28 setembro 2013

amanhã

O protestantismo (e com ele a modernidade) desancorou a razão do amor, firmei eu num post anterior.

Tal equivale a dizer que o protestantismo (e, com ele, a modernidade) desancorou a razão da comunidade (porque sem amor não há comunidade), da tradição (que é a voz viva da comunidade), de Deus (porque Deus se exprime através da tradição).

Desancorada do amor, a razão deixa de estar orientada para a comunidade e para o bem comum.

Mas então, como é que um conjunto de pessoas - por exemplo, um país -, que agora já não formam uma comunidade podem viver em conjunto?

Por outras palavras, onde é que deve passar a estar ancorada a razão para que uma sociedade seja viável?

O protestantismo deu duas respostas a esta questão.

A primeira, do protestantismo anglo-saxónico ou calvinista - conhecida por liberalismo - foi a de que a razão deveria passar a estar ancorada no interesse próprio de cada indivíduo.

A segunda, do protestantismo germânico ou luterano - conhecida por socialismo - foi a de que a razão deveria estar ancorada no poder.

De uma e de outra resultaram as ciências sociais modernas, a ciência Económica do protestantismo anglo-saxónico, a ciência Política, a ciência do Direito e a Sociologia do protestantismo luterano.

Estas disciplinas pretendem demonstrar cientificamente como é possível uma sociedade viver e prosperar com base numa razão ancorada no interesse próprio, num caso, e no poder, no outro.

A mim, que não me fiz a mim próprio, calhou-me ser formado na primeira destas correntes, a da ciência económica e do liberalismo anglo-saxónico. Um homem muito influente na minha formação e, portanto, naquilo que eu sou, foi Adam Smith, o filósofo escocês, autor de A Riqueza das Nações, considerado o primeiro tratado de Economia (1776).

Adam Smith nasceu em Kircaldy, na Escócia e foi professor na Universidade de Glasgow que foi, por assim dizer, a primeira Meca dos economistas.

Amanhã, eu próprio vou a Kircaldy pedir contas a Adam Smith. Será que uma sociedade (não falo em comunidade porque isso não teria sentido para Smith), pode assim, sem mais, viver e prosperar quando as pessoas ancoram a razão no interesse próprio?

É que eu venho de uma cultura que diz que isso só é possível se a razão estiver ancorada no amor. 



4 comentários:

Vivendi disse...

O amor já existia antes dos pensadores da razão.

A libertação espiritual pelo amor é possível. Pela razão tenho sérias dúvidas.

Vivendi disse...

“não me tenho cansado de afirmar por toda a parte, que o lema revolucionário de 89 é uma ficção perigosa. Só é livre quem pode ser livre. E só pode ser livre quem se prepara para a liberdade. A liberdade do pensamento – que é o aspecto mais genérico e mais apoteosado da liberdade, só pode ser atingida por quem consegue chegar a um certo grau de cultura.
Eu não posso pensar como quero: só posso pensar como sei. A liberdade do pensamento supõe competência. Só pensa livremente quem tem competência para tal. Eu não tenho a liberdade de pensamento em medicina, porque não sou médico, nem a tenho em engenharia, porque não sou engenheiro. Mas nós chegámos a uma situação em que toda a gente sabe tudo. Ora só pensa que sabe tudo – quem não sabe nada de nada. À medida que mais se sabe – menos se sabe. E é por isso que à medida que mais se sabe, menos o homem se sente livre no seu pensamento.”

(Alfredo Pimenta, A Significação Filosófica da Guerra Europeia).

z´zinho disse...

Será que o Papa Chico também alinha com os protestas?

Anónimo disse...

Está a fazer o doutoramento em brochelogia, diz quem sabe.