29 abril 2013

O Zé não fica


Quando expus aqui o caso do empreendedor Zé, alguns comentadores questionaram como era a situação noutros países e se esta circunstância tinha de facto algum efeito na economia e no emprego. Recorrendo a alguns dados da KPMG sobre fiscalidade no mundo, consegui reproduzir o mesmo exercício para outros países. Infelizmente, dada a natureza do IRS e da TSU, tive que excluir estes dois impostos/contribuições da análise e restringi-la ao IVA/IRC. Entre os 109 países para os quais existem dados, Portugal é o 13º entre os países onde o Zé pagaria mais em IVA e IRC (Índice de Zé).
ZeMundo
É mais ou menos por esta altura que alguém nota que Portugal não deve ser comparado com o resto do mund, mas apenas com os seus pares europeus. Devo dizer que embora entendendo o raciocínio subjacente, discordo com essa metodologia. comparar os indicadores de Portugal com os de uma europa estagnada economicamente e a perder força no Mundo, é um pouco como limitar um atleta a participar nos Paralímpicos. A economia é global e Portugal hoje não compete apenas com países europeus, nem as suas especializações e restrições geográficas colocam o país na mesma categoria de muitos países europeus. Ressalvando esta questão, avancemos para a comparação, limitando-a aos países da UE. Em baixo podem a competição paralímpica da fiscalidade:
IVA+IRC
Entre os 25 países da União Europeia, Portugal é o nono com a maior fiscalidade (seguindo o índice de Zé). Entre os países que estão à frente de Portugal, apenas dois têm PIBs semelhantes ao português (a Grécia e a Hungria, outros dois atletas em grande forma). Todos os restantes países têm PIBs bastante superiores (portanto, têm uma economia capaz de suportar cargas fiscais superiores). Em baixo podem ver a laranja todos os países com um índice de Zé acima de Portugal.
PIBpc
A questão final que se coloca aqui é: e isto afecta de facto a economia? As análises empíricas em economia são sempre um exercício complicado, principalmente para quem não se dedica a tempo inteiro a fazê-lo, mas em baixo podem ver uma correlação entre o crescimento anual das 25 economias no período 2008-2013 (fonte:FMI).
Europa
A correlação é bastante forte. Em média, por cada 100 a mais no índice de Zé, a economia cresceu menos 3% ao ano entre 2008 e 2013.
A análise empírica aqui quase seria desnecessária. É evidente que um país onde um empresário tenha tão poucos incentivos a criar riqueza, dificilmente terá uma economia dinâmica, dificilmente criará emprego. O Zé, se puder, emigrará, de preferência para fora do inferno fiscal europeu. Não é muito complicado entender as razões. Complicado mesmo é entender o porquê de se andar a insistir nas mesmas políticas fiscais há décadas.

21 comentários:

jhb disse...

"Todos os restantes países têm PIBs bastante superiores (portanto, têm uma economia capaz de suportar cargas fiscais superiores)."

Que maneira de virar o bico ao prego! Entao se a economia aguenta, impostos altos não são maus... Isto vindo de um libertário é uma surpresa...

Anónimo disse...

Que maneira de virar o bico ao prego! Entao se a economia aguenta, impostos altos não são maus... Isto vindo de um libertário é uma surpresa...

...

E isso, assim completamente ideia luminosa e iluminada de repente.
Sem usar para nada a folha Excel...

Unknown disse...

Tenho um comentário a fazer, apesar de não por em causa a conclusão para o caso português. Na relação que mostra no final podemos estar simplesmente a observar que os países mais ricos, que são os que tendem a ter impostos mais elevados, têm taxas de crescimento mais baixas simplesmente porque já são ricos, em economês, estão mais próximos do steady-state. Para o caso português, que está bem longe de ser um país rico, a carga fiscal parece-me bastante exagerada.

Vivendi disse...

A Europa tem 7% da população do mundo, tem 25% do PIB mundial e consome 50% do estado social a nível mundial.

Não vai acabar bem.

Anónimo disse...

para o jnb...

a uma rico sobra mais dinheiro para despesas, um rico pode pagar uma % maior do seu rendimento que um pobre que consome uma % muito elevada só na habitação e alimentação.

o mesmo se passa para os paises.
Está mais que estudado, economias mais desenvolvidas suportam uma % de impostos maior. É por isso que paises atrasados têm normalmente aparelhos de estado menores. O mais retardado disto tudo é os ignorantes verem um rico andar de avião e julgarem que ele é rico por viajar de avião. A partir daí também querem viajar de avião e julgam com isso que ficam ricos...

os ignorantes vêm os paises mais ricos com aparelhos burrocraticos grandes e julgam que ficariamos mais ricos se os imitassemos... é a carroça à frente dos bois...
eles têm impostos elevados e estados burrocraticos grandes porque a sua economia desenvolvida consegue suportá-los. Se uma economia africana os tentasse imitar o resultado seria ficar ainda pior do que está. O mesmo vale para a economia portuguesa...

desabafo - o mal do povo portugues é que devia ter alguma instrução econoomica, fazia-lhe mais falta que a educação sexual que quiseram implementar. Mas acho que a esquerda radical não ia gostar, cresce na lama da ignorancia.

xyz

jhb disse...

Hehe estes libertários...

Deixa ver: impostos altos ---> economia pelo cano abaixo...

Suécia tem impostos mais altos que Portugal ---> Economia sueca pior que a portuguesa... Não?!!

Uhh... É melhor assim: impostos altos + economia fraca ---> economia pelo cano abaixo...

Ricciardi disse...

Quando formos Suecos, jhb, os impostos podem subir para financiar qualidade de vida. Até lá, é melhor que desçam para ver se os conseguimos apanhar.
.
Rb

Cfe disse...

Ò JHB,

Vê lá se entendes: a parte que fica disponível aos suecos depois do governo levar o dele é significativamente maior do que aquilo que sobra aos portugueses depois do Gaspar sacar uns trocos.

Ou por outras palavras: exija lá o que quiserem aos empresários mas não os deixe sem lucro porque o móbil desaparece e a fonte seca.

Cfe disse...

É como se Portugal fosse o Mar de Aral, retiram tanta água para motivos muito justos que acabam por provocar problemas piores.

jhb disse...

Humm...

Então se o Zé emigrasse para a Suécia, que tem impostos mais altos que Portugal, estaria melhor que aqui? É isso? Mesmo que tivesse emigrado por Portugal ter impostos muito altos...

Ok. Faz todo o sentido...

Vivendi disse...

IKEA é uma companhia privada de origem sueca, controlada por uma série de corporações sediadas nos Países Baixos.


O fundador do IKEA, Ingvar Kamprad, desde 2008 tem nacionalidade suíça.

lusitânea disse...

Mas nós vamos enriquecer.Nos 2 últimos anos este governo de direita "nacionalizou" só 170000 pobres, a maioria africanos de certeza.Ora como Áfreica ainda está cheia deles e todos voluntários não vai tardar nada a nadarmos na piscina do tio patinhas...

Anónimo disse...

O Zé empregado só emigra para a Suécia porque o salário liquido o atrai.
O Zé empresário só investe em portugal se perceber que:
a) O irmão do Zé que não emigrou tem poder de compra.
b) O Estado não lhe confisca a riqueza que produz.
.
Rb

lusitânea disse...

Mas pelos vistos vai haver um dano colateral.Por cada africano nacionalizado vai um funcionário público à vida...

Vivendi disse...

O sucesso econômico da Suécia tem sido um dos argumentos mais poderosos da esquerda. Se os impostos são ruins para a economia, dizem, por que aquele país, dono de uma das maiores cargas tributárias do mundo, tem um padrão de vida tão amplamente admirado?

Malgrado o orgulho e a propaganda esquerdistas, entretanto, a Suécia é, de fato, uma economia de mercado, engessada, em boa medida, pelo pesado fardo do estado de bem-estar. Embora os arautos da esquerda enxerguem na Suécia um exemplo indiscutível de como combinar altos níveis de prosperidade e qualidade de vida com altos índices de redistribuição de renda, a história revela algo bem distinto: o sucesso desta nação nórdica não decorre das políticas de bem-estar, mas apesar delas.

O que é preciso entender, antes de mais nada, é que o estado de bem-estar não é o que distingue a Suécia e demais países escandinavos do resto da humanidade. Na verdade, esses povos são altamente homogêneos e contam com uma das culturas melhor adaptadas para o sucesso econômico e social, com destaque para o cooperativismo, a confiabilidade, a ética no trabalho, a participação cívica, os valores familiares e, last but not least, a responsabilidade individual extremada.

Dos países da Cortina de Ferro, a economia mais bem sucedida foi, sem dúvida, a da Alemanha Oriental. Não que o comunismo tenha exatamente funcionado ali, mas graças às virtudes acima mencionadas, muitas delas também presentes na cultura germânica, a experiência comunista foi, sem dúvida, menos ruim para os alemãs do que para outros povos. Pois bem, não seria exagero especular que, se a Suécia tivesse experimentado o comunismo,

Vivendi disse...

provavelmente a aventura teria sido relativamente menos traumática por lá do que em qualquer outro lugar.

Esse é o tema central de um trabalho publicado em 2011 por Nima Sanandaji. Contrariamente à visão propalada pelo marketing esquerdista, o autor demonstra que o sucesso da sociedade sueca não é resultado do estado de bem-estar. O argumento chave de Sanandaji é o da primazia dos valores. Honestidade, frugalidade e parcimônia – virtudes necessárias para o desenvolvimento econômico e social, tão bem esmiuçadas por Adam Smith no clássico “A Riqueza das Nações” – já faziam parte da cultura sueca muito antes da introdução do “welfare state”, a partir da década de 1930 do século passado. Segundo o autor, este “capital moral”, arduamente constituído ao longo dos séculos, é o que tem sustentado o sucesso da Suécia (e de outros países nórdicos), apesar do estado de bem-estar.

Historicamente, a experiência sueca é raramente mencionada como um exemplo das virtudes do capitalismo liberal. No entanto, poucas outras nações no mundo demonstraram tão claramente como um fenomenal crescimento econômico pode ser alcançado a partir da adoção de políticas de livre mercado.

Vivendi disse...

A Suécia era uma nação empobrecida antes da década de 1870, fato comprovado pela emigração maciça, principalmente para os Estados Unidos, naquela época. A partir do surgimento do capitalismo, o país evoluiu rapidadamente, desde uma base essencialmente agrária, até tornar-se uma das nações mais prósperas da terra. Direitos de propriedade bem definidos, mercados livres e Estado de Direito, combinados, criaram um ambiente sob o qual a Suécia experimentou uma fase de crescimento econômico rápido e sustentado, quase sem precedentes na história humana.

Se o período compreendido entre a década de 1870 e o início da primeira guerra mundial foi o de maior fortuna para o povo sueco, as três décadas iniciadas em 1960 foram as mais críticas. Embora governados pela social-democracia desde os anos 30, foi somente a partir dos anos 60 que ocorreu uma brusca guinada para a esquerda, não só por conta do aumento abrupto da carga tributária, mas, sobretudo, devido à introdução de políticas fortemente prejudiciais os negócios privados.

Não por acaso, esse foi um período marcado pelo baixo crescimento. Embora sociedade sueca – como já mencionamos acima – seja conhecida por uma forte ética no trabalho e princípios morais rígidos, ela não estava imune à redução dos incentivos à geração de riquezas, causada principalmente pela elevação extraordinária dos tributos e pela profusão de privilégios extravagantes dos programas de bem-estar.

A combinação explosiva de altos impostos, benefícios sociais generosos e um mercado de trabalho rígido afetou claramente a economia do país, que teve, nesse período de 30 anos, o seu pior desempenho econômico desde a implantação do sistema capitalista (veja quadro abaixo).



A boa notícia é que, desde o início da década de 1990, a Suécia vem implementando uma série de reformas que, em alguns casos, superam até mesmo as reformas liberais introduzidas nos EUA por Reagan e na Inglaterra, por Thatcher. Vouchers educacionais foram introduzidas com êxito, criando concorrência dentro do sistema público de financiamento. Sistemas similares foram implementados em outras áreas, como saúde e cuidados com os velhos.

Outra reforma liberalizante veio com a privatização parcial do sistema previdenciário, que concedeu aos cidadãos algum controle sobre suas aposentadorias. Além disso, como mostrado na figura abaixo, a carga tributária vem caindo de forma consistente e é bastante provável que essa queda deva continuar num horizonte próximo, já que o apoio político aos social-democratas encontra-se em seu nível mais baixo em cem anos.



Mas as evidências que corroboram com a tese de Sanandaji não param por aqui. Existe um outro dado empírico, na verdade um paralelo interessante, que ajuda a comprovar a teoria.

Um economista escandinavo disse certa vez, em tom de provocação, para Milton Friedman: “na Escandinávia, nós não temos pobreza”. De pronto, o velho mestre de Chicago retrucou: “Interessante, porque aqui na América também não há pobreza entre os escandinavos”. De fato, a taxa de pobreza de domiciliados americanos, de origem sueca, é de somente 6,7%, que vem a ser metade da média americana e exatamente igual a dos suecos.

Além disso, os 4.4 milhões de americanos de origem sueca são consideravelmente mais ricos que o americano médio. O PIB per capita desse grupo é de aproximadamente $56.900, ou mais de $10.000 acima do PIB per capita dos EUA e $20.000 acima do PIB per capita da Suécia.

É sintomático notar, entretanto, que as diferenças acima se intensificaram de forma marcante justamente a partir da radicalização do estado de bem-estar. Em 1970, a Suécia ainda era o quarto país mais rico do mundo, medido em termos de renda per capita. Porém, conforme a carga tributária ia subindo a renda caía e, em 2008, o país já estava na 12a posição. Atualmente, a renda per capita da Suécia é de $36.600, bem menor que a os $45,500 dos EUA e muito menor que os $56,900 dos sueco-americanos.

lusitânea disse...

Outro dano colateral é o aquecimento global que tem impedido o governo de extinguir tudo o que fosse "tropical" na organização do Estado.Neste particular ninguém os pode acusar de não se terem prevenido...

Ricciardi disse...

Oh Vivendi, v.exa. primeiro diz que a Suécia liberalizou uma série de coisas e que é uma perfeita economia de mercado desde que se começaram a tomar medidas em 1970, e que coiso e tal, e depois conclui que, afinal, a Renda caiu de 4º lugar em 1970 para 12º lugar em 2008 depois de aplicadas as medidas liberalizantes.
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É caso para dizer, ora porra. :)
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Rb

Vivendi disse...

RB,

Aí já tem que perguntar ao João Miranda. Ele é que não vê problema algum nos impostos altos.

Ricciardi disse...

Não existe essa questão ideologica na Suécia. O que tem de ser feito, é efectuado independentemente do que dizem os gurus austriacos, de chicago, de londres.
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A educação não funciona bem sendo pública?
- Funciona pois. A suécia é disso exemplo. Marimbou-se para os gurus.
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A educação funciona bem nos EUA, sendo privada?
- Funciona pois, mas é muito mais cara para as pessoas e obtem resultados semelhantes aos suecos.
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Em suma, há coisas que funcionam bem nuns lados e menos bem noutros, e mal nestes e melhor naqueles.
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Os impostos são altos na suécia?
- São, mas esses impostos, pelos vistos, servem para melhorar a produtividade dos privados, através de boa educação, saúde e justiça.
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E porque é que temos impostos altos em Portugal e não conseguimos que os apliquem melhor, como na Suecia?
-Porque somos galifões e os nossos politicos só gostam de governar se a aplicação de impostos se faça para cenisses hiper rentaveis e produtivas, como estradas, pontes, rotundas, estadios futebol, expos, metros luxuosissimos, escolas mega luxuosas, bué de fixes, entre outras coisadas magnificas que todos estamos cansados de saber, entre as quais as parcerias, rendas, etc.
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Rb