03 outubro 2013

Mas afinal qual é o problema do cheque-ensino?

Vamos analisar o seguinte cenário para clareza do argumento, utilizando a versão mais pura de cheque-ensino:

Num determinado país 50% do ensino é público e "gratuito", formatado até ao pormenor na ideologia científica naturalmente progressista do estado moderno, e o restante 50%, privado, contendo pelo menos algum diversidade, quer de gestão (instituições separadas para rapazes e raparigas, etc.) quer curricular (pelo menos em algumas disciplinas) e com exigências próprias particulares, tal como critérios, por vezes subjectivos, de selecção, como tudo na vida (aquela parte que é livre, pelo menos).

Os 50% privado incorrem no duplo custo de terem de financiar a gratuidade de uns e pagarem o seu próprio custo, é certo. Mas pelo menos existe um espaço privado de liberdade, em muitos casos, de liberdade conservadora (não no sentido ideológico do termo).

A dada altura, um conjunto de liberais com sentimentos bem intencionados e generosos propõem o cheque-ensino. Uma forma "igualitária" dizem de providenciar as mesma oportunidades a todos.

O resultado será o OE engordar com a necessidade agora de colectar impostos e distribuir cheques-ensino por 100% da população de ensino e... como o estado moderno, nunca, jamais, deixará de impor a sua formatação, exigirá crescentemente ainda que por passos indeléveis, o controlo uniformizador e igualitário de todas as tais regras de gestão e critérios subjectivos, quem sabe discriminatórios, e mais o conteúdo programático ao pormenor.

Percebem o que se passa aqui? Se não, nada posso fazer. O que vale até agora, é que a esquerda progressista é demasiada estúpida para perceber o grau de controlo adicional que lhe está a ser oferecida. Mas mesmo a estupidez crónica um dia acaba por acordar.

12 comentários:

zazie disse...

Mas isso já está tudo controlado.

Para terem paralelismo pedagógico têm de ser decalque do oficial.

josé maria martins (dótôri) disse...

Tamêm áxo!

Anónimo disse...

Vai ser lindo. As criancianhas da privada a aprender criacionismo financiado pelo erário público.

Ricciardi disse...

Eu nao vejo problema algum com o cheque ensino, excepto o facto de aumentar a despesa pública no curto e medio prazo.
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E se o país estivesse em condicoes financeiras para fazer esta mudanca nao via qualquer problema. Mas como nao está, como o pais está sem recursos parece-me uma medida perfeitamente pateta.
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Mais pateta ainda quando percebemos q o país precisa de alocar os recursos financeiros que ainda tem para areas q produzam riqueza com o exterior e nao canalizar investimentos para negocios que tem investimento mais do q suficiente como a educacao.
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Se esta medida viesse acompanhada por outra em q o estado concessionava as escolas publicas de cidade aos privados, aí sim, nao havia desperdicio de recursos.
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Rb
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Ricciardi disse...

A formação de base, na minha opinião, deve ser comum à população toda. Digamos, até ao 9º ano de escolaridade as escolas devem seguir um programa de base comum. E cada escola devia poder fazer upgrades que melhorem nesta ou naquela área a aprendizagem, levando os pais a seleccionar as escolas com upgrades que melhor se ajustam a cada gosto pessoal. Não necessáriamente em áreas do intelecto.
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Olhe, por exemplo, uma escola que proporcione upgrades aos alunos com uma componente forte no desporto, ou nas artes, na música, na dança... e outras que eventualmente pudessem se especializar em trabalhos especializados nas matematicas, nas linguas, na aprendizagem de oficios...
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Quer dizer, eu acho que as pessoas nascem com certas inclinações; dons e talentos naturais; e se não for assim pelo menos nascem com propensão maior para umas áreas do que outras que desenvolvem mais facilmente. Assim, seria útil haver opções nas escolas para potenciar cada pessoa.
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As escolas privadas NÃO estão a fazer isto. Mas deviam para se distinguirem das públicas. Na prática as privadas são mais do mesmo. Disciplinam melhor os alunos, mas não potenciam os talentos inatos.
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E isto é tão verdade que li algures uma estatistica curiosa. Os alunos das escolas privadas acedem com maior proporção à universidade em relação aos que estudam no público, mas o curioso é que aqueles estudantes que provieram do público tem melhor aproveitamento na universidade do que os do privado.
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Rb

zazie disse...

As privadas não fazem porque não podem.

Por acaso tinha curiosidade em saber em que é que um privado pode fazer algo de diferente do estatal.

A carreira profissional já tem paralelismo; o ensino, tem de seguir programas, a burocracia há muito que foi imposta, incluindo direcções de turma, pais e tudo o resto.
A avaliação tem de ser igual e até a dita avaliação dos profs foi copiada (não sei se obrigatória).

A educação sexual alternativa já foi imposta. Portanto, gostava mesmo de saber onde está a autonomia ou possibilidade de diferença de um colégio privado (reconhecido e com paralelismo) de uma escola do Estado.

zazie disse...

Mas, é claro que o CN tem razão- se alguma diferença ainda pode existir, para receberem chequezinho vão ter de obedecer ao comité central do ministério.

zazie disse...

As privadas que têm mesmo autonomia, com programas e currículos diferentes não são reconhecidas pelo ministério.

E não vão receber cheque. O que significa que é levá-las ainda mais à falência.

Porque é claro que todos vão preferir cheque e habilitação reconhecida, que apenas ensino pagando e que não dá grau algum.

Se alguma coisa está ameaçada são mesmo as poucas escolas que ainda resistem e não aceitam a mão totalitária do ministério.

Francisco disse...

Concordo com a análise. É a nacionalizacão da organizacão das escolas, mas com os privados a receberem os seus lucros directamente através de cheques do estado. O pior do público e privado tudo junto, tal como em muitas PPP's.

Anónimo disse...

Não concordo inteiramente. O controlo do projecto educativo estatal do ensino privado é muito grande, mesmo sem necessitar do pretexto do seu financiamento. Baseia-se na necessiadde do seu reconhecimento oficial. A autonomia da escola privada é pequena - embora mentenha uma importante liberdade que consiste na não obrigatoriedade da sua laicidade ambiental. E não esquecer que não falta quem conteste que a escola privada possa ser confessional.
FC

Anónimo disse...

A questão não é apenas de financiamento, embora nada justifique que o Estado pague o ensino apenas dentro de umas escolas e não em todas - desde que as escolas mereçam ser reconjhecidas como dignas - as escolas privadas reconhecidas pelo Estado são dignas. A questão é a do controlo dos projectos pedagógicos, dos curricula, etc., em termos muito estreitos. O Estado quer controlar, o mais possível, o projecto educativo escolar, eis a questão.
MP

Anónimo disse...

Creio que a questão importante é que o pensamento político dominante não é liberal, em matéria educativa. No fundo, o Estado é que tem o poder de controlar a escola. Não as famílias. Nem sequer os docentes, que são reduzidos a funcionários públicos, desde Napoleão. E eles gostam imenso de ser funcionários públicos. É cómodo e seguro e privilegiado. Que bom, ser funcionário público! Que o digam os sindicatos.
Renato