04 fevereiro 2013

pode um católico ser maçon?



Provavelmente não, apesar dos inúmeros católicos que frequentam seriamente a Maçonaria, sem o menor abalo nas suas convicções religiosas. Muitos, pelo contrário, dizem até que se sentem mais próximos de Deus e de uma certa religiosidade que parece ter vindo a diminuir pela forma como são, às vezes, praticados certos rituais católicos, como é o caso do Ritual da Missa. Em boa verdade, nem sempre esse ritual - aquele com o qual os crentes mais convivem - é desenvolvido de forma a elevar os espíritos, já que frequentemente incorporam múltiplos elementos que lhe são estranhos, quebrando a necessária cadência sequencial que confere coerência a qualquer ritual, afastando os participantes do essencial.

Todavia, a verdade é que a teologia católica sempre condenou a Maçonaria, e a história das relações entre as duas instituições, não obstante as diferentes formas e tipos de organização que a Maçonaria assume, não foi propriamente pacífica. De todo o modo, de há décadas para cá, essas relações deixaram a violência que as caracterizou no passado, principalmente na Europa Continental e Mediterrânica do final do século XIX e primórdios do seguinte, passando a ser de urbanidade entre os seus responsáveis e até de simpatia e de amizade pessoal entre muitos deles. Noutros países, como nos EUA, esta questão não se põe, já que, por razões de todos conhecidas, nunca teve lugar. Dito de outro modo, os dignatários católicos e maçónicos têm podido conviver amigavelmente em sociedades plurais e democráticas, em plena normalidade, portanto. No plano das duas organizações, contudo, os contactos não são frequentes, tão pouco institucionais, podendo dizer que são, a esse nível, praticamente inexistentes.

Fruto desta pacificação e do ecumenismo a que a Igreja Católica se tem vindo progressivamente a votar, bem como à pacificação institucional acima referida, o Corpus Iuris Canonici de 1983 expurgou o célebre cânone 2335 do anterior Código de 1917, que determinava expressamente a excomunhão dos maçons, o que, apesar de algumas tentativas de diminuir a importância desta substantiva alteração, ela resulta mais do que evidente para quem lide de boa-fé com este difícil tema. Em sua substituição, o cânone 1374 passou a referir as associações que actuem contra a Igreja, condenando os seus filiados e responsáveis a uma «pena justa», a determinar consoante os factos. É mais do que evidente, por muito que alguns digam que não, este foi, no mínimo, um gesto de simpatia e compreensão do Código de Direito Canónico e da Igreja Católica para com a Maçonaria e os maçons, seja por os retirar expressamente do seu conteúdo, seja por reservar a eventual punição somente para aquelas organizações e pessoas que ajam contra a Igreja, o que deixa perceber que deixou de existir a anterior presunção em relação a essa organização.

Atrevo-me, porém, a dizer que é no plano da doutrina, e não no da história das duas instituições, que se encontram os fundamentos mais profundos para a incompatibilidade que a Igreja Católica entende persistir entre si e a pertença à Maçonaria.

Encurtando razões, a Maçonaria pode ser vista, à luz da doutrina católica, como uma heresia, não obstante as suas inequívocas referências a Deus. Mesmo a exigência na crença num Deus revelado por uma religião tradicional, que é imposta pelas Obediências que se consideram regulares, isto é, que são reconhecidas pela Grande Loja Unida de Inglaterra (UGLE) e seguidoras dos velhos landmarks (os princípios constitucionais) inspirados nas Constituições de 1723 de James Andersen, ministro presbiteriano, e de Jean Theophile Desagulliers, também ele pastor protestante. A primeira dessas regras obriga à crença em Deus e, nesse seguimento, as Lojas Maçónicas regulares funcionam ritualisticamente com a presença central de um Livro Sagrado, habitualmente a Bíblia, podendo ser outro (a Tora, o Corão), se os seus membros assim o entenderem, ou vários em simultâneo, assegurando desse modo o ecumenismo da instituição.

Não obstante, a verdade, contudo, é que a Maçonaria consiste primordialmente numa via iniciática de elevação ascética em relação a Deus (segundo a tradição regular), ou numa via iniciática em relação ao conhecimento interior, sagrado mas não necessariamente religioso, menos ainda clerical (para as Maçonarias ditas «liberais», que são as que estão mais próximas do modelo francês posterior ao cisma maçónico de 1877), percurso iniciático esse que é feito através de uma simbologia própria, que apesar de se inspirar na tradição cristã não a replica, nem se limita a ela, o mesmo é dizer que não se esgota na revelação bíblica, tão-pouco na sua interpretação católica. Ela pretende, assim, facultar instrumentos de elevação ao sagrado aos seus iniciados, o que consiste, para a doutrina católica, numa genuína heresia, já que não vincula esse caminho à Palavra divina, possibilitando que os crentes se afastem do verdadeiro Deus.

No entanto, apesar da doutrina maçónica ter por finalidade a ascese individual ao conhecimento, seja ele Deus ou o próprio indivíduo, e, nessa finalidade, pretender municiar os seus seguidores de instrumentos simbólicos e de princípios e regras morais que lhes potenciem tal percurso iniciático, esses instrumentos são, quando as Lojas obedecem às regras da tradição (não forçosamente às regras da «regularidade»), completamente omissos de sentido próprio, permitindo a cada um a interpretação que melhor convier à sua empreitada pessoal.

Dito de outro modo, a Maçonaria não possui, de facto, qualquer conteúdo dogmático e normativo, tão pouco escolhe princípios de uma qualquer religião que procure transmitir aos seus membros pelo meio sub-reptício dos símbolos, que são verdadeiramente inócuos. Deste modo, se eles podem levar a uma reflexão individual que afaste um maçon de Deus, também poderão servir o movimento contrário para aqueles que verdadeiramente O procurem, pelo que há quem afirme que um católico, ou qualquer outro crente de uma religião revelada, poderá beneficiar, nas suas convicções, pelo facto de ser maçon. No que, na verdade, na Maçonaria é «relativista» não é o discurso sobre a religião, já que a doutrina maçónica deve ser equidistante e neutra em relação a todas as religiões, evitando pronunciar-se a seu propósito e proibindo mesmo as discussões religiosas dentro das suas portas, mas na sua própria doutrina, que oferece um método sem conteúdo religioso dogmático, à justa medida de cada indivíduo que o pretenda utilizar.

Em relação às Maçonarias que se ausentam, por inteiro, da religião, sendo-lhes indiferente que os seus filiados possam ou não acreditar em Deus, isto é, as Maçonarias de influência francesa, a questão religiosa não tem simplesmente lugar. Como acima se disse, aqui, a chamada «via iniciática» é posta ao inteiro serviço do conhecimento interior individual, que poderá, ou não, levar a qualquer resultado religioso. A Maçonaria, verdadeiramente, não se interessa por isso, nem procura determinar a que conclusões chegou cada um dos seus membros. Aqui, a conflitualidade com a Igreja é necessariamente mais reduzida do que nas Obediências regulares, embora historicamente tenha sido com as Maçonarias de influência francesa que os conflitos foram mais acesos, mas sobretudo por razões de ordem política e não doutrinal. Hoje, com o esvaziamento desta conflitualidade, não se poderá sustentar que as Maçonarias «liberais» sejam propriamente inimigas da Igreja e que conspirem contra ela. O problema da laicidade do estado está de há muito resolvido nos países ocidentais e democráticos, pelo que a origem desse conflito está inexoravelmente sanada. No limite, são instituições reciprocamente indiferentes uma à outra.

Restam, assim, as linhas de tensão entre a doutrina e a revelação católica e a doutrina e a metodologia ascética maçónica das Obediências regulares. Aqui, reconheço, são mais difíceis os pontos de superação das incompatibilidades, sendo, por um lado, difícil para a Igreja Católica aceitar que se possa chegar a Deus para além da Sua Palavra e da interpretação que lhe foi dada pelos seus dignatários e autoridades, ao longo do tempo. Contudo, não creio, como acima disse, que esse método afaste necessariamente um católico da sua Igreja, menos ainda de Deus, sendo que me parece que terá fracas convicções quem a isso suceder. E poderá mesmo permitir que muitas pessoas com ténues sentimentos religiosos os encontrem de vez, o que julgo que a Igreja não desconhece, muito menos condenará intimamente, como é da natureza da sua missão: dar Deus aos homens.

27 comentários:

Zephyrus disse...

Maçonaria a sério segue o Rito Escoçês. Ou então as tradições Hermética ou Rosa-Cruz. O resto é treta para intriga política.

Zephyrus disse...

E o maçon não pode acreditar ou ter fé em dogmas. O Iniciado nos mistérios sai da caverna e vê a Luz. Por isso despreza os dogmas católicos, os textos de Santo Agostinho, a figura do Papa, a interpretação das escrituras dada pela Igreja.

Zephyrus disse...

Nenhuma insitituição fez mais pela Humanidade em séculos de História que a Maçonaria. O resto que dizem desta via iniciática é treta para alimentar conspiracionistas. Fez muito mais pelo Homem que a Igreja.

Ricciardi disse...

«pode um católico ser maçon?» rui a.
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Qualquer das três religiões do Livro são incompatíveis com a Maçonaria. Não nos obectivos finais, mas sim nos caminhos para lá chegar.
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O Deus Maçom (grande arquitecto) é a personificação, em Lucífer, da luz do conhecimento. É o fruto proibido da arvore (do conhecimento) que está na origem do pecado original. O pecado original é a soberba; o homem a querer saber tanto como Deus.
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É o Prometeu dos gregos. É a divinização do conhecimento. O fogo sagrado de Prometeu que devolveu liberdade aos seres humanos. Para os Maçons, Lucifer não é bem o demónio cristão. Ele representa o livre-arbitrio rumo ao conhecimento e, em simultaneo, preparam a vinda de Lucifer para assegurar a vinda do Messias. Já que Este procede aquele. É a noção do anti-cristo, Messias, 2ª vinda de Cristo etc.
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Os gregos personificaram o conhecimento em Prometeu. Foi Prometeu que fez a humanidade e foi Prometeu que, roubando o fogo aos seus tios (Deuses do olimpo), o devolveu à humanidade. O fogo é a sabedoria.
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Em suma, a Maçonaria é uma heresia, personificada em Lucifer. Pretendem ser as formigas que preparam a vinda do anti-cristo com o objectivo de garantir que esse desiderato tenha exito para, finalmente, se cumprir a vinda do messias.
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PS. Isto são os fundamentos da Maçonaria original. Agora, não creio que seja por estes motivos que os Maçons lá estão. No fundo, os que lá estão, são carneiros que pastam aonde lhes mandam pastar. A ideia é garantir o melhor pasto, independentemente dos fundamentos primeiros dos seus lideres.
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Rb

ruisdb disse...

Não é o Código de direito canónico de 1987 mas sim de 1983

lusitânea disse...

Teria sido um judeu a fundar a maçonaria?Se não foi distraíram-se...
Os maçons são mais uns internacionalistas a quererem vingar na vida substituindo as hierarquias estabelecidas, logo uns subversivos...como aliás comprova a actual situação a que levaram Portugal:a um sobado em construção...

Anónimo disse...

Uma coisa parece ser bem certa ao margem da religiao...
Dos nomeados paes "fundadores" da patria norteamericana a metade erao freemasons.
Mesmo que os chamados "libertadores" da America do Sul.
Por envexa de nao-serse-menos que os vicinhos do Norte, I supose...

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http://www.taringa.net/posts/info/1106294/Los-Masones-Independizaron-America.html
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tric disse...

A Maçonaria devia era ser expulsa de Portugal!!! Organizações secretas que conspiram contra a Igreja Católica Portuguesa, bem como apoiam a destruição da memória histórica da Cristandade Portuguesa e substituem pela memórias judaicas...essas organizações devem ser banidas de Portugal, é lixo...só de pensar que dominam o poder politico nacional e o poder dos mass média...

Zephyrus disse...

A Maçonaria é Cristã. Só que o conceito de cristianismo maçónico é distinto.

lusitânea disse...

A maçonaria é cristã sim senhor.Para salvarem o planeta nem que tenham que enterrar os piolhosos dos seus votantes...

Ricciardi disse...

«A maçonaria é cristã sim senhor»
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Rituais Cabalisticos tem outra origem...
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Rb

lusitânea disse...

Claro que no meio dessas boas acções todas, eles AGORA não discriminam ninguém cá dentro,pois somos todos iguais,todos diferentes.Só temos que ganhar menos para outros ganharem mais, venham eles donde vierem. Os prédios necessários à "obra" é que vão aumentando.Assim como certamente o nível de vida desses polidores de pedra seguidores do grande arquitecto...irmanados com muitos outros no mundo, logo internacionalistas,dispostos a desfazer a sua NAÇÃO como o estão a fazer...

lusitânea disse...

Tudo pela Nação, nada contra a Nação era um dos lemas do Salazar
Salazar não gostava de maçons, a maçonaria foi ilegalizada.
Agora nestes tempos de luzes perpétuas sob a orientação dos pedreiros afagadores das pedras vê-se como andamos e para onde vamos.Mas claro que o problema nem sequer é deles...pois que tanto lhes dá governarem os habituais piolhosos indígenas como uns recem chegados das Áfricas ou dos Bangaldeshe´s...and so on...

lusitânea disse...

Um dia nem se admirem de haver mais uma loja que se dedique a demonstrar o amor à maçonaria como o fizeram os republicanos espanhóis aos padres na guerra civil:de um faziam dois
É que quando a malta atingir o 80 acontecem milagres...

Anónimo disse...

para quê tanta treta por causa de uma organização que na realidade não passa de uma desculpa para tráfico de influências, de uma máfia que procura o beneficio mútuo?
as argumentações filosoficas, doutrinarias da maçonaria ninguém as leva a sério.
Um católico, um cristão pode fazer parte de uma associação mafiosa?
obviamente não.

zazie disse...

Passe a publicidade, a maçonaria é isto:

http://www.cocanha.com/os-beija-cus-uma-tema-tematica-sempre-actual/

zazie disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
zazie disse...

Assim:

http://www.cocanha.com/os-beija-cus-uma-tematica-sempre-actual/

Zephyrus disse...

Ahah.

Bem como disse nuns posts há dois ramos na Maçonaria.

O ramo que a Zazie cita no post dos beija-cus é aquele que os sionistas gostam muito.

Mas há o ramo Cristão esotérico, que abomina os judeus.

Ambas as facções são incompatíveis.

zazie disse...

Pois, mas eu nem falei em judeus- falei em beija-cus.

E, quanto a isso, meu caro, todos se dobram e beijam o demo. Até o preboste-juiz.

zazie disse...

Os gnósticos, aliás, gtal como os neo-platónicos, são a via que vai dar o ateísmo.

E os maçons vêm de muita coisa, a começar pega cagotaria.

Zephyrus disse...

O ânus tem implicações de cariz esotérico/ocultista. Daí aqueles rituais que a Zazie coloca naquele excelente verbete.

Mas há duas vias esotéricas. A da Mão Esquerda e a da Mão Direita. E estas vias existem dentro da Igreja, do Budismo ou da Maçonaria.

A Via da Mão Direita defende que os iniciados devem ser «puros», portanto pureza implica celibato.

Uma das regras máximas dos Cristão Gnósticos é esta:

«The All Is Dual» (Hermes Trimegisto)

Os Cristão Gnósticos da Via da Mão Direita não praticam rituais que envolvam dar beijos num rabo ou outras coisas mais... fiquemos por aqui. Aliás abominam tudo isso. Para o Cristão Gnóstico a elevação da alma faz-se pelo celibato, pela união dos apostos, ou seja, pela união com o sexo oposto pelo amor, pelas boas obras, pelo amor desinteressado, pelo perdão. Muitos até são vegetarianos, pois consideram que assim são mais puros. Dizem que seguem a tradição dos Essénios, pureza do corpo e da alma.

Na Via da Mão Esquerda está metida a judiaria.

Zephyrus disse...

Da Maçonaria que não interessa muito saíram até três homens mui curiosos:

- O Fundador dos Mórmons;
- O Fundador das Testemunhas de Jeová;
- O Fundador da Cientologia.

Zephyrus disse...

Deus é o Homem de outro Deus maior:
Adam Supremo, também teve Queda;
Também, como foi nosso Criador,

Foi criado, e a Verdade lhe morreu...
De Além o Abismo, Sprito Seu, Lha veda;
Aquém não há no Mundo, Corpo Seu.

Fernando Pessoa




Para os Gnósticos há o Demiurgo, e outro Deus maior, a grande Mente.

«The All is Mental» (Hermes Trimegisto)

Zephyrus disse...

E não estou a dizer nada de novo.

Os Cátaros seguiam esta tradição gnóstica, como os Templários, os Albigenses, os Nestorianos, etc.

Zephyrus disse...

Portanto, quero deixar exposto que não há uma única Maçonaria, há duas fortes facções antagónicas que se odeiam.

Zephyrus disse...

E o papel da Maçonaria Portuguesa na questão do aborto ou do casamento bicha vai contra todos os princípios maçonicos. Ainda não percebi que raio de Maçonaria há em Portugal.