27 fevereiro 2013

Teoria do Município IV

"Quebrando (...) o poder da fidalguia, que mau grado o pouco feudalismo entre nós, ainda assim era uma regionalização, a Monarquia mais aumenta o seu centralismo e o seu poder. Houve, assim, ruptura de equilíbrio.

Ficando Portugal, assim, reduzido politicamente a um mero poder central, sem vida aristocrática política, porque a aristocracia foi, politicamente, morta por D. João II, e sem vida popular política porque a vida dos municípios, lentamente apagada sob os últimos reis de Avis, veio a extinguir-se dos Filipes para os Braganças — o poder central, decaindo, decaiu politicamente tudo. Houve, com a Restauração, um renascimento do aristocratismo, mas o Marquês de Pombal esfacelou-o novamente, levando ao fim a obra iniciada por D. João Segundo.

Assim, quando o internacionalismo maçónico cindiu Portugal em dois partidos, de instinto atacou a forma política que era a única no Reino — a Monarquia (absoluta). Mas em nome de que classe é que atacou a Monarquia? Não em nome do povo, pois não buscou reconstituir o municipalismo português."

Fernando Pessoa

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