A semana passada estive um dia em Lochness, na Escócia.
Fiquei num hotel de turismo rural, com cinco quartos, numa área razoavelmente isolada. À noite, ao jantar, os hóspedes tiveram a possibilidade de se conhecerem todos - dois casais de canadianos, um de Mississauga, perto de Toronto, outro de Ottawa; dois casais de espanhóis, ambos de Burgos; e um casal de portugueses.
Durante a tarde, eu e a minha mulher demos um passeio pela floresta, à procura do Monstro, mas não o encontrámos. No regresso, na rampa de acesso ao pequeno hotel, existia uma pequena propriedade com duas casas. Saiu-nos o dono ao caminho, um homem aparentando cerca de 80 anos, dizendo que tinha ouvido bater à porta e perguntando se tínhamos sido nós.
Respondemos que não, mas ficámos à conversa. Em breve compreendemos que existiam ali alguns sinais de Alzheimer. Contou-nos a sua vida, tinha sido professor, mas com o aparecimento das novas tecnologias, há cerca de 15 anos, tinha decidido reformar-se e ir viver para ali. Estava divorciado, mas quanto às duas casas dentro da propriedade, uma era dele, e outra da ex-mulher - viviam a menos de 10 metros de distância.
Chamava-se John Forsyth. Enquanto conversávamos, um passarinho, que ele tratava por um nome próprio, passeava pelos ramos de um árvore. A certa altura falei em britânicos e ele interrompeu-me para me esclarecer que havia uma grande diferença entre ingleses e escoceses. Perguntei-lhe, então, qual era a principal diferença. "It is that the English... they believe that they rule the World". No final da conversa que durou talvez uns vinte minutos, despediu-se de nós muito afectuosamente, dizendo que em muitos meses não tinha visto por ali um casal de turistas tão simpático como nós.
Seguimos o nosso caminho para o hotel. À noite, ao jantar, a dona do hotel aproximou-se da nossa mesa e entregou à minha mulher um envelope.O John tinha acabado de ir lá bater à porta pedindo-lhe que entregasse aquele envelope ao casal de portugueses.
Continha flores que ele colheu no seu jardim.
2 comentários:
Acho que a sua mulher mereceu bem as flores. Ter ficado a conversar com um homem aparentando Alzheimer foi uma boa ação.
Estava a contar encontrar o monstro empoleirado numa árvore caro PA?... -- JRF
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