Num post anterior, conversando sobre o divórcio com o CGP, eu fiz notar que a razão que eu usava, estando ancorada no amor (aos meus netos) estava concentrada no bem, ao passo que a razão usada por ele, que era a razão protestante, estando desancorada do amor, se concentrava no mal (de cada um dos pais, e daí a solução do divórcio).
É verdade. A razão protestante, tendo-se desligado do amor (de Deus, da comunidade ou Igreja, da Tradição) está concentrada no mal. Significa isso que a razão protestante não realiza o bem? Só às vezes, e nestes casos sempre de forma transviada. Estando concentrada no mal, a razão protestante ou moderna procura o bem removendo os males. Daí o seu carácter dialógico.
A razão católica, que está ancorada no amor, e é a verdadeira razão universal, identifica o bem e vai ter directamente com ele. A razão protestante ou moderna visa chegar ao bem removendo males. Neste ponto, uma frase do CGP no post que me dirige resume tudo, a concentração do espírito protestante (neste caso, protestante-liberal) no mal, a ideia que se chega ao bem através do mal e, em última instância, o carácter destrutivo do pensamento protestante e moderno:
um liberal não defende a liberdade de escolha porque as pessoas tendem a fazer boas escolhas, antes pelo contrário. É precisamente porque os indivíduos tomam más decisões que é importante que sejam eles a tomá-las.
Mas, então chega-se ao bem, através do mal, chega-se à boa escolha através das más escolhas, encontra-se o cônjuge ideal casando primeiro com pessoas que não nos servem para cônjuge? Se, de acordo com as estatísticas do divórcio, 75% dos portugueses não sabem escolher o cônjuge, cometendo um erro ao casar-se com uma certa pessoa, que razão temos nós para pensar, facilitando-lhes o divórcio, que elas não vão cometer outro erro ao divorciar-se? A realidade sugere que, sendo pessoas propensas ao erro, aquilo que elas vão fazer ao divorciar-se é cometer outro erro.
Quanto á segunda parte da afirmação, segundo a qual "É precisamente porque os indivíduos tomam más decisões que é importante que sejam eles a tomá-las", ela desafia toda a racionalidade. Se os indivíduos tomam más decisões, aquilo que têm de fazer é perguntar a quem as saiba tomar, em lugar de levarem uma vida a fazer asneiras - sobretudo quando há vítimas inocentes dessas asneiras. E, se por alguma razão, os indivíduos recusam perguntar a quem sabe, em nome da sua liberdade ou independência, e continuam a fazer asneiras cujas consequências recaem, em parte, sobre vítimas inocentes, então compete à comunidade retirar-lhes a liberdade para tomarem decisões, e substituir-se a eles nessas decisões.
Foi o que fizeram, a certa altura, os tios do D. Substituiram-se ao L. em certas decisões que afectavam directamente a vida do seu filho. Fizeram bem. E, agora que o L. já cá não está, vão continuar a fazê-lo. Obtido o consentimento da mãe, que não se reconhece competência particular nessa matéria, os tios reúnem-se já este fim-de-semana para decidirem sobre a educação escolar do D. - e, naturalmente, para a pagar. Ou será que vão deixar o D. decidir com o seu livre arbítrio nesta matéria? Para quê, para ele sair como pai? O próprio pai, onde quer que esteja, e pelos sinais que transmitiu nas suas últimas semanas de vida, aprovará que assim seja.
7 comentários:
Numa cultura protestante como teria evoluído a história do seu irmão e da família dele?
Haveria gente no funeral?
Sabemos onde está a verdade quando algo nos é transmitido em exemplos verdadeiros.
E qualquer família de tradição portuguesa só pode agir como a sua família agiu.
Bem, eu intuo q o PA defenda o que defende particularizando a sua experiencia pessoal. Nao me passa pela cabeça q defenda a dificultacao do divórcio em casos frequentes de maus tratos, à mulher e aos netos.
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Nem nos casos onde o homem anda com outras mulheres. Pior do que isso, nos casos em que a mulher trai o marido com o carteiro.
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Só mesmo um gajo meio totó é q viveria com uma mulher que passe a vida a ler correspondencia alheia.
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O que um avô tem de fazer é simples. Ver o que é melhor para o seu neto e aconselhar os filhos para o efeito. Se o pai é drogado, bate na mulher e ainda arreia no filho ou neto o melhor mesmo é q as vitimas tenham a possibilidade de se afastar rapidamente dessa pessoa.
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Se o filho nao faz nada disso mas o que quer é levar vida de solteiro estando casado e com responsabilidades entao as leis devem servir para dificultar o divorcio.
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Rb
Se o PA considera que as pessoas podem escolher mal qdo casam e podem escolher mal qdo se divorciam, o errado estará em quem considera alguma coisa.
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Até porque um neto estará melhor e mais feliz fora de conflitos do que no meio deles., bem como A mulher ou o marido tem o dever de serem felizes.
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Rb
Ainda a propósito do L., os meus sentimentos.
1. A consequência imediata do que está a defender é o mais dantesco totalitarismo. Um completo Nanny State. Ninguém pode decidir seja o que for porque nunca está qualificado para decidir, e há alguém "que sabe" que toma decisões por todos.
2. Petição de princípio clara como a água: pela lógica que enuncia, qualquer razão não ancorada no amor está concentrada por natureza no mal. E já nem vou falar de como teria que provar primeiro que amor é algo de necessariamente bom - o que é impossível, como impossível seria provar o seu contrário.
Um relato assustador sobre o poder masculino.
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