07 setembro 2013

Ela tinha-lhe ensinado

Para Rand, o homem pode chegar a Deus, na realidade, confundem-se, o homem é Deus e Deus é o homem. Daí o seu ateísmo. (em baixo).

Para ela,  Deus não existe. Existem homens e realizações humanas, que ela glorificou em todas as suas novelas. O pensamento filosófico da Ayn Rand, ainda que sob outro nome - o de objectivismo, que conduz à mesma ideia - não é senão uma outra forma de materialismo.

Eu perdi a consideração intelectual pelo objectivismo a partir do final dos anos 80 por várias razões, todas convergentes para esse fim. A primeira e a mais importante foi por causa de uma história de amor, contada no livro "Judgement Day" (1989) de Nathaniel Branden.

É uma história de amor entre uma mulher casada e um jovem vinte cinco anos mais novo do que ela, também casado. 

A protagonista feminina é ela, o protagonista masculino é ele.

Um dia, ela decidiu pôr os respectivos cônjuges ao corrente da situação. Ficou-me para sempre no espírito aquela cena em que, em sua casa,  ela explica aos outros três a perfeita racionalidade da situação. Ela era uma argumentadora persuasiva e uma escritora de mérito.

Afinal, o amor existe, o mundo não é só matéria  - e muito menos o homem, e sobretudo uma mulher, é apenas razão.

Já nessa altura, entre os seus divulgadores, eu considerava o Leonard Peikoff muito superior ao Nathaniel Branden, mais intelectual, melhor preparado filosoficamente, um discípulo  fiel.

Não ganhei mais consideração pelo Branden. Se ele acreditasse em Deus, ele teria guardado aquela história  para sempre na intimidade dos três - ele, ela e Deus. Se ela acreditasse em Deus, ela teria feito o mesmo anos antes, em lugar daquela reunião a quatro. Porque as consequências, como seria racional prever, viriam a ser devastadoras para todos os envolvidos e também para o movimento filosófico que ambos pretenderam criar.

Mas ela não acreditava em Deus. E ele também não. Ela tinha-lhe ensinado que Deus não existe.




3 comentários:

Euro2cent disse...

O objectivismo foi uma religião muito semelhante ao maoísmo dos anos 70 - alimentava-se de jovens fanatizados por uma "linha correcta" de pensamento que lhes dava respostas prontas para quase tudo.

Aliás, isto reedita-se periódicamente em várias versões de "causas nobres". Quem já viu duas ou três vezes, topa o filme e abana a cabeça com tristeza.

Anónimo disse...

Vós ambos os dois, sois, sem dúvida, a maior anedota da blogosfera nacional.

Pedro Sá disse...

Er...duvido que alguém tenha ficado minimamente a perceber qual seria a hipotética ligação entre a crença em Deus ou falta dela e meter ou não a boca no trombone.