Certo.
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Mas repare, o post do PA abaixo do «ai.. ai Joaquim» pode enfermar de um erro, aliás comum nos economistas, de calcular a produtividade desconsiderando a disponibilidade de equipamentos.
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Quer dizer, ele não entra (porque talvez não sabia) com um factor importantissimo que é o de saber se a estrutura de equipamentos é equivalente no Privado e no Público em termos relativos.
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Isto é, a clínica privada está preparada para receber 4 operações por dia em termos de disponibilidade de salas de operações e escala as mesmas em função disso. A taxa de aproveitamente deve ser altissima; mas o hospital pode não estar preparado para fazer 8 operações por dia mesmo tendo o dobro do cirurgiões.
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Assim, o que seria importante era saber a taxa de aproveitamento de recursos. Quantas operações se fazem em cada Sala de bloco de operações por dia. Porque se o hospital publico tiver duas salas para necessidades de 4 salas ficam desaproveitados metade dos cirugiões que vão coça-los enquanto esperam disponibilidade das mesmas.
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Rb

Ricciardi disse...

Haverá algum indicador que nos esclareça acerca da taxa de utilização de recursos, Joachim?
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Só assim é que podiamos ver onde está o problema. Se é na falta de salas e equipamentos para adequar à procura, ou se é no laxismo dos médicos que operam no público, ou ainda se é uma mera questão de gestão de aproveitamento de recursos.
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Rb

Ricciardi disse...

A titulo de exemplo os EUA tem uma taxa de aproveitamento de recursos baixissima. Quer dizer, investem muito mais em equipamentos do que aquilo que usam.
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É, digamos, um excesso de recursos alocados à saúde como um todo. A razão é porque existe uma desmultiplicação de clinicas privadas pelo país fora. Mais concorrencia. O que não é nada mau, em tese.
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Porém, a concorrencia deveria fazer descer o preço da saúde. Mas não faz. A saúde mantem-se cara nos EUA. Das mais caras do mundo porque é alimentada por um sistema de seguros com preços hediondos e oligarquicos. A oligarquia deixou de estar nos prestadores de serviços médicos como na Europa, e passou nos eua para os financiadores (seguradoras) que restringem na mesma a liberdade de escolha. Cada seguro reduz a oferta que lhe convem.
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Qualquer bacano gringo tem de pagar no Minimo 600 USDs por mês para o ter. A proposta do Obamacare é que existam seguros minimo de 100 usd por mês para o pessoal com menos recursos. Valor que eu acho, ainda assim, elevadíssimo já que isso custa um bom seguro de saúde em Portugal.
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Rb

Anónimo disse...

Ricciardi

Trabalho num hospital público do Porto.

Vejo bastantes vezes os médicoa a marcarem a entrada, no tal aparelho, e a pirarem-se para os seus consultórios no exterior.

Depois voltam ao final da tarde a marcar a saída.

E está tudo bem.

zazie disse...

AHAHAHAHAHA