16 março 2013

Os depósitos estão seguros?

Pergunta o André Azevedo Alves no insurgente a propósito do programa de ajuda aprovado ao Chipre que contempla uma perda dos depósitos até 10% em todo o seu sistema bancário.

Já aqui tinha referido a reforma monetária alemã no pós-guerra com a perda até 90% dos depósitos e a possibilidade de num futuro imprevisível, dada a pirâmide de crédito que o actual sistema monetário incentiva, poder um dia verificar-se a nível global (a alternativa é a hiper-inflação quantitativa para assegurar nominalmente os depósitos). Pois verificou-se mesmo.

Na verdade, o racional é simples. Para o banco central e os bancos poderem lidar com o peso do seu crédito concedido (em parte por pura criação de moeda e assim, sem que poupança monetária prévia e voluntária tenha tido lugar e depois intermediada pelos bancos), é preciso assumir a perda no lado do activo assumindo também o passivo e/ou capitais próprios (o que inclui os depositantes à ordem) a correspondente perda. Esta via é na verdade mais ortodoxa que a contínua injecção de moeda (ou seja inflação quantitativa) para suportar os depósitos, embora o processo natural seria o de liquidação dos bancos pelos credores (o que incluiria os depositantes).

Mas o que realmente me interessa é que este evento reforça a ideia que os depositantes de moeda à ordem (e não a prazo) têm o direito contratual de a poderem depositar e manter em contas correntes plenamente operacionais sem qualquer risco de crédito (e confisco já agora). Esta possibilidade é na verdade rejeitada pelo sistema que está desenhado e regulado para os depósitos à ordem constituírem crédito aos bancos.

Suspeito que este evento vai acordar, pelo menos, alguns.

PS: Existem considerações técnicas a ter em conta mas na verdade seria simples - o banco central emite as reservas necessárias a cobrir 100% dos depósitos à ordem e declara a passagem a um regime de 100% de reservas para os depósito à ordem. A partir daí, a pessoa comum, que não tem qualquer obrigação de estar ao corrente das correntes falaciosas de economia sobre moeda que têm infectado a civilização, sabe que a sua posse de moeda está pelo menos coberta do risco de crédito, como sempre deveria ter sido, dado que se risco e juro quiser assumir tem os depósitos a prazo ou fundos de tesouraria (bastante mais claros na sua relação contratual que os depósitos à ordem).

8 comentários:

Ricciardi disse...

Mau aproveitamento oh CN. O confisco acontece em qualquer situação, com ou sem sistema fraccionário.
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Roosevelt tambem obrigou os gringos a devolver TODO o ouro que os privados tinham. Não foi? e não foi assim há mto tempo.
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Contra ladrões, com um exercito por trás, não há nada a fazer. Mesmo que vc tivesse a massa num banco como aqueles que vc defende, a mesma não estava a salvo do saque do estado. Seria rigorasamente a mesma coisa. Quando o estado precisa de massa vai busca-la a qualquer sitio e legitimasse de qualquer forma.
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Rb

Ricciardi disse...

A melhor forma de proteger a massa desta gente é enterra-la numa baú no jardim, alugar um cofre, transformar parte da massa em activos como reserva de valor (terrenos, metais preciosos)
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Rb

CN disse...

Sim, é verdade, Ricciardi. Mad em parte até é mais honesto desta forma do que a via inflacionária.

Anónimo disse...

Também nos terrenos se pode ser roubado pelo Estado: expropriações, aumento do IMI, etc

pvnam disse...

Países em vias de ´Detroitização' [Portugal e não só]: implosão de Identidades Autóctones... e caos financeiro.
[obs: Nações... a caminho de... tornarem-se 'Estados Mercenários']
-> A superclasse (alta finança internacional - capital global) ambiciona a 'Detroitização' de vastas áreas do planeta.
-> Pode-se ver, por exemplo, «aqui» o "paraíso" que é Detroit -> um caos organizado por alguns - a superclasse.
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Nota:
1- a superclasse não só pretende conduzir os países à implosão da sua Identidade (dividir/dissolver identidades para reinar)... como também... pretende conduzir os países à implosão económica/financeira...
2- a superclasse é anti-povos que pretendem sobreviver pacatamente no planeta...
3- a superclasse apoia aqueles... que estão numa corrida demográfica pelo controlo de novos territórios.
4- o caos proporciona uma OPORTUNIDADE à superclasse: um Neofeudalismo - uma Nova Ordem a seguir ao caos...
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P.S.
Toca a abrir a pestana: existe por aí muito político cujo 'trabalhinho' é abrir oportunidades para a superclasse:
- privatização de bens estratégicos: combustíveis, electricidade... água...
- caos financeiro...
- implosão de identidades autóctones...

João Lisboa disse...

Foi só um ensaio geral: http://lishbuna.blogspot.pt/2013/03/blog-post_17.html

Harry Lime disse...

CN, discordo que esta forma de gamanço seja mais honesta que a inflacionária.

Porque? Porque o aumento quantitativo funciona no fundo como um incentivo para o depositante aplicar as suas poupancas noutras aplicações, ie, que os invista em investimento produtivo (comercio, industria, etc) que por sua vez criam emprego e criam procura que por sua vez... Bem, estou certo que vocês conhecem o vosso Keynes melhor do que eu.

É evidente que isto só é aplicável quando há falta de procura e excesso de poupanças, que conduz a excesso de capacidade produtiva desaproveitada (desemprego alto). Mais uma vez, vocês devem.conhecer o vosso Keynes muito melhor do que eu)

Ora, este imposto cipriota não é nada disso, é um imposto one-off com zero de impacto no estímulo da economia. Não é nada, é apenas um roubo.

Rui Silva

Harry Lime disse...

CN, discordo que esta forma de gamanço seja mais honesta que a inflacionária.

Porque? Porque o aumento quantitativo funciona no fundo como um incentivo para o depositante aplicar as suas poupancas noutras aplicações, ie, que os invista em investimento produtivo (comercio, industria, etc) que por sua vez criam emprego e criam procura que por sua vez... Bem, estou certo que vocês conhecem o vosso Keynes melhor do que eu.

É evidente que isto só é aplicável quando há falta de procura e excesso de poupanças, que conduz a excesso de capacidade produtiva desaproveitada (desemprego alto). Mais uma vez, vocês devem.conhecer o vosso Keynes muito melhor do que eu)

Ora, este imposto cipriota não é nada disso, é um imposto one-off com zero de impacto no estímulo da economia. Não é nada, é apenas um roubo.

Rui Silva