27 fevereiro 2013

o indivíduo moral é distinto do indivíduo político, e a ele superior

"A essência prática do Cristianismo está no conceito de que o indivíduo humano — alma imortal criada por Deus e remível por seu Filho da condição pecaminosa em que a queda a lançara — tem em si mesma, como tal, um valor superior maior que o de todos os poderes e pompas da terra, porque é um valor de outra ordem. Deste conceito se deriva estoutro - que o indivíduo moral é distinto do indivíduo político, e a ele superior.

Deus está acima do Imperador, e a salvação da alma acima do serviço do Império. E as consequências últimas do conceito primário são estas: o critério moral é absoluto, o critério político ou cívico é relativo. O Estado está acima do cidadão, mas o Homem está acima do Estado.

Nenhum Estado, nenhum Imperador, nenhuma lei humana podem obrigar o indivíduo a proceder contra a sua consciência, isto é, contra a salvação da sua alma. O inferior não pode obrigar o superior."

Fernando Pessoa

23 comentários:

LG disse...

Muito bem, CN, ótimo post!! Curtinho mas certeiro!! So faltou ao Pessoa acrescentar (não sei se o fez em texto alhures) que essa consciência do indivíduo humano como detentor de um status especial em razão de sua condição privilegiada dentro da Criação, concebido que foi à imagem e semelhança de Deus Pai Todo Poderoso, somente se implanta na cultura de uma sociedade quando esta passa por um devido processo de EDUCAÇÃO RELIGIOSA. Essa a base para todas as demais construções sociais e instituições, porque sem educação religiosa um povo não adquire hierarquia de valores, não adquire senso de justiça e não adquire sentido moral. E como dizia Chesterton, um homem que não acredita em Deus, não é que não acredite em nada; ele acredita em tudo! Inclusive, digo eu, na idolatria ao "deus" estado.
Já falei sobre isso em outro comentário. Lamentavelmente, os nossos povos (português e, por derivação, o brasileiro) nunca tiveram formação religiosa digna desse nome, não respeitam o indivíduo e suas prerrogativas, não sabem hierarquizar moralmente, têm um senso bambo de justiça, são superficiais e, por tudo isso, facilmente se entregam ora ao poder da espada, ora às ilusões do demagogismo populista.
Necessitamos de instituições, sobretudo o Brasil. Mas será possível lançar alicerces em terreno arenoso?
Um abraço a todos.
LG

zazie disse...

Muito bom.

Anónimo disse...

Gostaria de saber quando e quanto se vai globalizar um pouco mais todo este assunto e temática.E porque se
andamos a falar de almas entao os chinocas nao entram. Nao cabem.
Mil trescentos milhoes de almas assim de golpe como que se necesitava muito espaço e qualquer recinto sempre ia ficar escasso e todos assim contra outro apertadinhos...

marina disse...

o CN é anarquista ? ainda não percebi o que é ao certo. penso que já percebi que é só teoria e puro exercício académico . o PA não teria medo nenhum quando chegasse a hora de por o que pensa em prática , o CN.. nem acredita a sério na capacidade de autoorganização dos seus pares , logo , não acredita na sua.

CN disse...

Sou português, chega?

marina disse...

chega, está tudo dito.

marina disse...

mas podiam ser diferentes. não custa nada. o resto do people é igual a vocês. onde foram arranjar esse complexo de inferioridade é que eu gostava de saber. nem a minha ciência infusa chega lá.

marina disse...

séculos a ouvir uma "elite" nojenta parasitaria a dizer que sois ignorantes e burros ? que a sabedoria dos ancestrais não vale nada perante as novidades tecnológicas ? que não produzem o suficiente para terem a elite no dolce far niente ? um dia vou perceber o que leva pessoas iguaizinhas a todas as outras não acreditarem em si mesmas.

CN disse...

"o CN.. nem acredita a sério na capacidade de autoorganização dos seus pares , logo , não acredita na sua."

não acreito na capacidade de organização das elites por isso acredito sim na muito maior capacidade de organização sem elas a mandarem.

marina disse...

não parece. a sua reposta ao Beppe foi que a democracia bla bla bla morre. e o movimento 5 estrelas é quem até pode fazer renascer cidades estado , sem ser a anormalidade de cidades privadas ( postou uma cenita anormal de cidades privadas ,assim um nicho de mercado ) medo porque ? porque somos , os cidadãos , burros?

CN disse...

Cidades estado é uma coisa normalíssima na história da europa, porque anormal?

Cidades privadas já existem.

Quanto a Portugal, quanto mais devolvermos aos municípios melhor.

marina disse...

cidades estado não só é normal , como é o desejável : democracia , anarquia , só é possível assim, e não brinque : cidades privadas é uma cena tão capitalistaaaa , no mais pejorativo que tem o termo , que até enjoa. completamente fora do direito natural : vê algum bicho a traçar fronteiras aos outros por dinheiro a acumular ?

marina disse...

é que se a sua onda anarca é a do tio patinhas , passo. não posso com judeus e as suas piscinas de dinheiro privadas. na volta esse hermam hoppe , judeu que até achei que estava a degenerar , é também um alvo a abater. um judeu bom ? santa ingenuidade , a minha.

lusitânea disse...

O problema magno hoje em dia é que existem por cá uma diversidade enorme de "consciências" que nos fazem recuar mais de 2000 anos aos tempos em que o futuro César ,governador da Hispânia Ulterior,dizia de nós "que nem nos governamos, nem nos deixamos governar"...
Deuses por cá são aos montes e mesmo sem Deus...

Pedro Sá disse...

Errado. Não há critérios morais absolutos. Cada pessoa é livre de ter os critérios morais que entender, quer gostemos deles quer não.

Pedro Sá disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
lusitânea disse...

A rapaziada clama por liberdades em tudo menos no fisco.As minorias têm que pagar a todo o mundo e por todos os disparates.E sem garantias nenhumas...
Cuidem-se que se aproximam as tempestades dos ventos semeados.Ao entrarem nos bolsos alheios dos que não participaram nas festas ao longo de anos e anos...
Olhem que eles também sabem defender-se...

mm disse...

oh Pedro Sá, pense lá um bocadinho e vai ver que chega a alguns.

muja disse...

Suponho que para este Sá, se viesse outro Sá e lhe alojasse uma bala no crânio, não tinha mal nenhum.

Afinal, que mal poderia ter? Cada um é livre de ter os critérios morais que entender... Pelo não há que reprimir nada e deve permitir-se tudo.

LG disse...

CN disse: "não acredito na capacidade de organização das elites por isso acredito sim na muito maior capacidade de organização sem elas a mandarem".

Não vejo o CN como um anarquista. Seria de fato o anarquista mais estranho do mundo, pois não percebo como poderia um anarquista subscrever um texto em que Fernando Pessoa fala da condição do indivíduo, acima de qualquer poder terreno, justamente porque o homem traz em si o sopro do Verbo divino. Aceitar isso já significa aceitar uma hierarquia na natureza das coisas, não é mesmo?, significando oposição a qualquer idéia anarquista e niilista.
Mas talvez o caro CN esteja lá com um certo embrulho de idéias. Quando expressa sua desconfiança nas "zelite", faz-me lembrar o palavrório demagógico do Lula da Silva, o que não é propriamente um elogia para ninguém... Ora, meus amigos, não existe e nem nunca existiu na história deste mundo sociedade a florescer e a prosperar, que não tenha lá as suas elites: a elite política, a elite religiosa, a elite intelectual, a elite econômica e a elite científica e acadêmica. São as elites que, a rigor, apontam o norte a ser seguido pela sociedade, os seus padrões de comportamento, as suas prioridades, a forma como a sociedade enxerga a si mesma, e são as elites que criam a Alta Cultura, essencial a qualquer padrão de civilidade. Enfim, as elites não conduzem o povo - notem bem, não estou me referindo a plutocracias; sou um liberal democrata - mas funcionam como âncora para a sociedade, como referência, como balizamentos. Uma sociedade sem elites, ou dotada apenas de uma pseudo-elite rebaixada, vulgarizada e com a mesma visão de mundo da patuléia em volta, será fatalmente uma sociedade barbarizada e meio selvagem (ex., o Brasil), onde já não existe mais Alta Cultura e os maus instintos e os padrões vulgares do povão se derramam sobre tudo, sobre tudo.
Portanto, clamar contra "a zelite" é uma bobagem demagógica e sem sentido. O problema de Portugal e do Brasil (deste último sobretudo) é que não temos mais elites dignas desse nome. O que nos restou foram novos ricos saídos da pirataria financeira ou política, semi-letrados, boçais, imediatistas, sem largueza de visão, arrivistas, enfim, criaturinhas liliputianas que pouco se importam com os desmoronamentos a seu redor, desde que suas posições estejam bem mantidas e azeitadas. É um nojo! E aqui no Brasil, se vocês pudessem ver que tipo de gente tomou conta do país, ah!...
Destarte, CN, o caso não é de ódio às elites, mas sim de promovê-las. É o que penso.
Um abraço a todos.
LG

Pedro Sá disse...

Confundir Direito Penal com moral é absurdo.

Pedro Sá disse...

A proibição do homicídio é consequência da garantia do direito à vida, ponto parágrafo. Não tem cá a ver com moral nenhuma.

João Mezzomo disse...

Como precisammos de Fernando Pessoa!!!!
Parafraseando Heidegger sobre Holdrelin e a nação alemã, Pessoa é o poeta "que cabe ainda à nação portuguesa enfrentar"....