Provavelmente
não, apesar dos inúmeros católicos que frequentam seriamente a Maçonaria, sem o
menor abalo nas suas convicções religiosas. Muitos, pelo contrário, dizem até que
se sentem mais próximos de Deus e de uma certa religiosidade que parece ter
vindo a diminuir pela forma como são, às vezes, praticados certos rituais
católicos, como é o caso do Ritual da Missa. Em boa verdade, nem sempre esse
ritual - aquele com o qual os crentes mais convivem - é desenvolvido de forma a
elevar os espíritos, já que frequentemente incorporam múltiplos elementos que
lhe são estranhos, quebrando a necessária cadência sequencial que confere
coerência a qualquer ritual, afastando os participantes do essencial.
Todavia, a
verdade é que a teologia católica sempre condenou a Maçonaria, e a história das
relações entre as duas instituições, não obstante as diferentes formas e tipos
de organização que a Maçonaria assume, não foi propriamente pacífica. De todo o
modo, de há décadas para cá, essas relações deixaram a violência que as
caracterizou no passado, principalmente na Europa Continental e Mediterrânica
do final do século XIX e primórdios do seguinte, passando a ser de urbanidade
entre os seus responsáveis e até de simpatia e de amizade pessoal entre muitos
deles. Noutros países, como nos EUA, esta questão não se põe, já que, por
razões de todos conhecidas, nunca teve lugar. Dito de outro modo, os
dignatários católicos e maçónicos têm podido conviver amigavelmente em
sociedades plurais e democráticas, em plena normalidade, portanto. No plano das
duas organizações, contudo, os contactos não são frequentes, tão pouco
institucionais, podendo dizer que são, a esse nível, praticamente inexistentes.
Fruto desta
pacificação e do ecumenismo a que a Igreja Católica se tem vindo
progressivamente a votar, bem como à pacificação institucional acima referida, o
Corpus Iuris Canonici de 1983 expurgou o célebre cânone 2335 do anterior Código
de 1917, que determinava expressamente a excomunhão dos maçons, o que, apesar
de algumas tentativas de diminuir a importância desta substantiva alteração,
ela resulta mais do que evidente para quem lide de boa-fé com este difícil
tema. Em sua substituição, o cânone 1374 passou a referir as associações que actuem contra a Igreja,
condenando os seus filiados e responsáveis a uma «pena justa», a determinar
consoante os factos. É mais do que evidente, por muito que alguns digam que
não, este foi, no mínimo, um gesto de simpatia e compreensão do Código de Direito
Canónico e da Igreja Católica para com a Maçonaria e os maçons, seja por os retirar
expressamente do seu conteúdo, seja por reservar a eventual punição somente
para aquelas organizações e pessoas que ajam contra a Igreja, o que deixa perceber
que deixou de existir a anterior presunção em relação a essa organização.
Atrevo-me,
porém, a dizer que é no plano da doutrina, e não no da história das duas
instituições, que se encontram os fundamentos mais profundos para a
incompatibilidade que a Igreja Católica entende persistir entre si e a pertença
à Maçonaria.
Encurtando
razões, a Maçonaria pode ser vista, à luz da doutrina católica, como uma
heresia, não obstante as suas inequívocas referências a Deus. Mesmo a exigência
na crença num Deus revelado por uma religião tradicional, que é imposta pelas Obediências
que se consideram regulares, isto é, que são reconhecidas pela Grande Loja
Unida de Inglaterra (UGLE) e seguidoras dos velhos landmarks (os princípios constitucionais) inspirados nas
Constituições de 1723 de James Andersen, ministro presbiteriano, e de Jean
Theophile Desagulliers, também ele pastor protestante. A primeira dessas regras
obriga à crença em Deus e, nesse seguimento, as Lojas Maçónicas regulares
funcionam ritualisticamente com a presença central de um Livro Sagrado, habitualmente
a Bíblia, podendo ser outro (a Tora, o Corão), se os seus membros assim o
entenderem, ou vários em simultâneo, assegurando desse modo o ecumenismo da
instituição.
Não obstante, a verdade,
contudo, é que a Maçonaria consiste primordialmente numa via iniciática de
elevação ascética em relação a Deus (segundo a tradição regular), ou numa via
iniciática em relação ao conhecimento interior, sagrado mas não necessariamente
religioso, menos ainda clerical (para as Maçonarias ditas «liberais», que são
as que estão mais próximas do modelo francês posterior ao cisma maçónico de
1877), percurso iniciático esse que é feito através de uma simbologia própria, que
apesar de se inspirar na tradição cristã não a replica, nem se limita a ela, o
mesmo é dizer que não se esgota na revelação bíblica, tão-pouco na sua
interpretação católica. Ela pretende, assim, facultar instrumentos de elevação
ao sagrado aos seus iniciados, o que consiste, para a doutrina católica, numa
genuína heresia, já que não vincula esse caminho à Palavra divina, possibilitando
que os crentes se afastem do verdadeiro Deus.
No entanto,
apesar da doutrina maçónica ter por finalidade a ascese individual ao
conhecimento, seja ele Deus ou o próprio indivíduo, e, nessa finalidade,
pretender municiar os seus seguidores de instrumentos simbólicos e de
princípios e regras morais que lhes potenciem tal percurso iniciático, esses
instrumentos são, quando as Lojas obedecem às regras da tradição (não
forçosamente às regras da «regularidade»), completamente omissos de sentido próprio,
permitindo a cada um a interpretação que melhor convier à sua empreitada
pessoal.
Dito de outro
modo, a Maçonaria não possui, de facto, qualquer conteúdo dogmático e
normativo, tão pouco escolhe princípios de uma qualquer religião que procure
transmitir aos seus membros pelo meio sub-reptício dos símbolos, que são
verdadeiramente inócuos. Deste modo, se eles podem levar a uma reflexão
individual que afaste um maçon de Deus, também poderão servir o movimento
contrário para aqueles que verdadeiramente O procurem, pelo que há quem afirme
que um católico, ou qualquer outro crente de uma religião revelada, poderá
beneficiar, nas suas convicções, pelo facto de ser maçon. No que, na verdade,
na Maçonaria é «relativista» não é o discurso sobre a religião, já que a
doutrina maçónica deve ser equidistante e neutra em relação a todas as
religiões, evitando pronunciar-se a seu propósito e proibindo mesmo as discussões
religiosas dentro das suas portas, mas na sua própria doutrina, que oferece um
método sem conteúdo religioso dogmático, à justa medida de cada indivíduo que o
pretenda utilizar.
Em relação às
Maçonarias que se ausentam, por inteiro, da religião, sendo-lhes indiferente
que os seus filiados possam ou não acreditar em Deus, isto é, as Maçonarias de
influência francesa, a questão religiosa não tem simplesmente lugar. Como acima
se disse, aqui, a chamada «via iniciática» é posta ao inteiro serviço do
conhecimento interior individual, que poderá, ou não, levar a qualquer resultado
religioso. A Maçonaria, verdadeiramente, não se interessa por isso, nem procura
determinar a que conclusões chegou cada um dos seus membros. Aqui, a
conflitualidade com a Igreja é necessariamente mais reduzida do que nas
Obediências regulares, embora historicamente tenha sido com as Maçonarias de
influência francesa que os conflitos foram mais acesos, mas sobretudo por
razões de ordem política e não doutrinal. Hoje, com o esvaziamento desta
conflitualidade, não se poderá sustentar que as Maçonarias «liberais» sejam
propriamente inimigas da Igreja e que conspirem contra ela. O problema da
laicidade do estado está de há muito resolvido nos países ocidentais e
democráticos, pelo que a origem desse conflito está inexoravelmente sanada. No
limite, são instituições reciprocamente indiferentes uma à outra.
Restam, assim,
as linhas de tensão entre a doutrina e a revelação católica e a doutrina e a
metodologia ascética maçónica das Obediências regulares. Aqui, reconheço, são
mais difíceis os pontos de superação das incompatibilidades, sendo, por um
lado, difícil para a Igreja Católica aceitar que se possa chegar a Deus para
além da Sua Palavra e da interpretação que lhe foi dada pelos seus dignatários
e autoridades, ao longo do tempo. Contudo, não creio, como acima disse, que
esse método afaste necessariamente um católico da sua Igreja, menos ainda de
Deus, sendo que me parece que terá fracas convicções quem a isso suceder. E
poderá mesmo permitir que muitas pessoas com ténues sentimentos religiosos os
encontrem de vez, o que julgo que a Igreja não desconhece, muito menos condenará
intimamente, como é da natureza da sua missão: dar Deus aos homens.
27 comentários:
Maçonaria a sério segue o Rito Escoçês. Ou então as tradições Hermética ou Rosa-Cruz. O resto é treta para intriga política.
E o maçon não pode acreditar ou ter fé em dogmas. O Iniciado nos mistérios sai da caverna e vê a Luz. Por isso despreza os dogmas católicos, os textos de Santo Agostinho, a figura do Papa, a interpretação das escrituras dada pela Igreja.
Nenhuma insitituição fez mais pela Humanidade em séculos de História que a Maçonaria. O resto que dizem desta via iniciática é treta para alimentar conspiracionistas. Fez muito mais pelo Homem que a Igreja.
«pode um católico ser maçon?» rui a.
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Qualquer das três religiões do Livro são incompatíveis com a Maçonaria. Não nos obectivos finais, mas sim nos caminhos para lá chegar.
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O Deus Maçom (grande arquitecto) é a personificação, em Lucífer, da luz do conhecimento. É o fruto proibido da arvore (do conhecimento) que está na origem do pecado original. O pecado original é a soberba; o homem a querer saber tanto como Deus.
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É o Prometeu dos gregos. É a divinização do conhecimento. O fogo sagrado de Prometeu que devolveu liberdade aos seres humanos. Para os Maçons, Lucifer não é bem o demónio cristão. Ele representa o livre-arbitrio rumo ao conhecimento e, em simultaneo, preparam a vinda de Lucifer para assegurar a vinda do Messias. Já que Este procede aquele. É a noção do anti-cristo, Messias, 2ª vinda de Cristo etc.
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Os gregos personificaram o conhecimento em Prometeu. Foi Prometeu que fez a humanidade e foi Prometeu que, roubando o fogo aos seus tios (Deuses do olimpo), o devolveu à humanidade. O fogo é a sabedoria.
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Em suma, a Maçonaria é uma heresia, personificada em Lucifer. Pretendem ser as formigas que preparam a vinda do anti-cristo com o objectivo de garantir que esse desiderato tenha exito para, finalmente, se cumprir a vinda do messias.
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PS. Isto são os fundamentos da Maçonaria original. Agora, não creio que seja por estes motivos que os Maçons lá estão. No fundo, os que lá estão, são carneiros que pastam aonde lhes mandam pastar. A ideia é garantir o melhor pasto, independentemente dos fundamentos primeiros dos seus lideres.
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Rb
Não é o Código de direito canónico de 1987 mas sim de 1983
Teria sido um judeu a fundar a maçonaria?Se não foi distraíram-se...
Os maçons são mais uns internacionalistas a quererem vingar na vida substituindo as hierarquias estabelecidas, logo uns subversivos...como aliás comprova a actual situação a que levaram Portugal:a um sobado em construção...
Uma coisa parece ser bem certa ao margem da religiao...
Dos nomeados paes "fundadores" da patria norteamericana a metade erao freemasons.
Mesmo que os chamados "libertadores" da America do Sul.
Por envexa de nao-serse-menos que os vicinhos do Norte, I supose...
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http://www.taringa.net/posts/info/1106294/Los-Masones-Independizaron-America.html
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A Maçonaria devia era ser expulsa de Portugal!!! Organizações secretas que conspiram contra a Igreja Católica Portuguesa, bem como apoiam a destruição da memória histórica da Cristandade Portuguesa e substituem pela memórias judaicas...essas organizações devem ser banidas de Portugal, é lixo...só de pensar que dominam o poder politico nacional e o poder dos mass média...
A Maçonaria é Cristã. Só que o conceito de cristianismo maçónico é distinto.
A maçonaria é cristã sim senhor.Para salvarem o planeta nem que tenham que enterrar os piolhosos dos seus votantes...
«A maçonaria é cristã sim senhor»
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Rituais Cabalisticos tem outra origem...
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Rb
Claro que no meio dessas boas acções todas, eles AGORA não discriminam ninguém cá dentro,pois somos todos iguais,todos diferentes.Só temos que ganhar menos para outros ganharem mais, venham eles donde vierem. Os prédios necessários à "obra" é que vão aumentando.Assim como certamente o nível de vida desses polidores de pedra seguidores do grande arquitecto...irmanados com muitos outros no mundo, logo internacionalistas,dispostos a desfazer a sua NAÇÃO como o estão a fazer...
Tudo pela Nação, nada contra a Nação era um dos lemas do Salazar
Salazar não gostava de maçons, a maçonaria foi ilegalizada.
Agora nestes tempos de luzes perpétuas sob a orientação dos pedreiros afagadores das pedras vê-se como andamos e para onde vamos.Mas claro que o problema nem sequer é deles...pois que tanto lhes dá governarem os habituais piolhosos indígenas como uns recem chegados das Áfricas ou dos Bangaldeshe´s...and so on...
Um dia nem se admirem de haver mais uma loja que se dedique a demonstrar o amor à maçonaria como o fizeram os republicanos espanhóis aos padres na guerra civil:de um faziam dois
É que quando a malta atingir o 80 acontecem milagres...
para quê tanta treta por causa de uma organização que na realidade não passa de uma desculpa para tráfico de influências, de uma máfia que procura o beneficio mútuo?
as argumentações filosoficas, doutrinarias da maçonaria ninguém as leva a sério.
Um católico, um cristão pode fazer parte de uma associação mafiosa?
obviamente não.
Passe a publicidade, a maçonaria é isto:
http://www.cocanha.com/os-beija-cus-uma-tema-tematica-sempre-actual/
Assim:
http://www.cocanha.com/os-beija-cus-uma-tematica-sempre-actual/
Ahah.
Bem como disse nuns posts há dois ramos na Maçonaria.
O ramo que a Zazie cita no post dos beija-cus é aquele que os sionistas gostam muito.
Mas há o ramo Cristão esotérico, que abomina os judeus.
Ambas as facções são incompatíveis.
Pois, mas eu nem falei em judeus- falei em beija-cus.
E, quanto a isso, meu caro, todos se dobram e beijam o demo. Até o preboste-juiz.
Os gnósticos, aliás, gtal como os neo-platónicos, são a via que vai dar o ateísmo.
E os maçons vêm de muita coisa, a começar pega cagotaria.
O ânus tem implicações de cariz esotérico/ocultista. Daí aqueles rituais que a Zazie coloca naquele excelente verbete.
Mas há duas vias esotéricas. A da Mão Esquerda e a da Mão Direita. E estas vias existem dentro da Igreja, do Budismo ou da Maçonaria.
A Via da Mão Direita defende que os iniciados devem ser «puros», portanto pureza implica celibato.
Uma das regras máximas dos Cristão Gnósticos é esta:
«The All Is Dual» (Hermes Trimegisto)
Os Cristão Gnósticos da Via da Mão Direita não praticam rituais que envolvam dar beijos num rabo ou outras coisas mais... fiquemos por aqui. Aliás abominam tudo isso. Para o Cristão Gnóstico a elevação da alma faz-se pelo celibato, pela união dos apostos, ou seja, pela união com o sexo oposto pelo amor, pelas boas obras, pelo amor desinteressado, pelo perdão. Muitos até são vegetarianos, pois consideram que assim são mais puros. Dizem que seguem a tradição dos Essénios, pureza do corpo e da alma.
Na Via da Mão Esquerda está metida a judiaria.
Da Maçonaria que não interessa muito saíram até três homens mui curiosos:
- O Fundador dos Mórmons;
- O Fundador das Testemunhas de Jeová;
- O Fundador da Cientologia.
Deus é o Homem de outro Deus maior:
Adam Supremo, também teve Queda;
Também, como foi nosso Criador,
Foi criado, e a Verdade lhe morreu...
De Além o Abismo, Sprito Seu, Lha veda;
Aquém não há no Mundo, Corpo Seu.
Fernando Pessoa
Para os Gnósticos há o Demiurgo, e outro Deus maior, a grande Mente.
«The All is Mental» (Hermes Trimegisto)
E não estou a dizer nada de novo.
Os Cátaros seguiam esta tradição gnóstica, como os Templários, os Albigenses, os Nestorianos, etc.
Portanto, quero deixar exposto que não há uma única Maçonaria, há duas fortes facções antagónicas que se odeiam.
E o papel da Maçonaria Portuguesa na questão do aborto ou do casamento bicha vai contra todos os princípios maçonicos. Ainda não percebi que raio de Maçonaria há em Portugal.
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