23 outubro 2013

Eu vou sentado no banco de trás, como passageiro invisível, de um carro onde nos bancos da frente seguem sentados um homem e uma mulher. Eles partem para uma viagem longa, uma viagem que vai durar muito tempo, uma viagem que nunca fizeram, e uma viagem em que o caminho está pejado de obstáculos, dificuldades, estradas principais e secundárias, rotundas, vielas, montes e vales e, em que, por vezes, pode fazer muito mau tempo.

Eu vou a observá-los sem eles saberem que os observo e, como a viagem é longa, eu vou observá-los durante muito tempo. Ao fim de algum tempo, o que é que eu observo?

Em primeiro lugar que, com grande naturalidade, quando entram no carro, o homem se senta ao volante e a mulher ao lado, embora a mulher também saiba conduzir. Fazem-no sem qualquer discussão, parece que já estão habituados, e que cada um se sente confortável no lugar que ocupa.

Já passaram agora muitas horas, e eu, olhando-os de trás,  tenho vindo fixado nos movimentos que eles fazem com a cabeça. A cabeça do homem praticamente não mexe, vai ali concentrado a olhar para a frente. Os movimentos laterais da cabeça são raros, de muito pequena amplitude e  muito rápidos, normalmente para olhar para os retrovisores. O espírito dele vai inteiramente concentrado naquilo que vê pela frente.

É assim o espírito de um homem. Tem uma amplitude muito pequena, 30, 50, 60 graus, depende de homem para homem, mas, em qualquer caso, muito pequena.

E a mulher? A mulher, que vai ao lado, vai muito mais relaxada. Olha para a frente, outras vezes olha pela sua janela para a paisagem que se apresenta do lado direito, outras ainda olha para a esquerda, por cima do ombro do marido para alguma coisa que lhe chamou a atenção desse lado. E, por vezes, até fica a olhar para trás para alguma coisa que lhe prendeu a atenção no caminho.

É assim o espírito de uma mulher. Tem uma amplitude de 180º mas pode chegar aos 360º.

É esta a principal diferença. Uma mulher vê para os lados, vê para a frente e, se necessário, até vê para trás. Um homem só vê para a frente.

Eles estão muito bem nos lugares onde estão - ele concentrado ao volante, ela a olhar para o ambiente em que a viagem se desenrola.

E o que dizem um ao outro? Fala muito mais ela do que ele.

-No próximo cruzamento tens de voltar à direita...
-Vem lá chuva...
-Não te metas por aí que ainda nos vamos perder...
-(Olhando para trás) Houve ali um grande acidente...
-Temos de passar aquela ponte...
-És um teimoso ... nunca ouves o que eu te digo ... devias ter virado ali à esquerda...

Passado muito tempo chegaram ao destino. De facto, o caminho era difícil, e para ambos desconhecido,  estava cheio de perigos, obstáculos, curvas e contracurvas, estradas e vielas, montes e vales, todas as dificuldades possíveis e imaginárias, e muitas tempestades. Mas eles lá chegaram finalmente ao destino.

Ele conduziu o carro, mas foi  ela que lhe deu os sinais.

Como é que seria se o homem estivesse sozinho no carro, sem mulher? Seguia sempre em frente, se calhar levava até tudo à frente, mas perdia-se pelo caminho,  nunca chegaria ao destino.

E como seria se a mulher estivesse sozinha no carro, sem homem?  Nunca saía do sítio.

São precisos os dois para chegarem lá. Um sem o outro nunca  lá chega.

13 comentários:

zazie disse...

Estranhamente também pensava assim.

Ultimamente tenho visto tantas mulheres feitas cavalgaduras do asfalto que acredito que a igualdade de géneros tem contribuído para a regressão das espécies.

zazie disse...

E a probabilidade de se ter acidente indo com condutor homem ou mulher também já deve estar paritária.

Dantes eles pareciam mais fuções. Para arrancarem quando o sinal ficava verde para eles, olhavam apenas para o carro ao lado, com medo que o tipo os ultrapassasse na partida.

Os peões da passadeira não contavam, nem contam. Hoje é igual, elas nem precisam de competir com carro ao lado e, muitas vezes, nem se dão ao trabalho de olhar para o sinal.

Na auto-estrada, eles não aguentavam ir atrás de um camião. Os desastres davam-se quase sempre por causa disso- nas ulttrapassagens à maluco.


Agora é igual- elas não aguentam ir a passo lento atrás de um camião- ultrapassam à maluca. A diferença é que depois ainda têm reflexos mais lentos para o desvio de última hora.

Como não sabem usar tanto a caixa de velocidades nem desviar com a mesma rapidez- travam.

E o acidente acontece. As percentagens devem estar paritárias.

Outra coisa- elas falam ao telemóvel mais do que eles e com ele na mão.

Já tive de berrar com amiga para largar aquela merda e olhar para o que ia a fazer.

Ricciardi disse...

Zazie, as companhias de Seguros fazem um desconto especial para mulheres porque estatiisticamente tem menos acidentes do que os homens.
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Rb

Ricciardi disse...

Mas genericamente concordo como posto do Pedro. Um complementa o outro. A familia é isso mesmo. Complementaridade.
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Rb

zazie disse...

Talvez. Mas estão a ficar mais parecidas com eles. Foi isso que eu disse.

Há uma mudança para pior. Já a vivi.

Se me perguntares se prefiro boleia de homem ou mulher, digo-te que prefiro ir de avião.

zazie disse...

Também concordo com a ideia do post. O exemplo é que está fora de prazo.

Ricciardi disse...

Mas a questao do marido e mulher nao se fica pela complementaridade. Trata-se de perceber se as funcoes tradicoes do homem ou da mulher nao deveriam voltar a ser o q a natureza das coisas impoe.
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Nao é possivel q a viagem corra bem quando nao existe ambiente familiar q propocie a coisa.
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Como é possivel ter filhos e educa-los num mundo onde a mulher nao tem descanso algum.
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Já é coisa estranha aquela sensaçao q temos qdo deixamos um filho no infantario cokm 4 ou 5 meses. Doi o coracao. Nao é natural. A mae tinha q estar mais tempo. Muito mais.
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A organizacao economica e social está errada. Nao se tem mais filhos porque esta organizacao nao permite isso.
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Rb

zazie disse...

Não sei se é só isso.

Por muito que negues, não consegues explicar o motivo pelo qual tanta mulher agora pensa em carreira e até nem quer formar família.

Não são sequer as mais necessitadas. Essas trabalham porque tem que ser. Muitas vezes até para sustentarem a família sozinhas.

As que podem, querem carreira. É uma realidade. Mesmo que a carreira seja uma palhaçada que é mentira.

Lembro-me até da semântica que introduziu esta falsa necessidade.

Chamavam-lhe "sentir-me realizada".

zazie disse...

A "realização pessoal" foi o dogma que tramou muita mulher.

A consquência agora também tem semântica individualista.

Diz-se: "não tenho tempo para mim".

Nunca entendi o que é isso de "tempo para mim"- sempre vi a imagem de alguém a limar as unhas.

Vivendi disse...

"A organizacao economica e social está errada."

= socialismo

Não existe nada mais errado, anti-tradicional, anti-individualismo que o socialismo.






Anónimo disse...

Acho estranho... as mulheres a verem 180º e até 360º como as camaleonas... é que conheço tantas (as suficientes!) tão mal consigo mesmas...
Devem ter guardado a amplitude toda para conduzir... porque no instante decisivo (como diria Henri Cartier-Bresson), tomaram a pior decisão que poderiam ter tomado... falta de critério, de julgamento e de miolo, como se pode ter falta de critério, de julgamento e de miolo... não sei como se pode fazer uma viagem tão tranquila quando na principal decisão, na escolha do condutor, erraram tão rotundamente tantas vezes... -- JRF

Anónimo disse...

Portanto, não... não concordo com a ideia do texto... não é isso que a minha experiência me diz.
Quanto à condução, a minha mulher é muito mais agressiva na estrada que eu, mas de longe... chamo-lhe a Fangio, o que ainda a torna mais agressiva. A solução é ser sempre eu a conduzir quando estamos os dois... e mesmo assim está sempre a moer-me... — Não vais passar este semáforo?... — Acorda!... — Deixa de olhar a paisagem... — Se há coisa que me enerva é alguém a conduzir a olhar para os lados... — Vais entrar deixar esse?... — Vais deixar entrar outro?...
E eu — Queres guiar?... -- JRF

Anónimo disse...

Metellus Numidicus disse:
"If we could get on without a wife, Romans, we would all avoid that annoyance; but since nature has ordained that we can neither live very comfortably with them nor at all without them, we must take thought for our lasting well-being rather than for the pleasure of the moment."
http://penelope.uchicago.edu/Thayer/E/Roman/Texts/Gellius/1*.html