A razão é a faculdade que identifica e integra
a informação fornecida pelos sentidos. Os seus dados são as percepções, a sua
forma são os conceitos e o seu método é a lógica.
A razão é o único método de conhecer a
realidade
A razão pode conduzir-nos à certeza, pese
embora que o conhecimento humano é limitado e contextual.
O homem pode viver apenas pela razão
As emoções são um produto das ideias
A verdade é o reconhecimento da realidade
A razão é o principal dote humano. Quando
rejeitada só resta a animalidade.
Leonard Peikoff
Comentário:
A razão está no cerne do objectivismo de Ayn
Rand, como se pode depreender das afirmações que acima reproduzi.
Infelizmente, Rand sobrevaloriza muito o papel
da razão para os seres humanos. A razão não é o único método de conhecer a
realidade, não é possível viver apenas pela razão e, por fim, as emoções não
são um produtos das ideias.
Podemos conhecer a realidade através da
intuição ou até de um modo instintivo. Somos capazes, por exemplo, de reconhecer a morte de
outro ser vivo sem percebermos nada de biologia. Já
nascemos com noções elementares de física e sabemos que a distância mais curta
entre dois pontos é uma recta, antes de desenvolvermos o conceito de recta ou
de sabermos geometria. Instintivamente reconhecemos os alimentos de que
necessitamos e rejeitamos os que nos podem envenenar, etc.
A verdade é que a nossa existência depende
mais dos instintos e da intuição do que da razão. A prova disso é que
sobrevivemos mais de 150.000 anos num estado de animalidade estranho à
superioridade da razão.
É possível viver apenas pela razão? Não creio,
ficaríamos paralisados e não teríamos resposta para os problemas mais simples
do quotidiano.
E será possível a razão conduzir-nos à
certeza? Penso que é possível alcançarmos algumas certezas através da razão,
mas certamente poucas. É possível estarmos certos de que a existência do
Universo teve um Princípio e de que existe a Verdade, mas para além disso, as
dúvidas são mais do que as certezas.
Ayn Rand tem razão quando afirma que todo o
conhecimento é contextual. É por esse motivo que dois seres humanos igualmente
inteligentes raramente têm a mesma visão do mundo. Cada um usa a razão para
articular os seus conceitos, num contexto particular e diferente do outro.O principal dote humano não é a razão, é o nosso património genético (do qual a razão também faz parte). Se uma catástrofe nos devolver à barbárie, não vai ser a razão que nos vai salvar, mas os instintos que herdamos dos nossos antepassados.
3 comentários:
Depois do capítulo anterior, onde não consegui perceber nada sobre qual é a posição da Rand relativamente à formação de conceitos e epistemologia, neste eu acho que consigo entender a ideia.
Queria só alertar que aparentemente tanto na posição da Rand como na objecção do Joaquim parece estar implícita a existência de uma dualidade entre razão por um lado e emoção/instinto por outro. Como se fossem dois métodos alternativos. Mas penso que é a maneira errada de ver a questão.
Pois se os resultados produzidos pelos instintos forem vantajosos não é uma necessidade racional segui-los? A questão está é nos pressupostos da razão. Eu posso pressupor uns princípios marados e racionalmente deduzir coisas que não servem para nada, ou então ter uma visão contextualizada que pode eventualmente ter em conta instintos e emoções e chegar respostas racionais de valor.
Mas cena de ter que conjugar consciência, razão e instintos tudo na mesma cabecinha é um problema lixado, não vale a pena ter a grande ilusão que já encontramos uma resposta minimamente satisfatória.
O Joaquim diz que o conhecimento é contextual e isso parece-me razoavelmente consensual. Mas eu extendia isso e diria que a razão também é contextual.
Essa do Peidoff já cheira mal.
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