Num determinado país 50% do ensino é público e "gratuito", formatado até ao pormenor na ideologia científica naturalmente progressista do estado moderno, e o restante 50%, privado, contendo pelo menos algum diversidade, quer de gestão (instituições separadas para rapazes e raparigas, etc.) quer curricular (pelo menos em algumas disciplinas) e com exigências próprias particulares, tal como critérios, por vezes subjectivos, de selecção, como tudo na vida (aquela parte que é livre, pelo menos).
Os 50% privado incorrem no duplo custo de terem de financiar a gratuidade de uns e pagarem o seu próprio custo, é certo. Mas pelo menos existe um espaço privado de liberdade, em muitos casos, de liberdade conservadora (não no sentido ideológico do termo).
A dada altura, um conjunto de liberais com sentimentos bem intencionados e generosos propõem o cheque-ensino. Uma forma "igualitária" dizem de providenciar as mesma oportunidades a todos.
O resultado será o OE engordar com a necessidade agora de colectar impostos e distribuir cheques-ensino por 100% da população de ensino e... como o estado moderno, nunca, jamais, deixará de impor a sua formatação, exigirá crescentemente ainda que por passos indeléveis, o controlo uniformizador e igualitário de todas as tais regras de gestão e critérios subjectivos, quem sabe discriminatórios, e mais o conteúdo programático ao pormenor.
Percebem o que se passa aqui? Se não, nada posso fazer. O que vale até agora, é que a esquerda progressista é demasiada estúpida para perceber o grau de controlo adicional que lhe está a ser oferecida. Mas mesmo a estupidez crónica um dia acaba por acordar.
12 comentários:
Mas isso já está tudo controlado.
Para terem paralelismo pedagógico têm de ser decalque do oficial.
Tamêm áxo!
Vai ser lindo. As criancianhas da privada a aprender criacionismo financiado pelo erário público.
Eu nao vejo problema algum com o cheque ensino, excepto o facto de aumentar a despesa pública no curto e medio prazo.
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E se o país estivesse em condicoes financeiras para fazer esta mudanca nao via qualquer problema. Mas como nao está, como o pais está sem recursos parece-me uma medida perfeitamente pateta.
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Mais pateta ainda quando percebemos q o país precisa de alocar os recursos financeiros que ainda tem para areas q produzam riqueza com o exterior e nao canalizar investimentos para negocios que tem investimento mais do q suficiente como a educacao.
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Se esta medida viesse acompanhada por outra em q o estado concessionava as escolas publicas de cidade aos privados, aí sim, nao havia desperdicio de recursos.
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Rb
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A formação de base, na minha opinião, deve ser comum à população toda. Digamos, até ao 9º ano de escolaridade as escolas devem seguir um programa de base comum. E cada escola devia poder fazer upgrades que melhorem nesta ou naquela área a aprendizagem, levando os pais a seleccionar as escolas com upgrades que melhor se ajustam a cada gosto pessoal. Não necessáriamente em áreas do intelecto.
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Olhe, por exemplo, uma escola que proporcione upgrades aos alunos com uma componente forte no desporto, ou nas artes, na música, na dança... e outras que eventualmente pudessem se especializar em trabalhos especializados nas matematicas, nas linguas, na aprendizagem de oficios...
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Quer dizer, eu acho que as pessoas nascem com certas inclinações; dons e talentos naturais; e se não for assim pelo menos nascem com propensão maior para umas áreas do que outras que desenvolvem mais facilmente. Assim, seria útil haver opções nas escolas para potenciar cada pessoa.
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As escolas privadas NÃO estão a fazer isto. Mas deviam para se distinguirem das públicas. Na prática as privadas são mais do mesmo. Disciplinam melhor os alunos, mas não potenciam os talentos inatos.
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E isto é tão verdade que li algures uma estatistica curiosa. Os alunos das escolas privadas acedem com maior proporção à universidade em relação aos que estudam no público, mas o curioso é que aqueles estudantes que provieram do público tem melhor aproveitamento na universidade do que os do privado.
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Rb
As privadas não fazem porque não podem.
Por acaso tinha curiosidade em saber em que é que um privado pode fazer algo de diferente do estatal.
A carreira profissional já tem paralelismo; o ensino, tem de seguir programas, a burocracia há muito que foi imposta, incluindo direcções de turma, pais e tudo o resto.
A avaliação tem de ser igual e até a dita avaliação dos profs foi copiada (não sei se obrigatória).
A educação sexual alternativa já foi imposta. Portanto, gostava mesmo de saber onde está a autonomia ou possibilidade de diferença de um colégio privado (reconhecido e com paralelismo) de uma escola do Estado.
Mas, é claro que o CN tem razão- se alguma diferença ainda pode existir, para receberem chequezinho vão ter de obedecer ao comité central do ministério.
As privadas que têm mesmo autonomia, com programas e currículos diferentes não são reconhecidas pelo ministério.
E não vão receber cheque. O que significa que é levá-las ainda mais à falência.
Porque é claro que todos vão preferir cheque e habilitação reconhecida, que apenas ensino pagando e que não dá grau algum.
Se alguma coisa está ameaçada são mesmo as poucas escolas que ainda resistem e não aceitam a mão totalitária do ministério.
Concordo com a análise. É a nacionalizacão da organizacão das escolas, mas com os privados a receberem os seus lucros directamente através de cheques do estado. O pior do público e privado tudo junto, tal como em muitas PPP's.
Não concordo inteiramente. O controlo do projecto educativo estatal do ensino privado é muito grande, mesmo sem necessitar do pretexto do seu financiamento. Baseia-se na necessiadde do seu reconhecimento oficial. A autonomia da escola privada é pequena - embora mentenha uma importante liberdade que consiste na não obrigatoriedade da sua laicidade ambiental. E não esquecer que não falta quem conteste que a escola privada possa ser confessional.
FC
A questão não é apenas de financiamento, embora nada justifique que o Estado pague o ensino apenas dentro de umas escolas e não em todas - desde que as escolas mereçam ser reconjhecidas como dignas - as escolas privadas reconhecidas pelo Estado são dignas. A questão é a do controlo dos projectos pedagógicos, dos curricula, etc., em termos muito estreitos. O Estado quer controlar, o mais possível, o projecto educativo escolar, eis a questão.
MP
Creio que a questão importante é que o pensamento político dominante não é liberal, em matéria educativa. No fundo, o Estado é que tem o poder de controlar a escola. Não as famílias. Nem sequer os docentes, que são reduzidos a funcionários públicos, desde Napoleão. E eles gostam imenso de ser funcionários públicos. É cómodo e seguro e privilegiado. Que bom, ser funcionário público! Que o digam os sindicatos.
Renato
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