06 setembro 2013

Objectivismo - A razão


A razão é a faculdade que identifica e integra a informação fornecida pelos sentidos. Os seus dados são as percepções, a sua forma são os conceitos e o seu método é a lógica.
A razão é o único método de conhecer a realidade
A razão pode conduzir-nos à certeza, pese embora que o conhecimento humano é limitado e contextual.
O homem pode viver apenas pela razão
As emoções são um produto das ideias
A verdade é o reconhecimento da realidade
A razão é o principal dote humano. Quando rejeitada só resta a animalidade.
Leonard Peikoff

Comentário:
A razão está no cerne do objectivismo de Ayn Rand, como se pode depreender das afirmações que acima reproduzi.
Infelizmente, Rand sobrevaloriza muito o papel da razão para os seres humanos. A razão não é o único método de conhecer a realidade, não é possível viver apenas pela razão e, por fim, as emoções não são um produtos das ideias.
Podemos conhecer a realidade através da intuição ou até de um modo instintivo. Somos capazes, por exemplo, de reconhecer a morte de outro ser vivo sem percebermos nada de biologia. Já nascemos com noções elementares de física e sabemos que a distância mais curta entre dois pontos é uma recta, antes de desenvolvermos o conceito de recta ou de sabermos geometria. Instintivamente reconhecemos os alimentos de que necessitamos e rejeitamos os que nos podem envenenar, etc.
A verdade é que a nossa existência depende mais dos instintos e da intuição do que da razão. A prova disso é que sobrevivemos mais de 150.000 anos num estado de animalidade estranho à superioridade da razão.
É possível viver apenas pela razão? Não creio, ficaríamos paralisados e não teríamos resposta para os problemas mais simples do quotidiano.
E será possível a razão conduzir-nos à certeza? Penso que é possível alcançarmos algumas certezas através da razão, mas certamente poucas. É possível estarmos certos de que a existência do Universo teve um Princípio e de que existe a Verdade, mas para além disso, as dúvidas são mais do que as certezas.
Ayn Rand tem razão quando afirma que todo o conhecimento é contextual. É por esse motivo que dois seres humanos igualmente inteligentes raramente têm a mesma visão do mundo. Cada um usa a razão para articular os seus conceitos, num contexto particular e diferente do outro.

O principal dote humano não é a razão, é o nosso património genético (do qual a razão também faz parte). Se uma catástrofe nos devolver à barbárie, não vai ser a razão que nos vai salvar, mas os instintos que herdamos dos nossos antepassados.

3 comentários:

Francisco disse...

Depois do capítulo anterior, onde não consegui perceber nada sobre qual é a posição da Rand relativamente à formação de conceitos e epistemologia, neste eu acho que consigo entender a ideia.

Queria só alertar que aparentemente tanto na posição da Rand como na objecção do Joaquim parece estar implícita a existência de uma dualidade entre razão por um lado e emoção/instinto por outro. Como se fossem dois métodos alternativos. Mas penso que é a maneira errada de ver a questão.

Pois se os resultados produzidos pelos instintos forem vantajosos não é uma necessidade racional segui-los? A questão está é nos pressupostos da razão. Eu posso pressupor uns princípios marados e racionalmente deduzir coisas que não servem para nada, ou então ter uma visão contextualizada que pode eventualmente ter em conta instintos e emoções e chegar respostas racionais de valor.

Mas cena de ter que conjugar consciência, razão e instintos tudo na mesma cabecinha é um problema lixado, não vale a pena ter a grande ilusão que já encontramos uma resposta minimamente satisfatória.

Francisco disse...

O Joaquim diz que o conhecimento é contextual e isso parece-me razoavelmente consensual. Mas eu extendia isso e diria que a razão também é contextual.

zézinho disse...

Essa do Peidoff já cheira mal.