28 fevereiro 2013

leis universais

... que descrevem a realidade mas não necessitam de validação empírica (no sentido Popperiano se quisermos), mas assentam na natureza da acção humana: o homem escolhe fins ("objectivos" valorizados subjectivamente por ordenação não por mensuração) e meios para os alcançar perante recursos escassos (o que inclui o tempo). Preferimos mais a menos (ainda que com utilidade decrescente), ou o mesmo mas com menos, e o antes do que depois.

Dentro desta realidade (da acção humana com um propósito) podem-se produzir outros encadeamentos de verdades (descrevem a realidade), mas sem carácter determinístico-mensurável, e sem carecerem do método das ciências naturais.

Lei da utilidade marginal: "Sempre que a oferta de um bem aumenta em uma unidade, contanto que cada unidade seja considerada idêntica em utilidade por uma pessoa, o valor agregado a esta unidade adicional diminui. Pois esta unidade adicional só pode ser empregada como um meio para alcançar um objetivo que é considerado de menor valor do que o objetivo menos valorizado alcançado por uma unidade deste bem se a oferta fosse reduzida em uma unidade."

Lei da associação de ricardiana "Entre dois produtores, se "A" é mais eficiente do que "B" na produção de dois tipos de bens, eles ainda podem participar de uma divisão de trabalho mutuamente benéfica. Isto porque a produtividade física geral é maior se "A" se especializa na produção de um bem que ele possa produzir mais eficientemente, ao invés de "A" e "B" produzirem ambos os bens autônoma e separadamente."

[Nota: esta lei da associação explica quase só por si porque a cooperação social se dá, porque as pessoas o reconhecem como verdadeiro, útil e moral e assim... trocam, e se trocam voluntariamente por definição ambos beneficiam ex-ante, não há soma nula]

Este tipo de acepções são muito diferentes de pretendermos determinar leis empíricas do género: Rendimento= m * Investimento, que pressupõe determinação de variáveis independentes, medida, agregação e alguma forma de determinismo, e ainda temos de acrescentar ter de assumir que o conhecimento desta nova "lei" não alterar o futuro (o que lhe retiraria o carácter "universal").

Como pode então o empirismo produzir leis universais? não pode. Quando os empiristas realizam isto, não sem antes tentarem dar muita luta, passam para o outro patamar: não há leis universais. E pronto, lá se vai outra vez a verdade. Não há verdades, etc e tal.

14 comentários:

Harry Lime disse...

Algo me diz que isto tudo vai desaguar ao padrão ouro e aos maleficios do dinheiro de papel....


Rui Silva

Harry Lime disse...

Do ponto de vista epistemologico, O CN confunde o conceito de experiência conceptual (usado nas ciencias fisicas desde Galileu) com o que ele designa por Leis universais.

Exemplo: "Qualquer corpo que não esteja sujeito a qualquer força ou está em repouso ou em movimento uniforme" (Primeira Lei de Newton). Ora quem saiba um pouco de fisica sabe que em ponto algum do universo um corpo pode estar sem estar sujeito a forças.

Outro exemplo, é a das leis da relatividade de Einstein (que têm como bases uma serie de experiencias mentais que implicam movimento a velocidades perto ou à velocidade da Luz).

Ora, o cientista "distraido" pode confundir estas teorias (resultado de experiencias mentais) com "principios" e leis absolutas.

E no entanto, estas são tão falsificaveis (no sentido popperniano do termo) como as teorias baeadas em experiencias "reais" (ou "leis empiricas" segundo o CN).

Aliás, a teoria da relatividade de Eisntien é confirmada (ou melhor não-falsificada) todos os dias nos aceleradores de particulas no CERN ou no Fermi Lab.

Rui Silva

Harry Lime disse...


Ora eu vejo as leis da economia que o CN enuncia à mesma luz. aliás, um dos aspectos mais fascinantes (e traiçoeiros) da economia é que se baseia em larga medida em experiencias mentais 8muito mais do que as ciências naturais que só as usam em casos limite).

Mas significa isto que estas leis universais não são "falsificaveis"? De forma alguma!

Quem sabe se um dia não é criado o equivalente de um Fermi Lab económico que permita verificar (ou não) estas leis imutaveis?

Não haverá condições limite em que tais leis não se verifiquem?

Não sei,... tudo o que sabemos, no caso da economia bem como no caso da fisica, é que até hoje estas leis imutaveis nunca foram falsificados.

Rui Silva

Harry Lime disse...

Hey, o Karl Popper também era austriaco! :):):):

Rui Silva

Harry Lime disse...

Aliás, estes laboratorios económicos existem: basta ler literatura relacionada com economia comportamental.

Daniel Kashnemenn e Amos Tversky, entre outros, descrevem experiências em que estas leis econósmicas alegadamente imutaveis são testadas a toda a hora (com resultados interessantes, diga-se de passagem). Algumas mantêm-se de pé outras... bem... caem sob o peso da experiência :):):)

Ou então nem é preciso ir mais longe. Basta ler o Mestre: John Maynard Keynes. :):):)

Rui Silva

Francisco disse...

"Preferimos mais a menos (ainda que com utilidade decrescente), ou o mesmo mas com menos, e o antes do que depois."

Qual é exactamente a diferença entre isto e Rational Choice Theory? (Exceptuando que uma honestamente se assume como um modelo, e a outra arrogantemente se assume como uma verdade universal).

Outra pergunta: O CN não acha questionável e falsificável a ideia de que toda a acção humana é racional?

muja disse...

O CN é teimoso.

Eu já estou fartinho de lhe apontar que a primeira lei que ele apontou não é universal porque parte de um pressuposto (que nem sequer é mais provável que outro qualquer. Está lá apenas porque torna a afirmação válida).

Exactamente como a 1a lei de Newton, como referiu o Rui Silva muito bem. Aliás, tudo o que escreveu é muito bem escrito.

Eu diria apenas que esses laboratórios podem também ser simulações computacionais, porque está-se a atingir o ponto em que há meios para o fazer.

Ricciardi disse...

Oh, vc, desculpe lá, mas está a isolar leis e pressupor que elas são verdadeiras independentemente do contexto. A lei da oferta que referiu é válida se e só se outras variáveis (humanas) foram constantes (ceteris paribus). Portanto, nunca é válida. Se aumentar a oferta e o rendimento das pessoas tambem baixar, o preço não desce, obviamente. Não é uma lei universal, é apenas um dedução lógica em determinadas condições. Isolar essa dedução e fazer crer que é uma lei universal é desonesto porque ela não funciona per si, mas sim enquadrada numa montanha de variaveis e excepções.
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Olhe dou-lhe outras excepções:
- O preço do pão
- O preço dos cuidados de saúde essenciais
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Quer um produto, quer outro serviço, são imunes à lei da oferta e da procura. Até a contrariam. É a chamada elasticidade ou ineslaticidade. Se o preço de uma operação ao coração aumentar, a procura mantem-se estavel até um certo ponto, independentemente do preço.
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Mas há outros exemplos e factores que podia referir, nomeadamente, por exemplo, a não existencia de um SMN faz aumentar fortemente o consumo de pães em paises menos desenvolvidos. Isso foi testado num estado Americano, cujo nome me escapa.
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Rb

CN disse...

Meus caros

Acham portanto que o espírito humano é um mecanismo, testável, repetível, de preferências estáveis, mensuráveis, etc.

Devem conhecer humanos diferentes dos que eu conheço.

zazie disse...

O CN não sabe o que diz.

É pena mas é esta a constatação a que cheguei.

Ele nem percebe que essa divisão entre empirismo e racionalismo é apenas uma divisão conceptual acerca da origem dos conceitos.

Porque, em usando hipóteses para algo de concreto- para as aplicar à realidade concreta e chegar ao ponto de encontrar uma constante - uma lei- não existe uma única que seja feita sem verificação experimental.

E o Popper não disse nada disso.

O CN também não sabe a que se referia o Popper ao falar em verificação experimental ou ao contrariar a validade universal da indução.

zazie disse...

O Bacano do Harry disse isso primeiro.

É não-falsificada. isso é que é conceito de Popper.

Se não podemos invalidar, na prática, então, é provável que se mantenha como hipótese certa- não invalidada.

Tudo isto é aplicação experimental e o empirismo apenas diz que a principal fonte de formação de conceitos é a experiência.

O racionalismo diz o oposto- que é a razão- mas, se tiver de os aplicar à prática, não pode dizer que é assim porque sim.

Ora, pelas imbecilidades que eu li desse toino do Rothbard, ele diz que sim, porque sim.

De forma completamente primária que até custa a acreditar que academicamente o tenham admitido onde quer que fosse.

CN disse...

Zazie

Não se pode aplicar o empirismo (matemático-estatístico) ao homem. Isso leva ao relativismo e às não verdades. Se perceber isto pode começar a perceber o resto.

Os Popperianos querem estender o seu critério científico ao homem. E isso é impossível e se o fosse, teria as mais graves consequências para a sua natureza.

CN disse...

Quanto à ligação entre a razão e a realidade ver o restante.

zazie disse...

Até aí, de acordo, CN. Estava a dizer isso ao Harry no outro post.